Os Jogos Olímpicos de Paris trarão uma modalidade pouco conhecida na cena esportiva mundial. O break (ou breaking) fará sua estreia na França, como forma de consolidar o estilo de dança urbana que se originou no bairro do Bronx, em Nova York, na década de 1970. Com a entrada no circuito olímpico, o esporte de dança combina elementos urbanos e atletismo notável, surge da cultura Hip Hop e caracteriza-se por movimentos acrobáticos.
Dentro do movimento olímpico, o break é uma disciplina da World DanceSport Federation (WDSF), fundada em 1957. No entanto, os primeiros Jogos Mundiais de DanceSport da WDSF foram realizados quase 56 anos depois, em 2013, em Taiwan.
A entrada na Olimpíada modificou o patamar do break em alto nível e nos praticantes de nível amador.
— É uma forma de ser reconhecido. É um esporte invisibilizado.
A frase acima é do B-boy (termo usado para designar pessoas do gênero masculino que praticam a modalidade) Billy Anderson, 29 anos, portador do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e autista de baixo suporte. Morador de Novo Hamburgo, ele pratica o esporte desde os oito anos de idade, com o apoio da mãe.
Billy tinha o costume de olhar vídeos de outros B-boys na televisão e na internet para adaptar passos a seu modo. A maior referência dele foi o B-boy Pelézinho, paulista, um dos maiores praticantes da modalidade no país. Mais do que uma atividade física, o gaúcho considera o break uma ferramenta de inclusão na sociedade.
Sem apoio público e condições de treinar em casa, Billy geralmente faz seus movimentos em locais com mais espaço para a prática do break. A única ajuda que conseguiu foi pelo edital “Segue o Jogo”, que o ajudou a obter roupas para a prática do esporte e tênis.
Para fazer suas viagens para competição, precisa realizar vaquinhas para cobrir os custos. Foi isso que aconteceu nos dois últimos anos, quando viajou a Brasília para disputar o “Quando as Ruas Chamam”, campeonato nacional realizado no Distrito Federal. Billy obteve bons resultados, conquistando vice-campeonato em 2022 e troféu de campeão no ano passado.
— O breaking vinha buscando reconhecimento há muito tempo. Eu já dancei em uma sala de escola pública em Novo Hamburgo para mostrar a crianças um pouco mais da modalidade. O ingresso na Olimpíada foi luta coletiva. Agora, é entrar no mundo paralímpico — diz Billy.
Ainda que o poder público não apoie Billy, a Federação Gaúcha de Breaking é uma das entidades que ajudam o atleta a treinar. A presidente da entidade fundada em 2021, Claudisseia Santos, é uma das precursoras do esporte no Rio Grande do Sul. Segundo ela, o Estado tem cerca de 100 adeptos da modalidade e seu objetivo é criar políticas para o desenvolvimento do esporte para obter o suporte do governo estadual.
Atleta desde o fim de 2006, antes de ser presidente da federação, Claudisseia também foi militante, dando aulas e cursos. Ela esteve em campeonato internacional, em 2012, no Chile, quando ficou em terceiro lugar e foi a primeira mulher a representar o Estado fora do país.
Agora como dirigente da modalidade no Estado, ela pretende deixar um legado estrutural para as próximas gerações de B-boys e B-girls. O desejo é construir centro de treinamentos na Restinga, bairro na zona sul da Capital, no Pavilhão Ecossustentável de Cultura Hip Hop e Esportes Radicais. O que seria a casa do break no Estado. Quiçá no Brasil.
— Espero que a entrada da modalidade fomente o breaking. Estaremos fora dos Jogos de 2028, mas voltaremos em 2032. O nosso legado da discussão do esporte no Brasil será a criação das federações país afora — pontuou.
O break nos Jogos Olímpicos
A modalidade fez sua estreia olímpica nos Jogos da Juventude de Verão de Buenos Aires em 2018. Depois da popularidade obtida no evento, o comitê organizador de Paris propôs que o break participasse do programa da Olimpíada na França.
O COI confirmou sua inclusão em Paris 2024 em 2020. A competição terá dois eventos — um masculino e um feminino — em que 16 B-Boys e 16 B-Girls se enfrentam em batalhas solo.
Regras da competição de break em Paris 2024
Em competições de break, dois breakers se enfrentam. Um breaker performa e então seu oponente responde, enquanto cinco juízes avaliam os atletas em seis critérios: criatividade, personalidade, técnica, variedade, performance e musicalidade. Durante a competição, cada juiz cadastra as notas em um tablet para determinar as pontuações de cada quesito.