Em 2012, havia no Rio Grande do Sul duas pessoas para cada veículo. Hoje, a proporção é de 1,72. O aumento na frota fica ainda mais evidente se levado em conta que, de 2008 a 2017, a população cresceu 4%, enquanto a frota ficou 58% maior, ao passar de 4,1 milhões para 6,6 milhões de veículos.
Doutor em Transportes, o professor aposentado João Fortini Albano lembra que em 2012 a União facilitou o crédito e cortou a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para aquisição de carros e motocicletas, o que impulsionou o aumento da frota – 14 vezes maior do que o da população.
– As pessoas deixaram de andar de ônibus para comprar veículos, principalmente motos – diz o especialista.
Segundo Albano, o descompasso entre a quantidade de veículos e de investimentos em infraestrutura impactou principalmente grandes cidades e regiões metropolitanas:
– Vemos congestionamentos intermináveis, que acarretam em perda de tempo. Sem falar na poluição e seus prejuízos para a saúde.
Viagens compartilhadas para evitar congestionamentos
Reverter esse quadro passa por tornar as vias mais eficientes, com gestão de demanda, comenta a professora da UFRGS Christine Tessele Nodari. Ela cita o uso racional dos automóveis e transportes públicos e a utilização de veículos autônomos como medidas para melhorar o aproveitamento de capacidade das vias. Planejar caronas com amigos também é visto como uma boa prática para o trânsito.
Se der para deixar o carro em casa, deixe. Só use quando estiver chovendo, ou se precisar ir no médico, por exemplo. O problema não é a posse. É o uso descontrolado que atrapalha.
CHRISTINE TESSELE NODARI
Professora e pesquisadora do Laboratório de Sistema de Transporte (Lastran) da UFRGS
– Se der para deixar o carro em casa, deixe. Só use quando estiver chovendo, ou se precisar ir no médico, por exemplo. O problema não é a posse. É o uso descontrolado que atrapalha – comenta Christine.
O diretor-geral do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Ildo Mário Szinvelski, concorda. Diz que o órgão busca sensibilizar a população para avaliar o uso do automóvel:
– O carro é confortável para uma viagem, por exemplo. Às vezes, quando se tem filhos pequenos, pais doentes, é um uso racional. Mas precisamos mesmo ir à padaria de carro? Não podemos usar o transporte público para ir trabalhar ou para ir a uma consulta médica?
Apesar da ponderação, o diretor-geral reconhece a necessidade de melhorias viárias.
– O problema é que há uma carência muito grande de infraestrutura e declínio do transporte coletivo – acrescenta Albano.