Ming Jian Fon desembarcou no Brasil no final da década de 1950, vindo da China em busca de uma vida melhor. No começo, precisou reunir recursos para trazer a esposa e a filha, que desembarcaram de um navio cargueiro em Maceió. O próximo passo foi erguer uma casa. Uma pia de concreto no quintal da nova residência registra até hoje a data de conclusão da obra: 1969.
A casa azul de dois pisos construída pela família chinesa em uma esquina do bairro do Pinheiro hoje está fechada por tijolos. Ela é um dos 14.543 imóveis listados pelas autoridades e pela Braskem como potencialmente de risco e cujos proprietários tiveram que ser realocados.
Ming Jian Fon faleceu aos 77 anos em 2012 e não viveu para testemunhar o terremoto de Maceió. Porém, com nove filhos de dois casamentos, os herdeiros aguardam apenas a finalização do inventário para receberam o pagamento da indenização, já aceita pelos últimos moradores da casa azul.
— Foi muito difícil deixar a casa, tive dois problemas de pele em razão do emocional — diz um dos nove filhos Shu Peng Fon, jornalista de 24 anos.
Shu Peng residiu 14 anos na casa. Ao lado de duas irmãs — de 27 e 37 anos — e mais uma tia de 50 anos, diz que foi bem atendido pela Braskem, que se prontificou a oferecer inclusive vacinas e castração aos três cachorros da família. Sem expectativa de concluir o inventário, Shu Peng se diz preocupado com o futuro do aluguel social de R$ 1 mil que recebe da Braskem, usados em um bairro mais distante.
— Jatiúca é um bairro mais caro, houve um boom imobiliário, o IPTU subiu — relata.
Avaliação abaixo do esperado
Antônio e Poliana se casaram em 2014. Ela herdou uma casa da mãe no bairro do Pinheiro. Juntos, o casal deu início ao sonho de uma ampla reforma no imóvel para deixar "como eles queriam", obra que durou dois anos. O bairro do Pinheiro oferecia escolinha para a filha — nascida em 2015 — e o trabalho em um hospital ao servidor público Antônio Thaywan de Oliveira, 34 anos. Tudo estava perto de casa.
— Projetamos a nossa vida no Pinheiro — resume Antônio.
Em fevereiro de 2021, a família teve que se mudar. Entre o momento em que os agentes da defesa civil bateram na porta de Antônio e Poliana até a indenização, passou-se um ano e sete meses. Nesse meio tempo, a filha começou a perder cabelos em razão do estresse, e a família sucumbiu à ansiedade.
— Eu disse que o valor que eles mandassem (a Braskem) eu vou aceitar, porque não aguento mais. A minha filha tava passando por todo aquele processo, a minha esposa tava mal pra caramba também — lamenta Antônio.
A casa verde de dois pisos e portões brancos custava R$ 510 mil para Antônio. Para a Braskem, o imóvel custava R$ 460 mil, incluindo dano moral e lucro cessante, pelo funcionamento de uma pequena creche no local. O valor ofertado foi aceito rapidamente por Antônio e Poliana. O casal, hoje, reside a sete quilômetros de distância, no bairro do Feitosa.