Pouco conhecido no Brasil, que ganhou sua primeira medalha em Pan-Americanos no ano passado, o beisebol tem tradição consolidada nos Estados Unidos. Recentemente, o japonês Shohei Ohtani assinou o maior contrato da história do esporte dos EUA.
A estrela da Major League Baseball (MLB) acertou sua ida para o Los Angeles Dodgers por nada menos do que US$ 700 milhões (cerca de R$ 3,5 bilhões) por 10 anos. Sem tradição na França, o esporte não estará no programa olímpico dos Jogos de Paris, mas esteve em Tóquio e voltará em Los Angeles, em 2028.
Em Porto Alegre, os domingos são especiais para praticantes da modalidade. Sempre às 9h, 25 pessoas se aproximam de um dos gramados do Parque Marinha. Estendem um banner com o nome White Tigers e começam a tirar das mochilas tacos, bolinhas com costuras, capacetes e luvas.
Os Tigres Brancos, na tradução do inglês, nasceram de uma colônia japonesa do RS. Thiago Yuuki Kajiwara, 32 anos, atual presidente do White Tigers, é neto de Taketo Uto, fundador de um dos primeiros times de beisebol do Estado.
O começo da equipe foi em 2009, ainda ligada à Enkyosul, Associação de Assistência Nipo Brasileira do Sul. A modalidade era praticada em uma colônia de férias, principalmente por jovens “nikkei” (denominação em língua japonesa para os descendentes de japoneses nascidos fora do Japão).
— Quando nossos antepassados vieram para cá, era uma forma afetiva de praticarem algo tradicional de onde nasceram. Hoje, é uma forma de manter a cultura deles, mas encaramos mais como hobby — conta Thiago, que leva “Yuuki” no seu uniforme listrado preto e branco.
De time da associação, a equipe trocou o nome para White Tigers dois anos depois, buscando mais identidade. Aos poucos, foi atraindo ainda mais praticantes (ou curiosos). O próprio material de divulgação deixa claro que os Tigres Brancos estão abertos para todos — dos iniciantes aos que já têm mais conhecimento da modalidade, tradicional nos Estados Unidos, na América do Norte e no Japão.
Desafios
Os treinos são de graça, o material todo é fornecido pelo time e as orientações são passadas também para os leigos. Um dos atletas atraídos foi Fabrício Santos, de 28 anos, que chegou ao White Tigers em 2019, pouco antes da pandemia. Levado por um amigo, começou a frequentar os treinamentos da equipe e entrou de cabeça na modalidade.
— Já tinha interesse no beisebol. Comecei a ver também animes de beisebol e a acompanhar os jogos da MLB. Vinha semanalmente e virou uma família — disse Fabrício, que também é um dos vice-presidentes da equipe.
A união do time chamou a atenção de atletas de outras nacionalidades. Hoje, o White Tigers tem integrantes da Venezuela, do Canadá e também do Japão. Mas nem tudo são flores para esportes menos conhecidos no Brasil. A equipe de Porto Alegre esbarra em questões estruturais e também financeiras. O principal obstáculo para os treinamentos é quanto ao local de prática.
Os alvinegros já treinaram no Anfiteatro Pôr do Sol e no Parque Moinhos de Vento. Nas quartas-feiras, treinam de noite na Redenção, e, nos domingos de manhã, no Parque Marinha. Não bastasse o nomadismo dos locais de treinos, precisam contar com a boa vontade do poder público. No Marinha, metade do gramado estava com a grama cortada e a outra com ela alta. Com as tacadas para fora das grades, algumas bolas de beisebol, que custam na média R$ 50, se perdem em meio ao capim alto.
O aspecto financeiro é agravado pela falta de patrocinadores para viagens e disputas de campeonatos. Recentemente, conseguiram adquirir dois tacos que custam em média R$2 mil. Além de uma contribuição voluntária dos jogadores do time, o White Tigers passou a contar, esse ano, com o apoio da Associação Neo Petropolitana de Sumô.
Durante o Festival do Japão, promovido pela entidade, o time ficou responsável por cuidar de uma das barracas. Do valor arrecadado, recebe 30%. Esse montante ajuda a financiar viagens, como a da disputa do torneio Taça Brasil de Beisebol Independente, realizado em Ibiúna (SP).
— A gente sempre dá um jeito, mas seria importante contarmos com um patrocínio privado. Em 2023 nos tornamos uma empresa e montamos uma apresentação para levarmos aos interessados — explica Thiago Yuuki Kajiwara, 32 anos, atual presidente do time.
O beisebol nos Jogos Olímpicos
Estreou oficialmente como modalidade olímpica nos Jogos Olímpicos de Verão de 1992 em Barcelona, mas fez sua primeira aparição nos Jogos de 1912, como esporte de demonstração.
Foi excluído do programa em Londres, em 2012, mas retornou em 2020 no Japão. Não fará parte das Olimpíadas de Paris neste ano. A equipe de Cuba é a maior campeã com três medalhas de ouro em seis torneios olímpicos disputados.
Regras do beisebol
De acordo com as regras do beisebol, uma partida funciona por jogadas em que acontecem lançamentos e rebatidas de bola e o ataque e a defesa de bases. Por isso, usam-se também luvas, tacos e capacetes. Durante um jogo, os times se revezam entre ataque e defesa.
Quem defende, lança a bola e protege as bases; quem ataca, rebate a bola e procura ocupar as bases. O objetivo de um jogo de beisebol é marcar mais pontos do que o adversário. Para marcar um ponto, o rebatedor tem de percorrer as quatro bases sem ser eliminado.
Cada time conta com até nove jogadores dentro de campo, de acordo com as regras do beisebol. O campo tem um formato de diamante, com um raio entre 90 e 109 metros de comprimento. Na ponta desse diamante fica o home plate, que é, ao mesmo tempo, o local onde ocorrem as rebatidas e onde terminam as corridas para pontuação.