Raquel Kochhann será a porta-bandeira do Brasil na cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris, que ocorre nesta sexta-feira (26), às 14h30min (horário de Brasília), no Rio Sena. Natural de Saudades, em Santa Catarina, ela é a primeira atleta brasileira a disputar os Jogos depois de vencer um câncer, conforme o anúncio realizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) na noite desta segunda-feira (22).
Aos 31 anos, Raquel, que faz parte da seleção feminina de rugby sevens, defende a equipe do Charrua Rugby Clube, de Porto Alegre. A atleta levará a bandeira ao lado de Isaquias Queiroz, da canoagem velocidade.
— Essa sensação de levar a bandeira para o mundo inteiro ver em uma cerimônia de abertura é algo que não consigo explicar em palavras. Trabalhamos muito no Brasil para que o rugby cresça e ganhe seu espaço. Sabemos que a realidade do nosso esporte não é ter uma medalha de ouro por enquanto, apesar de termos esse sonho. Mas sempre vi que quem carrega essa bandeira tem uma história incrível e representa uma grande conquista — comenta Raquel em material divulgado pelo COB.
Luta pela saúde e pelo esporte
Raquel encarou um ciclo olímpico dos mais complicados. Pouco antes dos Jogos de Tóquio, em 2021, observou um caroço na mama e chegou a se consultar com os médicos do Time Brasil durante a competição.
Menos de um ano depois, a jogadora recebeu duas notícias que impactariam, para sempre, a sua vida: a primeira é que havia rompido o ligamento cruzado anterior do joelho direito na última etapa do Circuito Mundial, em Toulouse, na França, e a segunda é que o caroço havia dobrado de tamanho. Após realizar biópsia, foram detectadas células cancerígenas que já estavam em metástase no osso do esterno.
Raquel ficou cerca de dois anos afastada dos gramados, mas não parou de treinar durante o tratamento. Realizava exercícios adaptados e permanecia junto ao grupo para fortalecer o aspecto mental. Ao passar pela mastectomia bilateral, a jogadora precisou tomar outra decisão importante: não colocar próteses mamárias. Além de aumentar o tempo de recuperação, havia ainda o risco de rejeição à prótese, o que ocorreu com a mãe, Vera, que enfrentou um câncer de mama quando Raquel tinha 15 anos.
— Nunca vi nada parecido na minha vida. A Raquel mostrou uma força incrível neste período, vinha treinar todos os dias mesmo durante o tratamento. E, quando não estava treinando, ajudava a equipe da forma que podia: filmando as atividades, levando água para as companheiras ou motivando a equipe. É um exemplo para todos nós — afirma o treinador da seleção feminina, Will Broderick.
Retomada da carreira
O retorno às competições ocorreu somente em dezembro de 2023, no Charrua, pelo Campeonato Brasileiro. Aproximadamente 30 dias após, veio a notícia mais aguardada de todas: Raquel foi convocada pela seleção brasileira para disputar a terceira etapa do Circuito Mundial, em Perth, na Austrália.
A partir de então, a camisa 10 rapidamente voltou a ser peça-chave na equipe e, em junho, assegurou sua vaga em Paris 2024.
— A Raquel é uma inspiração para o Rugby e carrega consigo os valores do nosso esporte: disciplina, respeito, integridade, paixão e solidariedade. Todo jogador busca colocá-los em prática dentro e fora de campo. Durante a recuperação, a Raquel sempre se apoiou nestes valores, mostrando ser uma representante genuína da modalidade — diz a CEO da Confederação Brasileira de Rugby, Mariana Miné.
Rugby sevens
O rugby sevens foi introduzido ao programa olímpico nos Jogos Rio 2016, e o Brasil esteve em todas as edições do torneio feminino. Raquel é uma das únicas duas atletas a atingir as três participações, assim como a capitã Luiza Campos. As Yaras, como é conhecida a seleção nacional, chegam a Paris após uma histórica campanha no Top 10 do Circuito Mundial.
O Brasil está no Grupo C dos Jogos Olímpicos e estreia contra a anfitriã França, no domingo (28), ao meio-dia (horário de Brasília). Três horas mais tarde, é a vez de encarar os Estados Unidos.
A seleção encerra sua participação na fase de grupos na segunda-feira (29), 10h, contra o Japão. Caso termine nas duas primeiras posições da chave ou entre os dois melhores terceiros colocados de todos os grupos, a equipe avança às quartas de final. Todas as partidas serão realizadas no Stade de France.
Quem é
- Nome completo — Raquel Cristina Kochhann
- Data de nascimento — 6 de outubro de 1992
- Naturalidade — Saudades (SC)
Histórico
- Bronze nos Jogos Pan-americanos Toronto 2015
Ouro nos Jogos Sul-americanos Santiago 2014 e Cochabamba 2018; - Heptacampeã sul-americana de rugby (2014, 2015, 2016, 2017, 2018, 2019 e 2021);
- Integrou a seleção feminina de rugby XV que venceu a Colômbia por 34 a 13 e garantiu a classificação inédita do Brasil para a Copa do Mundo da modalidade, em 2025, na Inglaterra. Esta será a 1ª vez que uma seleção sul-americana disputará uma Copa do Mundo feminina de rugby XV;
- Raquel iniciou sua trajetória esportiva no futebol. Defendeu o Juventude (RS) a partir dos 15 anos e, em 2010, chegou a ser pré-convocada para a seleção brasileira sub-17. Porém, na ocasião, sofreu uma entorse no pé e acabou sendo cortada. A primeira experiência no rugby veio somente aos 19 anos.