A nova Escola de Sargentos do Exército (ESA) vai ficar em Recife (PE). A decisão foi comunicada pelo comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, esta noite, e replicada nas redes sociais pelo presidente da República, Jair Bolsonaro. A escolha representa o fim de um sonho acalentado pelos moradores de Santa Maria (RS), cidade que estava muito cotada para receber o empreendimento, estimado em R$ 1,2 bilhão.
O comandante tomou a decisão após a 339ª Reunião do Alto Comando (Race), onde a escolha da sede da ESA foi um dos assuntos do trimestre. O encontro discute pautas do interesse militar. Estavam no páreo Ponta Grossa (PR), Santa Maria (RS) e Recife (PE).
A nova ESA unificará o treinamento dos sargentos brasileiros, hoje formados em 13 unidades de ensino dispersas pelo país, uma das quais também se chama ESA e fica em Três Corações (MG). Os prefeitos desses municípios e os governadores dos Estados cotados para receber a escola foram avisados sobre a decisão em telefonema na noite desta quinta-feira.
A reunião do alto comando ocorre seis vezes ao ano. Participam do evento os 16 oficiais-generais mais graduados da força. É aí que se debate o planejamento estratégico da corporação, a execução orçamentária e as práticas administrativas da instituição.
A reportagem falou com três generais para saber o que levou a escolha por Recife. A decisão, segundo eles, foi geopolítica. O Exército decidiu desconcentrar unidades militares, cuja maioria hoje já está nas regiões Sul e Sudeste do país. O Nordeste não recebia um empreendimento militar há muito tempo.
— Há décadas que a presença militar não se adensa nessa ponta do país. Já Santa Maria, por exemplo, tem muitos quartéis, é a Capital dos Blindados na América do Sul. Os generais optaram por priorizar uma região mais carente de empreendimentos das Forças Armadas — explica o general Richard Nunes, comandante militar do Nordeste, em entrevista exclusiva a GZH.
Além disso, destaca Richard, há uma razão simbólica: Pernambuco é berço do Exército brasileiro, criado após a Batalha dos Guararapes, “na qual os holandeses foram expulsos por portugueses, índios e negros, unidos”.
O Comandante Militar do Sul, general Valério Stumpf, não quis comentar a escolha.
Fontes militares confidenciaram a GZH que os generais fizeram votação e a escolha recaiu sobre Recife, decisão acatada pelo comandante Paulo Sérgio. Não se sabe se ele a submeteu a Jair Bolsonaro, que gosta de opinar sobre assuntos militares, mas o presidente anunciou a decisão nas redes sociais antes dela ser comunicada oficialmente pelo Exército.
Para decidir, os generais se embasaram em exposição do general de divisão Joarez Alves Pereira Junior, do Departamento de Ensino do Exército, que inspecionou pessoalmente os três municípios cotados para abrigar a ESA.
Decisão surpreendeu o governador
A decisão pegou de surpresa tanto o governador Eduardo Leite quanto o prefeito santa-mariense, Jorge Pozzobom, ambos do PSDB. Os dois suspeitavam que a decisão estaria entre o Rio Grande do Sul e o Paraná, onde o presidente Bolsonaro foi muito bem votado – ao contrário de Pernambuco, governado por seus adversários. Mas, pelo visto, razões geográficas e estratégicas se impuseram.
Leite foi comunicado da decisão na noite desta quinta-feira pelo general de exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, comandante do Exército.
— A cidade de Santa Maria reunia todas as condições para receber o projeto e disputava a escolha com a mais absoluta qualidade técnica até a fase final de decisão. O comando do Exército agradeceu o empenho das autoridades e das instituições gaúchas durante todo o período de tratativas. O governo do Estado lamenta a decisão, porque o Rio Grande do Sul e a prefeitura de Santa Maria trabalharam muito para receber o projeto em solo gaúcho, mas deseja que o Exército alcance todos os seus objetivos com este projeto estratégico tão importante para as Forças Armadas brasileiras — afirmou Leite.
Recife
É uma capital, possui aeroporto internacional e grandes estruturas do Exército, como sede do Comando Militar do Nordeste e base aérea. A desvantagem apontada era o fato de ser uma metrópole, de trânsito difícil e poucas áreas desocupadas para treinamento. Tampouco está situada numa região estratégica, do ponto de vista geopolítico (até para compensar isso, acabou sendo contemplada).
Santa Maria
É a cidade brasileira com o segundo maior contingente militar, perdendo apenas para o Rio de Janeiro. É a Capital dos Blindados e tem posição estratégica no país (ao centro de um Estado que faz fronteira com Uruguai e Argentina). Tanta concentração de quartéis pode ter pesado contra, já que ela já é um polo militar. Conta com diversas universidades e hospitais, públicos e privados, inclusive um hospital militar. Além de uma base aérea e um aeroporto para jatos. A área oferecida para sediar a ESA já pertence ao Exército. Está longe da capital, o que pode ser considerada desvantagem.
Ponta Grossa
Possui importantes unidades militares, inclusive de blindados. Conta com aeroporto, com voos esporádicos. Está a menos de cem quilômetros da capital paranaense, onde existe outro aeroporto moderno. Dois são os maiores problemas. Um deles é que a área de 4,5 mil hectares oferecida à ESA não está disponível no momento. Ela pertence à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e lá moram famílias ligadas à agricultura familiar, que teriam de ser transferidas para um município vizinho. Além disso, a estrutura de atendimento médico é bem menor que a santa-mariense e não conta com hospital militar.