O atleta Almir Junior pode ser conhecido como o finalista brasileiro no salto triplo nos Jogos Olímpicos de Paris. O ser humano Almir Cunha dos Santos é aquele que estava fora do Rio Grande do Sul e retornou para Porto Alegre para ajudar nos resgates da enchente de maio, um exemplo de como abraçou o Estado. O atleta da Sogipa disputa a partir das 15h13min a medalha no salto triplo.
Nascido em Matupá-MT, Almir chegou ao clube aos 15 anos, atualmente ele tem 30. Essa pode ter sido a principal mudança de sua vida, mas longe de ser a única significativa. Ele foi recebido por José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, técnico de Almir na Sogipa, como um saltador em altura. Em 2016, sete anos após sua chegada, fez a transição para o salto triplo.
O crescimento foi em um pulo. Logo colecionou bons resultados. Dois anos depois, disputou o Mundial Indoor da IAAF em Birmingham, na Inglaterra. Terminou em segundo lugar. Mas outras mudanças estavam por vir, primeiro em sua carreira, depois em sua vida.
Em Tóquio participou de sua primeira Olimpíada. A 23ª colocação e dores o fizeram trocar a perna em que executa o último salto.
— Ele teve muita dor no joelho esquerdo naquela final. Aí resolvemos trocar de perna no salto. Ele saltava com a esquerda e passou a saltar com a direita. Para nós, não é surpresa, qualidade ele tem para, quem sabe, chegar a uma medalha. Espero que as coisas aconteçam para ele — explica Arataca, técnico de Almir na Sogipa.
Foi com esta perna direita que ele conseguiu a classificação para final no salto triplo após 16 anos. O último brasileiro a disputar medalha na prova havia sido Jadel Gregório em 2008.
Ainda teve mais uma modificação importante em sua vida. Nos últimos tempos, divide a vida entre Brasil e Portugal. Almir passa cerca de uma quinzena em Porto Alegre e entre um mês e 45 dias em Lisboa.
— É um sacrifício grande. Fazemos um planejamento a quatro mãos. Para nós, o Almir não é uma surpresa.
Estar na Europa permite a ele participar de competições de nível mais elevado.
— Eu fui pra Europa para treinar. Foi um recomeço saltar com a outra perna. O objetivo é Paris. Agora, o percurso até lá fica melhor. Tirei um peso das costas. Fazia tempo que eu não performava assim — comentou em novembro, após ser campeão sul-americano.
Era na capital portuguesa que ele estava como o céu começou a jorrar água como nunca antes sobre o Rio Grande do Sul. Era época de voltar para o Sul. O calendário apontava competição. Almir desembarcou em Florianópolis e trouxe no carro um barco para ajudar nos resgates. Embora não quisesse, foi convencido a disputar o Campeonato Ibero-Americano de atletismo, disputado em Cuiabá, onde poderia encontrar sua família. Foi campeão. Na comemoração, se enrolou na bandeira do Rio Grande do Sul.
— Estou muito feliz. Era meu objetivo. Eu nasci nesse estado, cheguei para bater recorde e fazer a melhor marca do ano. São dois anos de preparação, deixei minha família, abdiquei de muita coisa para estar preparado para essa Olimpíada. É só o começo — enfatizou Almir Júnior logo após a prova.
Agora, o atleta Almir Junior tem à frente a oportunidade definitiva de sua carreira. Se subir ao pódio dividirá espaço com Ademar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio e João do Pulo como os triplistas brasileiros medalhistas olímpicos, o que será uma mudança de patamar.