O Comitê Olímpico do Brasil (COB) publicou, nesta sexta-feira (12), uma carta aberta aos skatistas, na qual diz que a preparação para os Jogos Olímpicos de Paris-2024 não será prejudicada em meio à crise política vivida pela modalidade neste momento. Com a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) desfiliada da World Skate (WS), a federação internacional reguladora do skate e dos esportes sobre patins, no âmbito olímpico, o COB foi nomeado para representar os skatistas até a realização da Olimpíada.
A longo prazo, a WS deu à Confederação Brasileira de Hóquei e Patins (CBHP) a responsabilidade de constituir uma nova federação, que incluirá também o skate. Tal mudança para uma entidade de cultura diferente à do skateboarding desagradou os skatistas, que, além de terem comprado a briga da CBSk, mostraram preocupação com a reta final da preparação para a Olimpíada. A carta do COB tenta tranquilizar os atletas.
"Sempre preservaremos o bem-estar e a saúde física de nossos atletas e sempre estaremos ao seu lado, trabalhando em parceria, por compartilharmos o mesmo sentimento: amor pelo esporte. O COB assegura que a preparação olímpica rumo a Paris 2024 dos atletas, cujos resultados esportivos tanto nos orgulham, não será comprometida. Esse respaldo também se estende a todos os integrantes de suas comissões técnicas. Nós nos comprometemos a dar o nosso melhor. O talento e determinação de nossos skatistas nos dão a certeza de que compartilharemos momentos de muita emoção no pódio dos Jogos Olímpicos", diz o texto, em seu trecho final.
No decorrer do comunicado, o presidente Paulo Wanderley explica porque o COB se manteve neutro durante o impasse e, posteriormente, atendeu ao pedido da WS para gerir o skate provisoriamente. A postura do Comitê brasileiro foi bastante criticada nos últimos meses pela CBSk, que desejava apoio, mas o COB não se envolveu. A CBSk acabou desfiliada porque negou uma fusão com a CBHP, movimento exigido pela World Skate a partir do momento em que foi instituída uma nova regra obrigando cada país a ter apenas um representante junto à federação internacional.
"O Comitê Olímpico Internacional (COI) é a autoridade máxima deste sistema, em termos de gestão. Já os Comitês Olímpicos Nacionais (CONs) são representantes do COI em seus respectivos países. Entre inúmeras outras atribuições, cabe aos CONs garantir a participação de sua delegação nos Jogos Olímpicos, seja através da inscrição propriamente dita, seja por meios que viabilizem a sua preparação olímpica e toda a logística operacional. Por sua vez, as Federações Internacionais (FIs) são responsáveis perante o COI por estabelecer as regras de cada esporte, por gerir as competições nos Jogos Olímpicos e organizar os campeonatos mundiais. Nesta engrenagem, cabe às Federações Internacionais designar a única entidade nacional responsável por administrar o seu esporte nos países filiados ao COI", diz a carta do COB.
A seguir, Paulo Wanderley diz que o COB poderia ter sido punido caso interviesse a favor da CBSk e não tivesse seguido a determinação da World Skate. "Neste contexto, de acordo com a Carta Olímpica, os Comitês Olímpicos Nacionais têm que seguir a determinação das Federações Internacionais em relação a este ponto. Se não o fizerem, existe o risco de sanções - como, por exemplo, o Brasil não poder ter representações em Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais nessas modalidades específicas. O COB, como parte do Sistema Olímpico, planeja, executa, fomenta e segue as orientações e decisões de várias entidades internacionais: Organização Desportiva Sul-americana, Organização Desportiva Pan-americana, Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais, Federações Internacionais, Comitê Olímpico Internacional e a Agência Mundial Antidoping."
Skatistas se manifestam
Antes da divulgação da carta do COB, alguns dos principais skatistas do Brasil se manifestaram em apoio à CBSk, como já vinham fazendo anteriormente, quando a entidade brigava contra a fusão. Gabi Mazetto, que não foi aos Jogos de Tóquio, em 2021, porque teve de abandonar a corrida olímpica ao engravidar da filha Liz, foi uma das primeiras a se pronunciar.
