Aquilo que parecia uma sequência de acidentes que culminou em uma morte pode ter sido o desfecho de um episódio de intolerância política, em Salto do Jacuí, município de 12 mil habitantes na região norte do Rio Grande do Sul. Uma vereadora do PT, Cleres Revelante, diz que seu veículo foi abalroado na traseira por uma caminhonete conduzida pelo produtor rural Luiz Carlos Ottoni, simpatizante de Jair Bolsonaro.
O acidente aconteceu por volta das 17h dessa terça-feira (13), na principal avenida de Salto do Jacuí, a Pio XII. Cleres e uma assessora transitavam num Corolla quando o carro foi abalroado na traseira por uma Hilux, conduzida por Ottoni. Após a colisão, a vereadora chamou uma viatura da Brigada Militar (BM). Ottoni teria saído do local.
Minutos depois, a BM recebeu nova ligação, informando que a caminhonete do produtor rural sofrera uma capotagem num trecho de estrada não pavimentado, na RS-401, que leva a Cruz Alta, após o motorista perder o controle. Ottoni foi ejetado para fora do veículo e morreu no local. Ottoni era de uma tradicional família de pecuaristas da região.
Cleres, que é vereadora em segundo mandato — o primeiro foi pelo PDT — confirma que ela e Ottoni tinham desavenças há algum tempo. A política fala que o pecuarista mandava a ela mensagens privadas com piadas e provocações envolvendo Lula, assim como postagens nas redes sociais.
Por volta das 16h desta quarta-feira (14), a vereadora prestou depoimento na delegacia da cidade. Ela afirmou que entregará à Polícia Civil prints de conversas em redes sociais com mensagens que teriam sido enviadas a ela pelo produtor. Ela disse que era chamada de “petralha” e “pão com mortadela”.
— Ele (Ottoni) estava vindo atrás de mim. Primeiramente, escutei umas freadas, umas cantadas de pneu, mas não demos bola. Quando o carro que estava vindo atrás do meu ultrapassou, ele acelerou e bateu. Depois deu uma ré e fugiu em alta velocidade — afirma a vereadora.
O comandante regional da BM no noroeste do Estado, coronel Marcelo Carpes, afirma que, após a colisão, não houve perseguição da Brigada a Ottoni. O oficial assegura que a única viatura disponível estava envolvida no registro do primeiro acidente, ouvindo a vereadora Cleres, quando os policiais foram informados da capotagem e morte de Ottoni, por um telefonema.
A ocorrência da BM, à qual a reportagem teve acesso, informa que Ottoni "se evadiu do local" após o primeiro acidente.
A delegada regional da Polícia Civil na área de Salto do Jacuí, Diná Aroldi, afirma que irá investigar se há desavença política por trás da sequência de acidentes que culminou na morte de Ottoni. A primeira a ser ouvida será a vereadora Cleres.
— Vamos verificar se há elementos que liguem um fato a outro — pondera a delegada.
A reportagem não conseguiu localizar familiares de Ottoni.