O Brasil ainda busca evoluir no cenário internacional do rugby. As mulheres dominam na América do Sul e somam 21 títulos em 21 participações na campeonato continental. Mas quando se trata de cenário mundial ainda existe um longo caminho a percorrer. Em Paris-2024, as Yaras estarão presentes pela terceira vez, mantendo a tradição de disputar os Jogos Olímpicos desde a introdução da modalidade no programa em 2016, no Rio de Janeiro.
E uma grande inspiração será a catarinense Raquel Kochhann, 31 anos, que esteve na equipe que disputou as duas edições olímpicas anteriores, sendo a capitã da seleção em Tóquio. A atleta nascida no município de Saudades-SC, que fica próximo a Chapecó, acaba de voltar aos gramados após enfrentar um câncer de mama.
Nas redes sociais, Raquel falou sobre esse período e como tudo aconteceu.
— Jogue cada jogo como se fosse o último. Essa frase parece clichê, porém não sabemos o dia de amanhã, e se não tiver outra oportunidade? Nosso destino é imprevisível, e tudo muda o tempo todo. Uma lesão de LCA (ligamento cruzado anterior) em maio de 2022 acabou se tornando um longo tratamento contra o câncer de mama. Muito aprendizado e crescimento pessoal, tenho muitas pessoas a agradecer nesse processo principalmente minha família e meus amigos que sempre estiveram do meu lado e fizeram todo esse processo ser leve— pontuou a atleta.
Quando Raquel sofreu a lesão de LCA, na última etapa do Circuito Mundial do ano passado, em (Toulouse, na França,em um jogo contra a Inglaterra, ela acabou refazendo um exame que a tinha deixado em alerta cerca de um ano antes. Na véspera dos Jogos Olímpicos de Tóquio, um caroço apareceu em uma mama e logo ela lembrou do histórico familiar, já que sua mãe teve câncer de mama.
No Japão, a jogadora chegou a se consultar com a ginecologista do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e fez um exame lá mesmo para investigar. E acabou fazendo mais exames no Brasil para descartar toda e qualquer possibilidade. Ela competiu em Tóquio e quando sofreu a lesão de ligamentos, resolveu refazer os exames e o caroço havia dobrado de tamanho. Ainda não havia o diagnóstico de câncer, mas recomendava-se uma cirurgia de retirada, que exigiria repouso de três semanas.
Como teria que operar por conta da LCA, Raquel também fez a cirurgia de retirada do caroço e só então, após análises comprovou-se que era cancerígeno e que o câncer havia se desenvolvido (metástase). A atleta precisou passar por quimioterapia, radioterapia, enfim o tratamento recomendado para combater a doença. A jornada durou longos 19 meses e toda uma rede foi criada em torno dela para que o melhor fosse feito, envolvendo médicos, fisioterapeutas, profissionais da área física e a comissão técnica da seleção brasileira.
E apesar do duro tratamento, Raquel mostrou a mesma garra e determinação com que defende as cores da seleção brasileira para vencer esta batalha e voltar a fazer atividades. Como o rugby é um esporte de contato, ela precisou, juntamente com especialistas, desenvolver uma proteção que evitasse qualquer contato com o esterno (local atingido pelo câncer).
No último final de semana, para alegria de toda a comunidade esportiva e especialmente de pessoas mais próximas a ela, Raquel Kochhann voltou a jogar. Em São Paulo, disputou o Brasil Sevens (Campeonato Brasileiro) pelo Charrua Rugby (RS). E curiosamente tem a seu lado outro exemplo de determinação, Lilian Monteiro, que também passou pelo mesmo problema e voltou a jogar pelo Charrua e que nos próximos dois anos ainda irá encarar o desafio de ser vice-presidente do clube.
Mas Raquel quer mais e agora seu desafio é reconquistar seu lugar na seleção brasileira e estar nos Jogos de Paris em 2024.