Esta reportagem foi produzida por Bruna Rodrigues de Oliveira, aluna de Jornalismo na Unisc e finalista da edição 2021 do projeto Primeira Pauta RBS, uma iniciativa do Grupo RBS.
A nutricionista Tânia Manske, 50 anos, sofre há mais de três décadas de mielopatia genética, uma doença grave na medula que provoca a perda dos movimentos do corpo. Desde 2015, a gaúcha de Santa Cruz do Sul conta com o auxílio de uma cadeira especial para se locomover e de um colete ortopédico para estabilizar a coluna vertebral. Tânia está entre os cerca de mil gaúchos que já são beneficiados pela chamada tecnologia assistiva, ramo da ciência que visa criar inovações para facilitar a vida das pessoas com deficiência física e que tem o Rio Grande do Sul como uma referência no país.
— No início da minha doença, não havia recursos. Era tudo muito difícil. Com o passar dos anos, os aparelhos começaram a ser adaptados conforme a necessidade de cada pessoa. Fico muito feliz por isso. A evolução é muito grande comparada a 30 anos atrás — afirma a nutricionista.
Pessoas com deficiência física recorrem aos produtos desenvolvidos pela tecnologia assistiva para realizar atividades básicas do dia a dia, como se alimentar, escrever, segurar objetos ou se maquiar.
Uma das iniciativas que tornam o Estado referência nacional na área é a pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Segundo o professor de Design e Expansão Gráfica Fábio Pinto da Silva, a principal dificuldade hoje é a falta de investimento público no setor.
— O Rio Grande do Sul é muito forte na área de tecnologia assistiva, e a UFRGS é um polo bem reconhecido nacionalmente. A demanda no setor está em ascensão, mas infelizmente os investimentos públicos estão em declínio. Nos últimos anos, as pesquisas na área decorrem de iniciativas de professores e alunos e não de um programa governamental — alerta.
A tecnologia também é destaque no interior gaúcho, por meio da iniciativa privada. Um projeto criado em 2013 em Santa Cruz do Sul, pela empresa Mercur, produz cerca de 30 equipamentos e recursos para auxílio às pessoas com deficiência física ou com mobilidade reduzida — como idosos e pessoas que sofreram um AVC, por exemplo. As caixas de experimentação estão em 20 municípios do RS, mas os produtos podem ser adquiridos pelo site e entregues em todo o Brasil.
— É um mercado novo. Ainda há dificuldade de encontrar os produtos em razão de muitos serem importados e acabam se tornando muito caros, mas é uma área em ascensão. As vendas vêm aumentando muito e inclusive dobraram no mês de setembro — relata a analista de relacionamento da Mercur, Fabiani Spiegel.
Segundo a assessoria de imprensa da Mercur, a empresa "trabalha em processos de cocriação dos seus produtos e serviços, nos quais as pessoas são respeitadas e participam ativamente dos processos conforme seus interesses e disponibilidades, para um resultado de aprendizagem. A empresa faz com as pessoas, a fim de atender às necessidades reais que existem em suas vidas".
Alguns dos aparelhos são oferecidos à população de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS). Uma comissão avalia a disponibilidade dos itens e a necessidade deles.