Depois de sair de casa às pressas, assombrados pelo alarme de uma sirene acionada às 5h30min deste domingo, moradores da localidade de Córrego do Feijão, na zona rural de Brumadinho (MG), se recusam a deixar o lugarejo. Eles continuam no salão comunitário, a cerca de duas quadras da lama derramada pelo rompimento de uma barragem na tarde de sexta-feira (25), à espera de notícias de amigos e familiares desaparecidos na tragédia.
O alarme foi acionado pelo risco iminente de colapso de outra barragem, chamada B6, situada no mesmo complexo da mina de Brumadinho. Nesse caso, a estrutura está cheia de água (não de rejeitos de mineração).
– Minha casa fica lá embaixo. Tivemos de sair e não nos deixam mais voltar. Levamos apenas algumas peças de roupa. Mas daqui a gente não arreda pé até ter alguma informação sobre nossos conhecidos que sumiram – diz Bruna Toledo, 29 anos.
A dona de casa, que tem um filho de um ano consigo, divide com vizinhas uma tenda montada em frente ao prédio transformado em centro de acolhimento pelas autoridades. Com ela, estão Eliane dos Santos, 39 anos, e Wesleyane Paloma, 26, com o filho Gabriel, de apenas sete meses.
– Tenho três primas na lama e muitos amigos. Aqui todo mundo se conhece, somos uma família. Então não tem como a gente sair daqui. Ainda temos a esperança de encontrar alguém vivo – afirma Wesleyane.
Nem todos conseguiram dormir. Matheus Horta Lopes, 24 anos, já estava fora de casa quando o alarme tocou. Ele vem passado as noites dentro do carro, estacionado junto ao salão comunitário.
– Não tenho conseguido nem pregar o olho. Hoje, quando deu o alarme, a gente se assustou, mas aqui estamos seguros. Minha casa está lá, abandonada. Não vamos sair daqui de jeito nenhum – ressalta Lopes, que trabalha em um lava-jato que prestava serviços para a Vale.
Entre os poucos que aceitaram sair, está o desempregado Vicente de Paula Oliveira, 59 anos. Assim que ouviu o alerta sonoro, ele encheu uma mochila com roupas e pegou os remédios e os documentos. Subiu na moto e, logo que amanheceu, deixou a comunidade.
– Vou ficar na casa de um tio. Não adianta continuar em casa. Vai que a barragem explode de novo? – questiona Oliveira, angustiado.
A localidade de Córrego Feijão tem cerca de 50 casas e ruas de chão batido. No local onde a lama passou, havia residências, uma lagoa, currais e plantações.
As pessoas que seguem no centro comunitário estão recebendo cuidados de equipes de socorristas e voluntários. Há água e mantimentos, que chegaram por meio de doações. Por enquanto, a permanência está autorizada.
Outros três pontos em risco tiveram de ser evacuados: parte do centro de Brumadinho e as localidades de Tejuco e Parque das Cachoeiras. Enquanto isso, as buscas por sobreviventes continuam. Helicópteros seguem levantando voo a todo momento, do campo de futebol em frente à Igreja Nossa Senhora das Dores, a cerca de 50 metros do salão comunitário de Córrego Feijão.
Acompanhe os relatos da repórter Juliana Bublitz, direto de Minas Gerais
Tragédia em Brumadinho
A barragem de Brumadinho, cidade localizada a cerca de 60 km de Belo Horizonte, se rompeu na tarde de sexta-feira (25). A tragédia deixou debaixo da lama boa parte das instalações do complexo Córrego do Feijão, que pertence à mineradora Vale do Rio Doce.
Conforme atualização divulgada na manhã deste domingo (28) pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, o número de mortos na tragédia de Brumadinho chegou a 37.