Ilhados com o transbordamento da parte baixa do Arroio Feijó, em direção ao Rio Gravataí, e sem luz há uma semana, moradores do bairro Americana, em Alvorada, na Região Metropolitana, ainda acumulam prejuízos causados pela enchente que atingiu o município. Além de móveis danificados, a população vem perdendo alimentos nos últimos dias em razão da falta de energia elétrica. Em visita à região, a reportagem avistou três carros submersos.
Novo levantamento da Defesa Civil municipal apontou que 1.027 famílias foram prejudicadas pelas chuvas. O número de pessoas atingidas chega a 4 mil. Além do bairro Americana, outros quatro bairros registram problemas que vão desde alagamentos a danos em residências, como Onze de abril, Cedro, Sumaré e Nova Americana. Doze pessoas estão abrigadas em um ginásio do município.
A assistente terapêutica Suelen Stein, 30 anos, mora em um dos pontos mais atingidos pela água. A moradora só conseguiu chegar na sua casa de barco, guiada por voluntários. Voluntária de uma organização sem fins lucrativos, a alvoradense cuida de 10 cães diariamente, mas, em razão das chuvas, só pôde abrigar quatro, enquanto entregou seis para amigos e pessoas de confiança.
— Eu contei com a ajuda dos voluntários para resgatar seis cachorros que estavam dentro de um terreno alagado. Eu faço parte do projeto Amor de Lata. São 10 no total, e quatro estão comigo. Não tinha como cuidar de tudo, é só ver a altura da água — afirmou.
Para auxiliar as pessoas que estão sem luz, membros da associação dos moradores do bairro Americana disponibilizaram barcos para levar os atingidos até suas casas. Um deles é Leandro Goulart, 48 anos, morador da Rua Marquês do Pombal, que também foi atingida pela enchente. Junto com vizinhos, ele vem ajudando quem foi mais afetado. Ele também não tem energia elétrica em casa e perdeu mantimentos.
— Estamos procurando colocar os alimentos em casas de parentes, porque estamos sem luz há sete dias e eles (a CEEE Equatorial) não deram nenhuma posição. O suporte é do pessoal aqui da volta, e a gente sempre auxilia quando chove. O pessoal é bem compreensivo com a situação e a gente faz de tudo para ajudar o próximo — relatou.
Segundo a CEEE Equatorial, em Alvorada, a rede de energia que atende aproximadamente 500 clientes foi desligada por solicitação da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, em razão da falta de segurança em área alagada. Equipes da concessionária visitaram a região na manhã desta quarta-feira (20) e constataram que o nível das águas segue elevado, não permitindo o religamento da rede.
Com a falta de luz, Luis Felipe Cardoso Lopes, 33 anos, morador da travessa Paranaguá, na divisa entre o bairro e Porto Alegre, teve que comprar caixas de gelo para armazenar os alimentos. Ele e a esposa se deslocam até uma padaria na mesma travessa, porém, em um ponto em que a água não chega, para carregar os celulares.
— Estamos comprando gelo para salvar o que temos e não conseguimos ter uma higiene 100% porque não conseguimos tomar banho direito nem levar as roupas — lamentou.
De acordo com a secretária de Comunicação Social e líder do Comitê de Apoio, Neusa Abruzzi, refeições estão sendo entregues aos moradores dos bairros afetados:
— Em relação aos alimentos em geladeira, não teríamos como abrigar. Eles estão levando para a casa de parentes. Estamos entregando marmitas todos os dias.
Em alguns pontos dos bairros Cedro e Nova Americana, por exemplo, o nível da água baixou e equipes da Defesa Civil estão entregando cestas básicas e materiais de limpeza.
— Nós só vamos atender quem realmente foi prejudicado pela chuva — pontuou Neusa.
Criminalidade é agravante que preocupa
Segundo os moradores, mesmo com a assistência das equipes da Defesa Civil e da prefeitura, há relatos de saques a residências das ruas mais atingidas. César Gimenes, 28, contou que a falta de monitoramento no período noturno facilita para que criminosos efetuem os assaltos.
— Se deixar as coisas sozinhas ali, eles levam. As pessoas entram de noite, saqueiam e levam. Não dá para deixar sozinho. Já teve caso aqui na segunda (18) e na terça (19) — contou.
Outras cidades afetadas
Região das Ilhas, em Porto Alegre
De acordo com a Fundação de Assistência Social (Fasc), nove moradores seguem fora de suas casas na Região das Ilhas. Entre os pontos mais afetados, está a Ilha da Pintada. As ruas Bananal, Martinho Poeta, Nossa Senhora da Boa Viagem e a Avenida Presidente Vargas estão com pontos de alagamento. Parte da população dessas localidades está isolada, por conta do nível do rio na região.
Segundo a última medição da Defesa Civil de Porto Alegre, o nível do Guaíba estava em 2m59cm. As unidades de saúde da Ilha da Pintada e Ilha do Pavão seguem fechadas. No entanto, o atendimento segue em funcionamento na unidade da Ilha dos Marinheiros.
Eldorado do Sul
No município de Eldorado do Sul, 42 pessoas permanecem desabrigadas ou desalojadas, por conta do volume de água que atinge o bairro Cidade Verde e a localidade da Vila da Paz. São cinco ruas que estão com casas alagadas e, segundo o coordenador da Defesa Civil, João Carlos Ferreira, a situação é considerada preocupante, pois o volume de água dos rios que influenciam na região não baixou.
— O nível da água não se alterou e seguimos auxiliando as famílias. Recebemos a visita da Defesa Civil regional e eles irão nos auxiliar com alimentos e outros mantimentos. É o terceiro dia e esse desgaste vai aumentando, mas estamos dando conta — ressaltou o coordenador da Defesa Civil de Eldorado do Sul.
Guaíba
Em Guaíba, também na Região Metropolitana, segundo a Defesa Civil, o nível da água do Guaíba estabilizou e nenhum morador teve que ser retirado de casa. Entretanto, os bairros Alvorada, Ipê, Passo Fundo e Primavera seguem com pontos de alagamento.
Apesar de não haver pessoas fora de casa, equipes seguem realizando trabalhos na região da Orla, devido ao volume de entulho vindo dos rios Jacuí, Caí e Das Antas, que influenciam na região. Cento e oitenta caçambas com resíduos foram retirados do trecho. Ainda serão realizadas ações nas praias da Florida e Alvorada, também afetadas pelo acúmulo de materiais vindos da água.