Um levantamento dos fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego apontou que a empresa Masisa não tinha um plano de prevenção para acidentes semelhantes à explosão que aconteceu há uma semana.
A empresa está fechada desde o acidente que matou quatro trabalhadores e deixou outros dois hospitalizados em estado grave.
A indústria convocou seus funcionários a voltarem na próxima segunda-feira, mas a produção não será retomada. A indústria ficará interditada pelo Ministério do Trabalho até que apresente um plano para que uma nova tragédia não volte a acontecer.
Após a análise do levantamento, realizado logo após a explosão, os fiscais apontaram que o acidente pode ter sido causado por diferentes falhas.
- Esse acidente não envolve uma ou duas situações. O que aconteceu é resultado de questões até do projeto de instalação da empresa, do local e das condições de funcionamento da peneira - afirma o auditor fiscal do MTE Roque Puiatti.
Para Puiatti, caso a empresa estivesse preparada para uma explosão no setor da peneira, os impactos teriam sido menores.
- Não se pode dizer que o acidente não aconteceria, mas não seria nessas proporções, com quatro trabalhadores mortos - ressalta o auditor.
Além da Polícia Civil, que investiga a explosão, o Ministério Público do Trabalho de Santa Cruz do Sul também analisa o caso. As responsabilidades da fábrica serão apuradas, e a Masisa terá de se comprometer a adotar medidas para evitar novos acidentes.
- Estamos esperando pelo laudo do Ministério do Trabalho e pela investigação da polícia. Na maioria dos casos como esse existe algum tipo de omissão por parte da empresa. É preciso entender o que ela deixou de observar para que esse acidente acontecesse - explica a procuradora do trabalho, Enéria Thomazini.
De acordo com a procuradora, a Masisa deverá responder a um processo por dano moral coletivo.
- Esse caso deve servir de exemplo, com pesadas multas e indenizações, para que outras empresas garantam a segurança do trabalhador - ressalta Thomazini.
Inaugurada em março de 2010, a planta de Montenegro, no Vale do Caí, passou por apenas uma inspeção do Ministério do Trabalho antes da explosão. Os ficais foram até o local, há cerca de dois meses, a partir de uma denúncia que apontava que as máquinas da empresa não tinham proteções contra eventuais acidentes. A empresa recebeu cinco multas, e continuou operando.
Considerado um dos mais perigosos, o setor da peneira nunca foi fiscalizado. Segundo o auditor do MTE isso não ocorreu em função da pouca quantidade de fiscais do órgão no Estado. O acidente deve fazer com que as empresas do ramo recebam mais atenção da fiscalização.
- Temos 40 pessoas para fiscalizar centenas de empresas em todo o Rio Grande do Sul. A fiscalização que foi feita nessa empresa não teve nenhum relação com o local da explosão - explica Puiatti.
Polícia recolhe documentos da Masisa
A polícia aguarda por um vídeo da explosão na fábrica. Na manhã desta sexta-feira, o delegado Marcelo Farias Pereira esteve na empresa, e recolheu documentos sobre o socorro às vítimas e sobre as máquinas que operam no local.
Enquanto esteve na indústria o delegado tentou entender como funciona o setor de produção. Na última quinta-feira o gerente da unidade, Tony Garcia, prestou depoimento.
- Preciso entender como funciona a fábrica para traduzir o que me é explicado pelos engenheiros e pelo gerente da Masisa. É um trabalho complicado, que deve levar mais de 30 dias - afirma o delegado.
A empresa está realizando uma análise dos vídeos do dia do acidente. É possível que a explosão tenha danificado o sistema de monitoramento interno, e as imagens tenham se perdido. Para o delegado, a prioridade é receber os laudos do Instituto Geral de Perícias (IGP).
- O local está bastante destruído. Para entender o que aconteceu é preciso saber o resultado da perícia. Já conversei com o IGP e esse caso está sendo priorizado - explica Pereira.
Ontem, a polícia ouviu o depoimento do único ferido que recebeu alta do hospital, Clébio da Silva Gomes, 43 anos. Além dele, outras seis pessoas foram vítimas da explosão. Quatro delas morreram e outros dois trabalhadores seguem hospitalizados.
Vagner Costa da Silva, 29 anos, e Cristiano Souza, 29 anos, estavam internados no hospital da Unimed Vale do Caí na tarde de ontem. Os dois estão em coma induzido, respirando com a ajuda de aparelhos, e com queimaduras em mais de 50% do corpo. O estado dos dois feridos é considerado grave.
Contraponto
O que diz a Masisa
Por meio da assessoria de imprensa, a empresa afirma que não vai comentar as afirmações nesse momento. Segundo a Masisa, o foco é prestar assistência às famílias das vítimas e colaborar com as investigações.
Explosão fatal
Ministério aponta falhas na prevenção de acidentes em empresa de Montenegro
Masisa está fechada desde acidente que matou quatro e deixou dois trabalhadores em estado grave
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