A intolerância política, que vem em escala ascendente nos últimos meses, está, segundo as primeiras conclusões da polícia, na raiz de um crime que resultou na morte de uma pessoa, destruiu uma família e acendeu o sinal de alerta para o risco de situações do gênero se tornarem mais frequentes.
Aos fatos, segundo o boletim de ocorrência: o guarda municipal Marcelo Aloizio de Arruda comemorava seu aniversário de 50 anos em uma festa com temática petista, em Foz do Iguaçu, no Paraná, quando o policial penal federal Jorge da Rocha Guaranho chegou ao local e desceu do carro mandando parar e gritando “aqui é tudo Bolsonaro” e “mito, mito”.
Ainda segundo as testemunhas, Guaranho estava no carro com a mulher e um bebê. Depois de ameaçar os convidados, deixou o local dizendo que voltaria. Voltou cerca de vinte minutos depois, sozinho e armado. O boletim de ocorrência cita que Guaranho atirou duas vezes contra o guarda municipal, que revidou com sua arma funcional e baleou o policial penal. Arruda foi socorrido com vida, mas morreu no hospital; Guaranho teria supostamente morrido durante o atendimento médico. Entretanto, a polícia, horas depois, voltou atrás na informação e disse que ele está vivo e sob custódia.
A investigação e a perícia vão apurar detalhes do crime, mas todas as informações são de que o Guaranho tentou interromper uma festa particular, na Associação Esportiva Física Itaipu. Não era convidado e se achou no direito de interromper a festa, porque não era do seu gosto. Esse comportamento não difere muito dos que se acham no direito de “escolher” quem entra ou não entra numa cidade, como se fossem os donos do território.
O que ocorreu em Foz do Iguaçu não é um fato isolado. A campanha eleitoral ainda não começou, mas já são abundantes os sinais de que a intolerância está no ar. Não há outra definição para o que ocorreu em Minas, durante um evento do PT com o ex-prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, em que um drone soltou veneno e fezes sobre a plateia. Fato de natureza semelhante foi registrado na sexta-feira passada, durante ato político com a presença do ex-presidente Lula na Cinelândia, no Rio, em que um homem travestido de simpatizante explodiu uma bomba caseira de fezes. A obsessão pelas fezes diz muito sobre a natureza de quem não tolera a existência de adversários.
Para que a campanha não resulte em mais famílias enlutadas e não desemboque em uma guerra civil é preciso que os líderes políticos orientem sua tropa de choque a agir de forma civilizada. Mas é difícil esperar comportamento civilizado de quem se comporta no cotidiano de forma primitiva, achando que só está certo quem concorda com a sua opinião e que quem pensa diferente deve ser aniquilado.
O nazismo e o fascismo começaram com a intolerância misturada ao fanatismo. O Brasil democrático não precisa de mártires nem de refrões que não fazem sentido, como “morrer pela Pátria”, se não estamos em guerra. As forças de segurança terão de se preparar para uma campanha eleitoral que talvez seja a mais tensa do resto das nossas vidas.