Dirceu Hermeto Segatto tem 60 anos e há 40 mora em Linha Buriti, comunidade rural a 13 quilômetros de Santo Ângelo, nas Missões. Acostumado à tranquilidade do campo, Segatto se assustou na quarta-feira, quando cerca de 20 veículos congestionaram o estreito corredor que dá acesso à propriedade da família. O produtor sabia estar prestes a receber uma visita ilustre, mas não esperava tanta gente nos 25 hectares onde planta milho, pastagem e cria gado leiteiro e de corte. Em outra área vizinha, ele produz soja.
Nada disso, porém, foi visto pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, nos cerca de 40 minutos em que permaneceu no local. Cercada por jornalistas e acompanhada de técnicos ligados à pasta e de um séquito de parlamentares, Tereza Cristina mal conseguiu conversar com o anfitrião. Seu deslocamento pela propriedade se limitou a pouco mais de cem metros, da sede da fazenda a uma plantação de capim sudão castigada pela estiagem.
— Meu milho já perdi quase todo, vai dar 100%. Na soja, a quebra está em 50%. O leite também, pela metade. Eu tirava 900 litros por dia, agora tá em 400 — comenta Segatto.
O produtor comemorou a vinda da ministra ao Estado, mas lamentou a falta de um anúncio oficial de socorro. Com prejuízos estimados de R$ 15 mil ao mês — na região, as perdas chegam a R$ 800 mil por dia apenas na bacia leiteira — Segatto diz que a situação ainda vai piorar.
— Só aumenta a despesa e diminui a receita. A tendência é aumentar nossa quebra. Os problemas estão recém começando — sentencia.
Vizinho de Segatto, o produtor Nardeli Gebert Cassel enfrenta situação semelhante, mas em escala ainda maior. Com 170 hectares de milho, soja e leite, Cassel contabiliza perdas milionárias.
— Só no milho já perdi R$ 350 mil. A gente aproveita um pouco para silagem, mas é de baixa qualidade. Na soja do cedo, plantada entre outubro e novembro, não tem mais o que fazer, é irreversível. No resto não tem nem planta, sumiu tudo. E no leite minha produção caiu de 4,5 mil litros por dia para 2 mil — conta Cassel.
Após a visita à propriedade, Tereza Cristina se reuniu com centenas de lideranças do agronegócio. Mais uma vez, reiterou estar sensível às demandas dos produtores e disse que espera apresentar em breve medidas para amenizar os efeitos da estiagem. Somente em Santo Ângelo, as perdas já somam R$ 190 milhões, cifra semelhante aos R$ 230 milhões do orçamento do município para 2021.
— A gente já esperava que não houvesse uma ajuda imediata, mas pelo menos ela nos ouviu e recebeu um amplo diagnóstico da situação. O importante agora é suspender todos os financiamentos por 180 dias porque o produtor está sem renda — sustenta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no RS (Fetag), Carlos Joel da Silva.