Poucos minutos após o fim da reunião entre caminhoneiros e representantes do governo federal, na noite de quinta-feira (24), em Brasília, milhares de celulares ao longo de rodovias brasileiras passaram a apitar e vibrar. Eram avisos de novas mensagens de grupos do aplicativo WhatsApp com novas informações sobre o encontro.
Enquanto o governo anunciava ter chegado a um acordo com os grevistas, alguns líderes dos caminhoneiros enviavam aos companheiros mensagens de áudio dizendo o contrário — e com um pedido: que fosse mantida a mobilização, por que os termos não foram aceitos pela categoria.
— Foi só encerrar a reunião que mandei um áudio para os grupos de grevistas que participo, dizendo que a proposta do governo era uma fria — conta o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de Ijuí (Sinditac), Carlos Dahmer, que participou da reunião na capital federal.
A mensagem chegou aos mais de 50 grupos sobre a mobilização em seu celular, abrangendo grevistas de todos os Estados brasileiros e os cerca de 140 pontos de protesto no Rio Grande do Sul naquele momento. Em razão da agilidade e abrangência, o WhatsApp se tornou o mais importante meio de comunicação dos grevistas.
Um ensaio de seu uso havia ocorrido na paralisação de março de 2015, de proporções bem menores do que a atual. Muitos desses grupos foram mantidos, e tantos outros têm sido criados a cada dia.
— Na greve de 1999, ainda usávamos rádio-amadores, passando a informação de um para outro ou para pequenos grupos. Com o Whats, a mobilização sabe imediatamente o que está ocorrendo em cada estrada, compartilha imagens e vídeos — diz Dahmer.
Como nos protestos que eclodiram em diversas cidades brasileiras em 2013, desencadeada pelo preço das passagens de ônibus, ferramentas digitais têm possibilitado que uma grande massa de gente se intere de decisões dos diferentes núcleos do movimento, e que essas decisões sejam harmonizadas. Como qualquer um pode criar um grupo e adicionar participantes, não há clareza sobre quem são os líderes.
— Todas opiniões são aceitas, desde que não envolvam partidos políticos — limita Ronaldo Santini, de Lagoa Vermelha, filho de caminhoneiro e apoiador do movimento grevista.
Nos diversos grupos em seu WhatsApp, ele consegue ter ciência do que ocorre no Paraná, em São Paulo e em Brasília, fortes focos de manifestações. Alguns grupos são criados por líderes que não são caminhoneiros, como prefeitos e produtores rurais, explica.
Em um dos grupos, chamado "Greve dos Motoristas", com 264 participantes, a discussão ferveu no início da tarde desta sexta-feira (25) com o anúncio do presidente Michel Temer de que o Exército seria usado para liberar as rodovias.
— O pessoal passou a trocar fotos e áudio de motoristas de carro apoiando o movimento e criticando o governo Temer — diz Santini.
Mas, como em qualquer grupo de WhatsApp, também sobram desabafos ideológicos, notícias falsas e boataria. Muitos compartilham, ironicamente, mensagens de apoio à intervenção militar e outros tantos compartilham vídeos de vaias ao presidente Temer de anos atrás, como se fossem desta semana por supostos apoiadores dos grevistas.
— As fake news, infelizmente, fazem parte e às vezes acabam atrapalhando — reconhece.