A pandemia pelo coronavírus tem avançado pelo Rio Grande do Sul, mas a solidariedade também. Médicos, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais da área de saúde têm se engajado em alternativas para promover saúde física e mental dos que têm menos amparo para enfrentar a pandemia.
O governo estadual divulgou que mais de 2 mil pessoas se cadastraram como voluntários no combate ao vírus. O site da Secretaria da Saúde conta com um formulário para os interessados se cadastrarem, sem restrição de área de atuação. Dos 2201 registros recebidos até o final da tarde de sexta-feira (3), quase metade era de profissionais da saúde – 1150 cadastros. A Secretaria não informou se algum deles já está realizando trabalho solidário, nem em que situações serão requisitados, apenas se limitou a informar que “entrará em contato, caso haja necessidade”.
Em São Leopoldo, uma ação da prefeitura já tem mobilizado mais de uma centena de cidadãos em diferentes frentes de trabalho. Voluntários têm contribuído em hospitais, pontos de vacinação e em atendimentos a população de rua. Uma das primeiras participantes do projeto foi a estudante Helen de Oliveira Bohn, que está prestes a terminar a formação técnica na Escola de Enfermagem da Paz. Aos 23 anos, ela realizava estágio no Hospital Geral, mas a instituição afastou os estudantes para evitar a disseminação do coronavírus.
— Estava em casa, sem fazer nada, e havia tanta gente lá fora que precisava de ajuda. Agora, presto auxílio nos pontos de vacinação contra a gripe. É um modo de interagir com os pacientes e também de conscientizá-los. Muitos idosos acham que é uma vacina para o coronavírus. A gente explica que não se trata disso, mas é tão importante quanto — avalia Helen.
A jovem mora atualmente com o pai, que apoiou a decisão da filha de sair de casa para auxiliar na contenção da epidemia.
— Perdi minha mãe há dois anos e meio. Sei a dor que é perder alguém que a gente ama. Meu trabalho é evitar que isso aconteça com outras pessoas — afirma Helen.
Além de ações organizadas por prefeituras e governo estadual, grupos independentes de voluntários também têm recebido novos interessados, mobilizados na ação contra o coronavírus. Enfermagem na Rua, equipe organizada por Jean Luca Gomes, tem sido procurado por um número crescente de profissionais nas últimas semanas. O grupo presta auxílio a moradores de rua do centro de Porto Alegre, verificando sinais vitais, higienizando curativos e orientando na prevenção de doenças.
Além de novos voluntários, Enfermagem na Rua agora também recebeu doações de equipamentos de proteção individual.
— Muitos moradores de rua não têm ideia do que está acontecendo. Se não cuidarmos dessas pessoas, em breve haverá corpos na rua, e o combate ao vírus se tornará ainda mais difícil — alerta Gomes.
Em relação à saúde mental, há em Porto Alegre pelo menos 14 instituições e 800 profissionais prestando atendimento solidário, segundo a Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre. Com 42 anos de experiência, Sueli Souza dos Santos é uma delas. Com as normas de isolamento social, a psicanalista atende por telefone pessoas carentes a partir da biblioteca de sua casa.
— Encaro a psicanálise não apenas como um método ou técnica, mas como um compromisso com a vida. Este é um momento de honrar a vida. Precisamos nos dar conta de que, ao cursar uma formação em psicanálise, tivemos muito mais oportunidades que muita gente teve pela vida inteira — afirma Sueli.
A psicóloga, que integra Centro de Estudos Psicanalíticos de Porto Alegre, também avalia que o trabalho solidário é uma oportunidade de aprendizado para muitos profissionais:
— Quem trabalha em condições adequadas pode pensar que pessoas com muitas limitações e carências enfrentam demandas diferentes, relacionadas à falta de oportunidades. Sim, essas demandas existem, no entanto, elas também enfrentam as dores que todos nós enfrentamos, como o desamor e o desamparo. No fundo, aprendemos que todos somos iguais.
Saúde mental
Diferentes projetos oferecem atendimento psicológico solidário voltado à comunidade durante a quarentena. Confira mais informações nos endereços e telefone abaixo:
- Atendimento Solidário em Saúde Mental: https://sppa.org.br/
- Escuta Psicanalítica Solidária: http://cepdepa.com.br/
- Mário Martins Solidário: (51) 98585-0120