A incerteza sobre o impacto do iminente afundamento de uma mina em Maceió (AL) ganha a cada dia contornos mais dramáticos para moradores das áreas potencialmente impactadas e gera um interesse social, econômico e técnico que já extrapola os limites alagoanos. Na tentativa de compreender as causas e, sobretudo, o comportamento da movimentação de uma montanha de terra e água, geólogos de outros Estados estão desembarcando em Maceió.
Neste domingo (3), um grupo de técnicos ligados ao Departamento de Recursos Minerais (DRM) - órgão do Estado do Rio de Janeiro - desembarcou na capital alagoana. Entre eles, dois gaúchos. A visita sem prazo para fim ocorre a pedido do governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, correligionário do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL)
— Ano passado, atuamos na questão de Petrópolis, onde tivemos uma das maiores tragédias urbanas, com 241 mortes. O órgão tem essa especialidade e viemos ajudar — diz o presidente do DRM-RJ, Luiz Claudio Almeida Magalhães.
A empresa Braskem, responsável pela extração de sal-gema que culminou com a instabilidade no solo, afetando cinco bairros de Maceió, vem reiteradamente divulgando relatórios sobre os trabalhos de contenção. Neste sábado (2), a companhia publicou nota reforçando que "das 35 cavidades (que estavam em exploração), nove receberam a recomendação de preenchimento com areia. Destas, cinco tiveram o preenchimento concluído, em outras três os trabalhos estão em andamento e uma já está pressurizada, indicando não ser mais necessário o preenchimento com areia."
— Precisamos ainda entender qual a ampliação dessas cavidades que foram aparecendo. Ver se o sal que foi explorado extrapola muito a área que foi definida como de risco — avalia o diretor de geologia do Departamento de Recursos Minerais do RJ, geólogo Túlio Márcio.
Moradores resistem em sair
O possível colapso da mina de número 18, às margens da Lagoa Mundaú, resultou no esvaziamento de 14 mil imóveis desde 2018 em cinco bairros: Muntage, Pinheiro, Bebedouro, Bom Parto e Farol. Cerca de 60 mil pessoas foram obrigadas a abandonar casas e estabelecimentos comerciais. Traduzindo para a realidade gaúcha, seria como se moradores de todo o bairro Sarandi (59 mil pessoas) ou Restinga (51 mil pessoas) fossem deslocados. Mas muitos ainda seguem pelo caminho.
— Estou com muito medo. Esse afundamento não tem limite, nem hora para acontecer. Mas meu marido não está querendo sair, diz que quer morrer nessa casa — diz Francisca Pereira, de 77 anos, moradora do bairro Farol desde 1986.
Na tarde deste domingo, a Defesa Civil de Maceió atualizou dados sobre a movimentação do solo. Segundo a nota, o "deslocamento vertical acumulado da mina n° 18 é de 1,70m" e a velocidade de movimentação reduziu para 0,3 cm por hora". A terra afundou 7,4cm em 24h. Mais cedo, o deslocamento era maior, de 0,7cm por hora.