O ginásio de uma escola ainda serve como moradia para quatro famílias de Roca Sales, seis meses após a enchente que atingiu o Vale do Taquari. Na quadra que antes servia para a prática de esportes, tapumes de madeira compensada foram colocados para garantir o mínimo de privacidade aos abrigados.
Dispostos nas laterais da quadra, cada espaço conta com lençol pendurado, que exerce a função de porta. Nos fundos do ginásio, área coberta serve como lavanderia, junto das casinhas improvisadas para abrigar os cachorros das famílias. O banheiro é compartilhado.
— A gente sai do serviço cansado, a gente chega aqui e não é a mesma coisa de estar na sua casa, não tem a mesma liberdade. Tu estás com outras famílias, tem regras, tem normas e tem respeito — contou Climar André Rodrigues, que trabalha em um frigorífico.
Da porta principal do ginásio, é possível enxergar o terreno onde estão sendo construídas as 20 moradias temporárias aos desabrigados. O aposentado Jacob Lauri Alves, 67 anos, chegou a morar no ginásio, mas conseguiu uma casa de madeira para viver com a esposa no aluguel social até ir para a casa temporária.
A casa de dois pisos onde eles viviam antes da enchente foi destruída. Reconstruir é inviável para Jacob, que recebe um salário mínimo de aposentadoria e usa parte do dinheiro para pagar um empréstimo feito em 2020, também para recuperar a casa após uma enchente.
— Agora eu tive de fazer outro (empréstimo), porque eu perdi tudo de novo. Perdi a casa e saí só com a roupa do corpo. O dinheiro que entra vai para o empréstimo — desabafou o aposentado, que afirma pedir cestas básicas apenas quando não consegue comprar com recursos próprios.
Cidade ainda tem sinais de destruição
Na área central de Roca Sales ainda é possível encontrar vegetação espalhada pelas ruas. Pedaços grandes de árvore, agora secos, se misturam em postes e permanecem até dentro de estruturas que foram condenadas.
Na Avenida General Daltro Filho, a principal do município que tem pouco mais de 10 mil habitantes, o rasgo no asfalto que dividiu a cidade em duas partes foi parcialmente recuperado.
Pelo Centro, o comércio busca se restabelecer com adaptações. Dono de uma loja de materiais de construção, Walmir Conzatti conta que pensou em desistir do negócio. Motivado por ajudar a cidade se reerguer, decidiu manter a empresa aberta:
— Se todos pensarem em sair daqui, Roca Sales vai desaparecer. Vejo que o ânimo das pessoas vai mudando dia a dia. Hoje muitas lojas retornaram, outras não retornaram ainda, mas eu acredito que mais seis meses, se Deus nos der a graça de não dar novas enchentes, Roca Sales vai mudar bastante ainda.
Agora, a ideia de Conzatti é executar obra no mesmo local. Na loja, um novo pavimento deve ser construído acima do nível máximo que o rio chegou. Se houver possibilidade de nova enchente, o material será colocado neste espaço, explica ele. No depósito, um mezanino será construído para abrigar os produtos e evitar perdas:
— A gente precisa se acostumar com a enchente.
Anúncios no município
A prefeitura de Roca Sales anunciou, na última semana, que o município foi contemplado com 11 residências dentro do programa Minha Casa Minha Vida Rural. O Executivo afirma que ainda trabalha para viabilizar mais 330 casas urbanas por meio de recursos federais.