A estiagem retirou Camila Faustino da Silva da rotina no campo. Nascida e criada em Barra do Braga, localidade a 18 quilômetros de Frederico Westphalen, Camila passou a vida inteira lidando no tambo e nas lavouras da família. Agora, aos 32 anos, pela primeira vez vai trabalhar fora, na tentativa de amenizar a queda na renda causada pela falta de chuva.
— Vou ser agente de saúde. Já comecei o treinamento e logo logo estarei atuando aqui na comunidade. Não tem outro jeito. É desesperador, porque a gente investe, tá muito caro para plantar, a gente não sabe se vai colher, se vai ter dinheiro para pagar as contas — desabafa Camila, sob um calor de 37ºC, às 10h.
No inverno, as 52 vacas da agricultora produziam em média 9 mil litros de leite por mês. No verão mais perverso dos últimos três anos, a média caiu para 4 mil litros mensais. Com as pastagens queimadas pelo sol, o gado come menos, perde peso e reduz os índices de prenhez, numa espiral de prejuízos que espalha pelos sete hectares da propriedade da família.
No início de janeiro, o marido de Camila, Jaime Vedovato, aproveitou dois dias seguidos de chuva, uma raridade na região, e plantou milho em 2,5 hectares. Os 50 milímetros que caíram do céu fizeram as plantas germinaram, mas foram insuficientes para o resto.
— Está tudo morrendo. É o terceiro ano seguido de seca e, olha, estamos remando para não quebrar. Eu nem penso muito nisso, senão fico doente — diz Vedovato.
A água que falta no pasto é escassa também na casa. Camila e cinco vizinhos são abastecidos por uma caixa d’água de 10 mil litros. A reposição é feita toda quarta-feira pela prefeitura, mas, desde ano o final do ano passado, a água dura apenas quatro dias. Os outros três dias são de torneira seca na vizinhança.
— Eu busco água na minha mãe aqui perto, encho baldes e garrafas, para poder cozinhar e tomar banho. O gado está bebendo água duma fonte que tem lá pra baixo. Botamos uma bomba e estamos puxando. É o que dá pra fazer — conforma-se.
Emendando uma estiagem na outra há três anos, Frederico Westphalen convive com ameaça de racionamento. A rede de água da cidade e dos municípios vizinhos de Vicente Dutra e Caiçara era mantida pelo Rio Pardo, mas não há mais vazão suficiente.
Para manter o fornecimento, desde o início do segundo semestre do ano passado, a Corsan puxa água do Rio Fortaleza, em Seberi. Ao todo, 300 famílias de 16 localidades precisam de assistência semanal de caminhões-pipa. São 110 cargas por mês, distribuindo um milhão de litros no período. Além disso, três escavadeiras percorrem o Interior limpando bebedouros e cavando açudes.
— O meu telefone não para. Nem na missa estou indo mais de tanto pedido que recebo — diz o secretário municipal de Agricultura, Gildo Busatto.