A primeira impressão que se tem ao circular pelas ruas desertas de bairros esvaziados pelo iminente colapso de uma mina de sal-gema em Maceió (AL) se encaixa em vários clichês possíveis. Lembra um misto de ficção e realidade como a de Pripyat, a cidade ucraniana esvaziada às pressas em razão da tragédia de Chernobyl. Nos últimos cinco anos, cerca de 60 mil pessoas — uma São Borja inteira — tiveram que deixar para trás suas casas, estabelecimentos comerciais, deixar de frequentar a igreja ou de levar os filhos para a escola.
Na manhã desta segunda-feira (4), a reportagem circulou pela Rua Miguel Palmeira, no bairro Pinheiro, onde paira a indignação com a crise provocada pela exploração do minério. Na semana passada, moradores dos últimos 23 imóveis do bairro em área de risco foram obrigados — por força da Justiça e sob acompanhamento de policiais federais — a sair de casa. Mas um local resistiu: a Igreja Batista Pinheiro, que celebrou, na manhã de domingo (3), o seu último culto, após 53 anos de história.
— A nossa relutância não é anticientífica. A gente resiste com base em laudos técnicos de um geológo que serve como assessor do Serviço Geológico do Brasil. Não confiamos nos laudos da Braskem (operadora da mina explorada) — diz o pastor Wellington Santos, líder do local há 30 anos.
A mesma incerteza sobre os movimentos da terra alimenta teorias de ordem econômica. Com uma localização privilegiada entre a bela Lagoa do Mundaú e a orla de Maceió, moradores do Pinheiro questionam a futura especulação imobiliária em caso de estabilização do solo. Hoje, os imóveis desapropriados pertencem à Braskem.
Enquanto isso, ruas dos bairros Muntage, Farol, Bebedouro e Bom Parto também lembram jazigos de um cemitério descuidado. Fachadas de casas já não ostentam mais seus números. Portas e janelas seladas por tijolos nos últimos cinco anos lembram sepulturas, algumas já violadas.