Sobrevivente da boate Kiss e atual presidente da Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria, Gabriel Rovadoschi Barros, comentou na noite de quarta-feira (3), no programa Estúdio Gaúcha, sobre a anulação do julgamento que condenou os quatro réus do processo da boate Kiss e a soltura deles.
No julgamento desta quarta, dois dos três desembargadores da 1ª Câmara Criminal presentes na sessão votaram por reconhecer a nulidade da decisão. Gabriel salienta que, apesar de terem se preparado para a decisão do Tribunal de Justiça (TJ), a anulação foi recebida com um sentimento "tortuoso":
— Não gostaríamos que isso acontecesse, mas estava previsto. E cada um tentou lidar com isso da maneira que conseguiu, porque isso acaba ferindo muito a nossa própria dignidade, a nossa própria dor.
Um dos motivos da consternação, segundo o presidente da associação, é a impossibilidade do encerramento do caso, que se estende há quase 10 anos.
— E quando pensávamos que tínhamos uma garantia sobre o que de fato aconteceu, sobre o percurso jurídico que legitima a própria verdade dos fatos concretos que estão do nosso lado, ocorre essa reversão que nos joga de encontro com o fantasma da impunidade — afirma Gabriel.
Gabriel estava na boate Kiss, que pegou fogo e acabou matando 242 pessoas na noite de 27 de janeiro de 2013, é um dos sobreviventes da tragédia e conta que, desde então, busca um desfecho para essa história:
— Desde os meus 18 anos eu convivo com essa história na minha vida e tento buscar sentido, para entender, para ter um fechamento, para que justamente se tenha algum sentido sobre o que aconteceu aquela noite. E uma das vias para que o sentido aconteça é um fechamento no campo jurídico. É na legitimação de responsáveis do ocorrido.
Gabriel deixa claro que, apesar da decisão do TJ, a Associação dos Familiares de Vítimas da Tragédia de Santa Maria continuará trabalhando em busca da justiça:
— A associação vai seguir principalmente priorizando essa questão do recurso em instâncias superiores através do Ministério Público e nosso assistente de acusação que representa a associação. Também segue na luta da consolidação da memória coletiva na própria cidade de Santa Maria, viabilizando pensar sobre a questão do memorial.
Com a decisão do TJ, todos os quatro réus condenados — Elissandro Callegaro Spohr, Mauro Hoffmann, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão — foram postos em liberdade. Marcelo e Luciano, que estavam presos na penitenciária de São Vicente do Sul, foram liberados por volta de 20h. Spohr e Hoffmann, os sócios da boate, deixaram a Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) por volta das 23h.