O RS registrou um aumento de 3% no total de mortos no trânsito em 2017 em comparação com o ano anterior. O dado faz parte do novo levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), que mostra mais uma vez que os homens e jovens são a maioria dos que morrem em acidentes de trânsito. Das 1.741 vítimas, 77% delas, ou seja, 1.351, eram do sexo masculino e somente 390 do sexo feminino. Na distribuição por faixa etária, pessoas com idade entre 21 e 24 anos representam a maior parte das vítimas, com 180 mortes.
Pessoas que têm uma vida correta se modificam completamente na hora em que estão num carro.
HERMES NOGUEIRA JUNQUEIRA
Especialista em transportes e trânsito
Para o professor de engenharia civil da Unisinos João Hermes Nogueira Junqueira, especialista em transportes e trânsito, modificar o comportamento dos condutores é um dos principais desafios para reduzir esses índices.
— O brasileiro, de uma maneira geral, tem um comportamento muito irregular no trânsito. Muitas pessoas que têm uma vida correta se modificam completamente na hora em que estão num carro — diz.
— É preciso encontrar uma maneira de mostrar para essas pessoas que no trânsito existem regras que devem ser respeitadas. Se cada um quiser seguir a sua regra, acontece isso. Homens, principalmente jovens, são os mais afoitos, que normalmente não estão ligando para as regras de maneira geral — completa.
O especialista ressalta ainda que o número de condutores habilitados do sexo masculino em comparação com o de mulheres também precisa ser levado em conta.
Segundo o Detran, dois terços dos 4,8 milhões de motoristas gaúchos, ou seja, 3,2 milhões, são homens. Entre as mulheres, são 1,6 milhão de condutoras.
O aumento da frota também deve ser levado em consideração para avaliar o crescimento do número de mortes, já que representa uma maior circulação de automóveis. Em comparação com 2016, no ano passado a frota do Estado teve aumento de 171 mil veículos. O total atual, segundo o Detran, é de quase 6,6 milhões (6.590.826).
Dias com mais mortes em acidentes
Os dados apontam ainda que 52% das mortes acontecem entre sexta-feira e domingo. Para Junqueira, isso está ligado a dois fatores: o período de maior movimento nas estradas, principalmente nos feriadões, e o consumo de bebidas alcoólicas e drogas.
O especialista também acredita que o uso do celular ao volante seja o motivo de grande parte dos acidentes. Mais policiamento e mais rigor nas ações de fiscalização são considerados essenciais pelo professor para punir os infratores, que podem acabar provocando acidentes graves.
— As medidas são tomadas, dão um resultado, mas, infelizmente, ainda não é o resultado que gostaria que acontecesse. Esses 3% não chegam a ser um resultado negativo, mas eu acho que nós temos que fazer mais campanhas, e isso tem que ser todo dia, porque a pessoa esquece. Grande parte dos acidentes acontece por falta de atenção causada por fatores externos, e um deles é o celular.
Educação e punição de infratores
Para o diretor-geral do Detran, Ildo Mário Szinvelski, o crescimento em comparação a 2016 pode ser explicado por conta de uma estabilização já que houve redução no número de acidentes com morte em 2015 e 2016:
— É muito difícil manter a redução depois de dois anos de queda. Os emplacamentos voltaram a crescer em 2016, depois de três anos de recessão, de crise do setor automotivo. Isso significa mais veículos na vias e em consequência maior possibilidade de infrações e de acidentes. Também tivemos aumento de condutores.
Szinvelski acredita que, neste cenário, programas como o Balada Segura vêm contribuindo para modificar a mentalidade dos condutores, inclusive dos jovens.
Ainda precisamos caminhar muito. Enquanto tivermos a perda de uma vida, nós não vamos sossegar.
ILDO MÁRIO SZINVELSKI
Diretor-geral do Detran
— Há uma transformação nessa cultura do trânsito, mas sabemos que é um processo longo, que ainda precisamos caminhar muito. Enquanto tivermos a perda de uma vida, nós não vamos sossegar. Mas não adiantam todos os esforços de fiscalização se a pessoa que está atrás do volante não mudar, não se conscientizar. Para mudar essa realidade, é preciso insistir muito na questão da fiscalização de trânsito e da punição, para que se tenha essa capacidade de mudar seu comportamento.
O diretor acredita que o Plano Nacional de Redução de Mortes e Lesões no Trânsito, que entra em vigor em março, ajudará a impactar os índices nos próximos anos. Desde 2007, 21.149 pessoas morreram vítimas de acidentes no RS. A média nesse período é de cinco mortes por dia.
— Uma tragédia surge de um ato singelo, um ato impensado, uma infração de trânsito, como exceder a velocidade, digitar no celular ou andar sem o cinto. Precisamos melhorar muito mais. A população precisa ter essa responsabilidade de ocupar o espaço público com segurança e com respeito, cumprindo a lei, a velocidade da via, não ingerindo bebida alcoólica — diz Szinvelski.
Mortes de mulheres
Além de representarem somente 23% das mortes no trânsito, a maior parte das mulheres que morreram em acidentes era de passageiras ou pedestres. Das 390 que foram vítimas em 2017, apenas 75 delas estavam conduzindo automóveis ou motocicletas. Das demais, 155 eram passageiras em automóveis, 31 estavam na carona de motocicletas e 115 foram pedestres vítimas de atropelamento. Já entre os homens, das 1,3 mil vítimas, 907 estavam conduzindo veículos.
Números
- 1.741 mortos em 2017 contra 1.680 mortos em 2016 (61 mortes a mais, 3% de elevação).
- A maior parte dos acidentes com morte envolve colisões, com 572 casos. Em segundo lugar estão os atropelamentos, com 316 registros. Os condutores de automóveis foram os que mais morreram em acidentes no Estado em 2017, com 514 vítimas.
- Os motociclistas ficaram em segundo, com 468 óbitos. Em terceiro lugar, ficaram os pedestres, com 318 mortes.
- Nos acidentes, envolveram-se 969 automóveis, 591 motocicletas ou motonetas, 376 caminhões, 144 reboques, 84 bicicletas, 78 ônibus ou micro-ônibus, 13 tratores e oito carroças.
- 38% das mortes envolveram automóveis, 23% motocicletas e 15% caminhões.
- 916 (52%) das vítimas morreram entre sexta-feira e domingo. Sábado e domingo tiveram 695 mortes, ou seja, 40%. Os demais dias tiveram índices aproximados.
- Por ordem, os dias mais perigosos em número de acidentes e vítimas: sábado, domingo, sexta-feira, segunda-feira, quinta-feira, terça-feira e quarta-feira.
- 587 morreram durante a noite, 451 no turno da tarde, 395 durante a manhã e 290 na madrugada. Domingo à noite teve o maior número de mortes, com 136 óbitos, seguido por sábado à noite, que teve 107 vítimas.
- A maior parte dos acidentes foi em rodovias, 943 deles. As vias municipais concentraram 601 casos, as estaduais 498 e as federais 443.
- 1.351 vítimas, ou seja 77%, eram do sexo masculino e 390 do sexo feminino. Dessas, 476 tinham entre 18 e 29 anos.
- Entre as crianças, de até 10 anos, 23 vítimas eram passageiros de veículos, oito eram pedestres e quatro estavam em bicicletas.
- No cruzamento entre idade e participação nos acidentes, os motociclistas de 21 a 24 anos somaram a maioria dos óbitos, com 78 casos. Motociclistas entre 25 e 29 anos foram 76 vítimas. Entre os condutores de automóveis, a faixa etária que mais teve mortes foi entre 35 e 39 anos, com 68 óbitos.