O Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS) firmou um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com um dos agenciadores identificados por contratar parte dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão em duas granjas produtoras de arroz em Uruguaiana, no dia 10 de março. O acordo contempla 14 obrigações destinadas a regularizar a atividade de contratação por parte do suspeito, que atua como recrutador de mão de obra na Fronteira Oeste.
O TAC também obriga ao pagamento de uma indenização por danos morais coletivos no valor de R$ 20 mil, cujos valores serão revertidos para projetos de erradicação do trabalho escravo na região. O TAC foi firmado pelo procurador do MPT em Uruguaiana Hermano Martins Domingues.
Pelo documento, o agenciador assume a obrigação de não aliciar trabalhadores, sejam eles locais ou oriundos de outras regiões ou Estados, com falsas promessas, de não agenciar trabalhadores para exploração em situação degradante, de custear despesas de transporte e acomodação aos contratados.
O homem também assume o compromisso de não empregar menores de 18 anos em serviços não recomendados, não empregar adolescentes dos 14 aos 16 anos a não ser na condição de aprendiz, e de acordo com as disposições da legislação brasileira.
Algumas das obrigações se estendem ao relacionamento entre o signatário do acordo e seus empregados. Entre elas, estão a obrigatoriedade de assinar regularmente a carteira de trabalho e de não a manter retida por mais de cinco dias úteis; o compromisso de fornecimento, manutenção e substituição de equipamentos de proteção; bem como o necessário treinamento para seu uso correto pelos trabalhadores.
As obrigações com relação aos equipamentos de trabalho incluem tópicos específicos para os casos de contratação de trabalhadores que apliquem agrotóxicos, como o fornecimento de vestimentas de proteção, responsabilizar-se pela descontaminação e manuseio do material e fornecer condições para banho e higiene após a jornada de trabalho.
O TAC também avança na investigação da cadeia produtiva ao exigir a apresentação de documentos fiscais e bancários relativos ao período de 1º/1/2022 até dia 15/3/2023. O descumprimento de qualquer uma das obrigações será passível de punição com multa de R$ 5 mil para cada item descumprido, acrescida de R$ 1 mil para cada trabalhador prejudicado.
O MPT, a Polícia Federal e a Gerência Regional do Trabalho de Uruguaiana seguem trabalhando para responsabilizar os demais aliciadores de mão de obra identificados, bem como os demais membros da cadeia produtiva (administradores de fazendas e empresa que gerenciava a safra).
Entenda o caso
Uma operação conjunta entre o MPT, o Ministério do Trabalho e Emprego e a PF em Uruguaiana resgatou, no dia 10 de março, 85 trabalhadores (11 deles adolescentes com idades entre 14 e 17 anos) em condições análogas à escravidão em duas fazendas de arroz no interior do município. Eles trabalhavam fazendo o corte manual do arroz vermelho e a aplicação manual de agrotóxicos, sem equipamentos de proteção.
O resgate foi realizado nas estâncias Santa Adelaide, onde foram encontrados 54 trabalhadores, e São Joaquim, de onde foram resgatados 31 trabalhadores, ambas em Uruguaiana. As duas propriedades eram produtoras terceirizadas que forneciam sementes para pesquisa a uma das maiores empresas químicas do mundo, a Basf.
Os resgatados, todos do sexo masculino, eram da própria região, de cidades como Itaqui, São Borja, Alegrete e Uruguaiana, e faziam o corte manual do arroz vermelho, gramínea parasita que precisa ser limpa manualmente antes da passagem da máquina colheitadeira. Além de jornadas extenuantes, os trabalhadores também não recebiam os apropriados equipamentos de proteção individual (EPI). No caso específico da Santa Adelaide, onde foi encontrada a maioria dos adolescentes (10 deles), os relatos dos resgatados também relataram vendas de drogas.