— Está bem agradável, não estamos passando calor.
O depoimento do atleta do vôlei de praia, George Wanderley, 27 anos, a GZH, algumas horas após desembarcar na Vila Olímpica, mostra o alívio quanto a uma das grandes preocupações da delegação brasileira nas Olimpíadas: o forte calor de Paris.
As instalações oficiais não têm ar-condicionado, mas, conforme constatado pela reportagem em duas visitas ao local, o sistema de refrigeração ecológica adotado pela organização dos Jogos vem dando conta do recado.
GZH esteve na Vila Olímpica na sexta (20) e no sábado (21), quando houve janelas de entrevistas com atletas brasileiros do remo e do vôlei de praia, respectivamente. Nas duas oportunidades, a sensação térmica estava agradável, apesar dos mais de 30 graus da capital francesa.
No local, que hospedará cerca de 15 mil atletas ao longo dos Jogos, chamam atenção ainda o forte aparato de segurança, o foco na sustentabilidade e a presença em peso de delegações asiáticas e europeias neste período que antecede a cerimônia de abertura, marcada para a próxima sexta (26).
Confira os bastidores da visita de GZH à Vila Olímpica:
Sustentabilidade: milhares de árvores e refrigeração ecológica
O cuidado com o meio-ambiente é uma das principais preocupações. A Vila foi construída sem aparelhos de ar-condicionado para reduzir a emissão de monóxido de carbono, em uma decisão bastante criticada por diversas delegações, preocupada com a saúde dos atletas em meio ao calor. O Brasil, por exemplo, alugou 130 climatizadores para dar conforto aos seus competidores.
A Vila Olímpica é cortada pelo Rio Sena, cuja água garante a refrigeração das áreas comuns, em um sistema conhecido como geotermia. Conforme constatado por GZH, o mecanismo ecológico não tem a potência de um ar-condicionado, mas funciona.
Em todos os ambientes visitados pela reportagem, a sensação térmica estava agradável. Além disso, foram plantados mais de 9 mil arbustos e árvores, o que atenua o calor e deixa uma grande quantidade de sombra nas áreas abertas.
Localização: subúrbio de Paris irá ganhar bairro comercial e residencial após os Jogos
A Vila Olímpica tem 53 hectares e fica entre os municípios de Saint-Ouen, Saint-Denis e L'Ile-Saint Denis, na parte noroeste da Região Metropolitana de Paris.
Adaptando para o mapa de Porto Alegre, é como se o local fosse erguido entre os municípios de Canoas, Esteio e Nova Santa-Rita. Após os Jogos, a Vila será transformada em um bairro comercial e residencial para famílias de baixa renda.
Segurança: bloqueios e forte aparato policial
A uma semana dos Jogos, a Vila Olímpica é o local onde há maior quantidade de bloqueios e de policiamento ostensivo. A reportagem chegou até lá a bordo do transporte oficial dos Jogos, com passe livre pelo entorno. Veículos comuns, no entanto, são proibidos de circular em um raio de aproximadamente dois quilômetros.
Na parte final do trajeto, por exemplo, as ruas de Saint-Ouen estavam quase desertas, com a presença apenas de poucos pedestres, de carros da polícia e de dezenas de policiais armados com fuzis.
A imprensa tem acesso apenas à área internacional, que corresponde a 10% do total. Para obter o acesso, cada jornalista precisa deixar a sua credencial com o estafe e, em troca, recebe um passe temporário.
A segurança da Vila Olímpica é sempre uma preocupação especial nas Olimpíadas desde os Jogos de 1972, em Munique, quando 11 integrantes da delegação de Israel foram feito reféns e assassinados por um grupo terrorista.
Áreas de convivência: descanso à beira do Rio Sena, mas sem banho
A área internacional é composta por uma vasta área de convivência à beira do Rio Sena, com cadeiras, guarda-sóis e um telão, que quase sempre transmite competições esportivas.
Há ainda uma loja de produtos oficiais da Olimpíada e uma estrutura temporária junto à entrada, composta por aparelhos de raio-x e detector de metais e uma sala de imprensa. Ali, há um bebedouro, com água liberada para todos, e uma maquina de refrigerantes exclusiva para atletas.
Durante o período em que a reportagem de GZH esteve no local, poucos atletas estrangeiros descansavam às margens do Rio Sena em cadeiras semelhantes às utilizadas nas praias por banhistas. Ao longo da área de convivência, há várias placas lembrando que é proibido tomar banho no rio.
Delegações: asiáticos e europeus em peso
Ao menos nos prédios construídos junto à área internacional, predominam delegações asiáticas e europeias. O primeiro edificio à vista já está todo decorado por bandeiras da China, enquanto o prédio ao lado está repleto de bandeiras da Turquia.
Durante o período da visita, a reportagem de GZH flagrou atletas da Itália, da Holanda, do Cazaquistão e do Uruguai.
Brasil adota discrição na Vila Olímpica
O Brasil é uma das delegações mais discretas da Vila. Por opção do COB, os brasileiros estão hospedados em uma zona bem distante do agito da área internacional, mas próxima ao restaurante.
Assim, os únicos atletas nacionais vistos pela reportagem de GZH foram aqueles que concederam entrevistas: Lucas Verthein e Beatriz Tavares, do remo, e George Wanderley e André Stein, do vôlei de praia.