O hóquei sobre grama é uma modalidade bastante tradicional na Europa (Holanda, Bélgica e Alemanha) e na Argentina, mas tem prática restrita aqui no Brasil. O esporte, que está no programa olímpico desde Londres 1908, chegou ao país no fim do século XIX com os ingleses que viajavam a trabalho.
Segundo o site do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Charles Miller, o pai do futebol brasileiro, praticava hóquei sobre grama na Inglaterra e alguns estudiosos também o apontam como um dos introdutores do esporte no Brasil. Em 2012, o país participou pela primeira vez de uma competição da Federação Internacional de Hóquei, o Pré-Olímpico de Londres em Kakamigahara, no Japão.
No Rio Grande do Sul, três dias por semana quem se aproxima de uma das quadras do Centro Olímpico de Canoas pode imaginar que os adolescentes e adultos que estão ali se preparam para jogar futebol. Mas estão enganados.
Toda terça, quinta e sábado, a equipe de hóquei sobre a grama da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) da cidade da região metropolitana treina no local para se preparar para os campeonatos. Tudo sob a responsabilidade do professor e técnico Daniel Finco, um dos maiores entusiastas do esporte no RS. E não é possível contar a história do time sem falar de Daniel.
— Conheci a modalidade em 2007 e comecei a desenvolver ela por aqui em 2008. Ofereci na escola municipal Duque de Caxias, em Canoas e, no segundo ano, já tínhamos mais de 100 alunos praticando — conta Finco.
Em um primeiro momento, recebeu o apoio da prefeitura. Depois, entre 2016 e 2017, passou a contar com o suporte da AABB, o que permitiu melhores condições para a equipe. A associação e a entidade pública financiam, atualmente, dois professores e também parte do material esportivo utilizado pelos jogadores — um taco custa entre R$ 100 e R$ 1000, uma bola cerca de R$ 50 e a roupa do goleiro R$ 18 mil.
Incentivo
Com os altos custos do esporte, o treinador e a equipe buscam incentivo público e também privado. A meta é conseguir captar o dinheiro em 2024 para entrar no ano que vem com mais capacidade de disputar campeonatos fora do estado e do Brasil.
— A gente precisava dar apoio para o esporte. Nos dá orgulho, mas também mostra que nossa aposta deu certo — ressalta Paulo Addevico, presidente da AABB de Canoas.
O projeto socialmente e desportivamente deu certo. Atualmente, faz parte do programa da secretaria de esportes da cidade. Três escolas têm o hóquei na grama no contra turno escolar. E as conquistas são motivo de orgulho para eles também. No último Campeonato Brasileiro, em dezembro do ano passado, no Rio, saíram com quatro medalhas.
Os bons resultados também chamaram a atenção das seleções brasileiras de base. Até o momento, seis atletas do time canoense já foram convocados para representarem o país em treinamentos ou em competições internacionais.
Um dos chamados é Henrique da Silva, de 16 anos, morador de Canoas. Como praticamente todo jovem que nasce no Brasil, tinha o sonho de ser jogador de futebol. Chegou a passar em peneiras no São José e no Grêmio, mas pela distância, optou por não defender nenhuma equipe. A chegada ao hóquei foi pelas mãos da mãe, Dienifer Lima, e do padrasto, Abner Gomes. Foi paixão à primeira vista.
— Eu me encontrei aqui. Quando treino, esqueço de tudo. Pratico há pouco menos de dois anos e depois de seis meses fui chamado pela primeira vez para defender o meu país — recorda Henrique.
Ele já foi convocado para a seleção sub-17 e também sub-21, na qual se apresentará para um período de treinos nesta terça no Rio de Janeiro. A vida é de atleta. Diariamente, faz musculação, corre 5km e pratica os exercícios da planilha passada pela Confederação Brasileira de Hóquei sobre a Grama e Indoor (CBHG). Frequenta a nutricionista e também faz acupuntura. O esporte o faz melhorar até na escola — está no 1º ano do ensino médio.
O hóquei sobre a grama ainda proporcionou experiências únicas para o menino de Canoas. No ano passado, fez sua primeira viagem de avião e logo para Barbados, na América Central. Sozinho, passou oito dias na ilha, sem falar inglês. Ele admite que ficou nervoso, mas teve mais uma prova de resiliência e conseguiu se virar no país.
— Estou pronto para novos momentos assim.
As regras do hóquei sobre a grama
É um esporte coletivo disputado por duas equipes compostas por 11 jogadores cada. O jogo é disputado num campo de grama artificial. Os jogadores usam tacos para conduzir a bola, fazer passes para os jogadores de sua equipe e tentar marcar o gol.
A partida é dividida em quatro tempos de 15 minutos cada. O campo oficial deve ter as seguintes medidas: 91,4m de comprimento por 55m de largura.