A eleição para composição do Conselho Tutelar de Bagé foi suspensa nesta terça-feira (8), após denúncias de irregularidades envolvendo quatro dos cinco candidatos eleitos. O Ministério Público investiga possíveis casos de propaganda irregular, transporte de eleitores e abuso de poder político envolvendo a atual gestão municipal.
O prefeito de Bagé, Divaldo Lara (PTB), é irmão da candidata mais votada, Suzete Lara, eleita para o terceiro mandato consecutivo com 1.210 votos, quase o dobro do segundo colocado. Alvo de duas denúncias criminais por formação de quadrilha, desvio de verbas públicas, fraude à Lei de Licitações e crime de responsabilidade, Divaldo foi afastado do cargo por 180 dias e está impedido de frequentar as dependências da prefeitura e da Câmara de Vereadores.
Uma das peças sob análise na Promotoria da Infância e da Juventude e que embasa as suspeitas de abuso de poder político é um áudio enviado por Divaldo ao presidente da Câmara, Carlos Carneiro (PTB), popularmente conhecido na cidade como Esquerda Carneiro.
— Hoje foi um dia que nós mostramos para o PT a nossa força. Dos cinco conselheiros, quatro nós elegemos. São nossos, do nosso time, do time do bem. É uma demonstração e uma prévia do que vai ser o ano que vem. Nós vamos para cima dele — diz Divaldo num dos trechos do áudio.
Dos cinco eleitos, apenas Felipe Dourado, segundo colocado, não é ligado ao grupo político do prefeito. Além de Suzete, também estão com as candidaturas sob investigação Guto Moreira, Cristina Nunes e Cláudio Rodrigues. Detentora de cargo em comissão em um centro para idosos no município, Cristina teve a candidatura impugnada e concorreu sub judice.
— Temos elementos de prova que vamos analisar. Há suspeita de abuso de poder político por parte de gente ligada à prefeitura e outras irregularidades. Agora vamos coletar mais indícios e decidir se ajuizamos ação — comenta a promotora da Infância e Juventude de Bagé, Marlise Martino Oliveira.
Os candidatos sob suspeição estão sendo notificados e terão cinco dias para apresentar defesa prévia à Comissão Eleitoral nomeada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Eventual ação judicial posterior poderá ser ajuizada na Vara de Infância e Juventude do município.
Divaldo já é réu na Justiça Eleitoral por abuso de poder político, econômico e de autoridade na eleição do ano passado. Ele e o irmão, o presidente da Assembleia Legislativa, Luis Augusto Lara, são acusados de coagir servidores e usar a máquina do município em favor da campanha do parlamentar, reeleito para o sexto mandato consecutivo. Luís Augusto e Divaldo negam as acusações. O processo está pronto para ser julgado.
Contraponto
Procurado por GaúchaZH, Divaldo garantiu não ter atuado nas eleições. Ele disse ainda que a comemoração, no áudio, "refere-se ao sucesso de pessoas que não são do PT, que torcem pela cidade e que enxergam os progressos, inclusive no cuidado e proteção às crianças, como o recente lançamento do lar que abriga, juntos, irmãos, meninos e meninas".
Ao ser questionado sobre a suspeita de abuso de poder político, Dilvado disse "é o que têm feito os nossos adversários do PT, PSOL desde que iniciamos o governo. Criam suspeições, se utilizando de mecanismos externos para tentar consolidar os inúmeros denuncismo apresentados, arquivados por inconsistência. No caso específico da eleição do Conselho Tutelar, os membros do Conselho que recebem e avaliam essas denúncias, (dois dos quatro integrantes) são filiados petistas."