Na sexta-feira (27), a Associação de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) lançou uma nota comparando o incêndio da boate Kiss com a pandemia de coronavírus. De acordo com o texto, a tragédia de Santa Maria ocorreu porque não foram seguidas as indicações dos profissionais de interditar o lugar da festa, e o mesmo está acontecendo com quem defende o fim do isolamento social, contrariando as recomendações de especialistas da saúde para combater a doença.
"O incêndio em uma casa noturna em janeiro de 2013 na cidade de Santa Maria/RS ocorreu porque ela não foi interditada, e tinha indicação de profissionais para ter sido. Os interesses econômicos predominaram e o resultado foi a morte de 242 pessoas, centenas de sobreviventes lutando com as sequelas e familiares vivendo com o luto e com tristezas que mudaram suas vidas. Não queremos que isso se repita frente à pandemia de coronavírus", inicia a nota.
O texto segue pontuando o perigo de lotar hospitais e criticando a atitude de empresários da cidade que desejam voltar à rotina.
"Nós sabemos o que significa 'colapso dos serviços de saúde' porque nós vimos nossos filhos e filhas, familiares e amigos necessitarem de equipamentos de saúde que não estavam disponíveis pelo alto número de pessoas que precisaram ao mesmo tempo. Nós sabemos o que custa um desastre", diz.
Por fim, a nota ressalta o alto contágio da doença, pede para que se respeitem as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e parabeniza a prefeitura de Santa Maria, as universidades e os profissionais de saúde.
"Lidar com o luto é um assunto muito presente para nós. Não podemos evitar, mas podemos diminuir o impacto da doença na nossa cidade. É hora de agirmos para o bem de todos, é uma situação temporária, mas que precisa de ações de resguardo por mais tempo. Ainda não é hora de voltar à rotina", afirma.
Flavio da Sila, presidente da AVTSM, relembra que os familiares das vítimas foram culpados pelo recesso econômico em Santa Maria na época, logo após a tragédia.
— Isso nos faz lembrar o que aconteceu em 2013. Mais uma vez, a questão do lucro acima de tudo, principalmente acima da preservação da vida humana, se manifesta. Dizem que a cidade, o Estado e o país não podem parar porque vai falir o sistema econômico. Vamos salvar o sistema econômico e deixar as pessoas morrerem? — questiona.