Esta reportagem foi produzida por Mariah Coelho Coi, aluna de Jornalismo na UFPel e finalista da edição 2021 do projeto Primeira Pauta RBS, uma iniciativa do Grupo RBS.
O período em que a menstruação "desce" para a maioria das mulheres leva a alterações comuns na rotina, mas para a parcela da população que vive em situação de vulnerabilidade significa dias de desconforto e até mesmo vergonha. A realidade de meninas e mulheres usando jornais, papel higiênico e outras formas improvisadas para conter a perda de sangue só passou a ganhar protagonismo no debate público neste ano, com a repercussão que o assunto gerou nas redes sociais. Em Pelotas, Zona Sul do Estado, a indignação com o tema virou mobilização da sociedade.
Chamada de "Eu menstruo", a campanha reúne mais de 40 pontos de coleta de absorvente pela cidade. São mercados, farmácias, repartições públicas e pontos de alta movimentação no município, com placas e orientações estimulando a população a ajudar.
Não existe estimativa de quantas pessoas vivem a chamada pobreza menstrual em Pelotas, mas a necessidade de uma campanha foi vista pelo aumento da procura de serviços de assistência social na pandemia.
— Muitas vezes é difícil ter acesso a um alimento, que dirá a um absorvente — declara a diretora da Secretaria Municipal de Assistência Social, Paola Fernandes.
Engana-se quem pensa que só pessoas em extrema pobreza vivem essa realidade: mesmo quem tem renda fixa enfrenta dificuldade em comprar absorventes. É o caso da pensionista Zélia Janete, 53 anos. Mãe de cinco filhas, ela já viveu situações em que faltou dinheiro para o produto de higiene, o que levou as meninas a ficarem em casa.
— É um projeto que tem que vingar, porque muitas mães não têm condições — comenta.
Sem absorvente, jovens faltam à escola
Na educação, a pobreza menstrual é motivo para a diminuição da frequência escolar. Um estudo da ONU aponta que a realidade no Brasil é preocupante: uma entre quatro estudantes já deixou de ir à escola por não ter como conter o fluxo.
Moradora do bairro Fragata, em Pelotas, Fernanda Lima lembra com tristeza das vezes que deixou de ir à aula por estar em período menstrual. Ela é uma das tantas jovens que usaram papel higiênico pela falta de dinheiro para a compra de absorventes:
— É uma vergonha chegar a esse ponto. Quando acontece no colégio, a gente não sabe o que fazer.
A diretora da Escola Municipal Antônio Joaquim Dias, Michele Fersula, conta que o colégio de Pelotas passou a oferecer absorventes após pedidos de alunas que não tinham o produto:
— Essas discussões hoje (que ganharam força na internet) servem para que a gente tenha esse olhar mais atento.
Os kits com absorventes e álcool gel serão distribuídos a partir do dia 20 de novembro, durante os 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres. Ainda não há estimativa de quantas pessoas serão auxiliadas. A iniciativa partiu da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a prefeitura municipal.
Na Assembleia Legislativa, um projeto de lei ainda tramita na Comissão de Constituição e Justiça, propondo a distribuição de absorventes em escolas e postos de saúde.