Esta reportagem foi produzida por Maria Eduarda Bastos de Brito, aluna de Jornalismo na PUCRS e finalista da edição 2021 do projeto Primeira Pauta RBS, uma iniciativa do Grupo RBS.
Durante tempos difíceis de pandemia, quando mais de 600 mil vidas foram perdidas no Brasil, reencontrar a felicidade se tornou um desafio árduo. A situação pode ser ainda mais complexa para quem está envolvido no ambiente hospitalar. Com o objetivo de melhorar a realidade de pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde em Porto Alegre, a ONG Doutorzinhos, que completou 15 anos em 2021, inovou o método empregado para continuar levando alegria às pessoas.
Fundador e coordenador artístico da organização, Mauricio Bagarollo, o Doutor Zinho, acredita que o maior dilema frente ao coronavírus foi sair de um ambiente com muito a explorar para trabalhar dentro de uma tela de celular:
— Estruturamos um curso de atuação virtual para os nossos voluntários e focamos nos profissionais da saúde, que estavam precisando da gente mais que os pacientes. Dava para ver o desespero.
Segundo a Associação Paulista de Medicina, em pesquisa realizada entre 2020 e 2021, 92,1% dos entrevistados relataram que onde trabalham há colegas com propensão a quadros de exaustão e sobrecarga. Tais sintomas podem levar à Síndrome de Burnout.
Atendendo em 12 hospitais na capital gaúcha, voluntários vestidos de palhaço com jaleco branco procuram humanizar o atendimento. A ausência deles pelos corredores dos estabelecimentos deixou o clima, que já era pesado, ainda mais frio. Isabel Rossato, da área de Educação Física do Hospital de Clínicas, é responsável por fazer a ligação entre paciente e colaborador no formato remoto.
— Com a presença do Doutorzinhos, quem está trabalhando tem um respiro e é envolvido em um momento lúdico — afirma.
Já para a voluntária e fisioterapeuta Ana Carla Trombini, ou Doutora Zia, o modelo presencial é único:
— A gente tem o aproveitamento de alguns recursos da internet, mas nada é como o olho no olho.
Conforme o Relatório Anual de 2020 da Doutorzinhos, somente 55% dos recursos necessários ao projeto foram captados no ano. Mesmo assim, eles precisavam continuar com o trabalho, pois percebiam a exaustão dos funcionários e a solidão dos enfermos, esses descritos por Bagarollo como crianças "de zero a 150 anos".
Algumas instituições já liberaram a visita presencial. Para o próximo ano, além de voltar com os treinamentos de palhaço, a expectativa não poderia ser diferente: resgatar a essência do próximo com o toque físico, enxergando o brilho no olhar.
"Rir é um ato de resistência", dizia o humorista Paulo Gustavo, que morreu em maio, vítima da covid-19. Doutor Zinho acredita que todos os que enfrentaram a pandemia procurando motivos para sorrir já são resistentes. Para ele, incorporar o nariz vermelho foi essencial nestes dois últimos anos.
— Você faz de si mesmo uma nova pessoa para transformar a vida do outro — resume o palhaço.