—Essa decisão injusta e não democrática abala meu preparo psicológico, técnico e físico para os Jogos Olímpicos. Durante a gravidez e hoje durante este processo da lesão, a equipe da CBSK sempre esteve presente, poderiam ter desacreditado em mim, mas eles me apoiaram e deram todo o suporte preciso. Sinto uma tristeza profunda ao ter que representar uma federação que nunca fez algo pelo skate, eu me mantenho leal ao skateboarding— escreveu no Instagram.
Medalhista de prata olímpico no park, Pedro Barros também defendeu a CBSk. Em nota, citou a entidade como responsável por tirar o skate da condição de "modalidade negligenciada e marginalizada" no País e criticou a exigência de fusão com a CBHP, dizendo que seria como o basquete começar a ser representado pela federação de vôlei.
—Existe uma cultura ligada a essas duas modalidades, e não seria justo com a comunidade do basquete, ou com a comunidade do vôlei, tratá-las da mesma maneira. Do mesmo jeito que não é justo fazer isso com o skate, ou qualquer outra modalidade que se sinta invadida ou não representada. No meu ponto de vista, a forma como isso tudo vem sendo conduzido é extremamente confuso, falta diálogo e não me parece nem razoável e nem democrático— escreveu.
Giovanni Vianna, atual campeão da Liga Mundial de Skate (SLS), engrossou a lista de apoio à confederação.
— Devido ao últimos acontecimentos, estou aqui para falar que estou junto com a CBSk e ao skateboard. A CBSk vem fazendo um ótimo trabalho, não só olímpico, mas no skate brasileiro em geral. Também é a entidade que eu me sinto representado, se não for o skateboard, não tem sentido tudo isso— escreveu.
Entenda o caso
A World Skate (WS) retirou a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) do seu quadro de filiados nesta quarta-feira. A decisão também colocou o Comitê Olímpico do Brasil (COB) como gestor direto do skate no País, até a realização dos Jogos Olímpicos de Paris-2024, e deu sinal verde para a Confederação Brasileira de Hóquei e Patins (CBHP) se tornar a nova representantes dos skatistas, mediante o cumprimento de uma lista de exigências.
Existia um impasse porque a WS exigiu que cada nação passasse a ter apenas uma representação em seu quadro, e o Brasil tinha duas: a CBSk e a CBHP. A instituição internacional chegou a propor uma fusão às duas entidades, mas nenhum acordo foi atingido. A CBSk vinha desafiando a determinação, pois vê a CBHP tentando "se apropriar do skate", como foi dito em carta aberta divulgada há uma semana. Os principais nomes do skate brasileiro da atualidade, como Rayssa Leal, Pedro Barros e Giovanni Vianna, além de veteranos do calibre de Bob Burnquist e Sandro Dias, vinham se manifestado publicamente contra a fusão, pedindo que "o skate continue nas mãos dos skatistas".
A WS critica a CBSk por ter "recusado qualquer diálogo com a CBHP" e a de ter realizado uma "campanha difamatória na mídia contra a World Skate e suas regras". O texto também destaca a falta de "intenção de se associação como a CBHP e demais esportes regidos pela World Skate" e diz que a proposta apresentada pela CBSk não está de acordo com as determinações da World Skate, uma vez que previa manter duas entidades separadas sem criar uma organização guarda-chuva".
A CBHP, por sua vez, aceitou se transformar na "organização guarda-chuva", que, assim como a World Skate faz a nível internacional, representará diferentes categorias do skate e dos esportes sobre patins. Agora, a entidade brasileira de patins e hóquei terá até abril estabelecer uma nova federação chamada "Skate Brasil". Para ser aprovada, terá de provar à WS as condições necessárias para a criação do novo órgão, o que passa por conceder autonomia financeira e técnica a cada esporte e cumprir "todas as Cartas Mundiais de Skate e as Normas Olímpicas Nacionais relevantes".