A chave do mundo esportivo começa a virar. Nos próximos meses, o futebol passará a dividir mais espaço com as 50 modalidades que integram o programa dos Jogos Olímpicos de Tóquio, que serão realizados de 24 de julho a 9 de agosto de 2020. Nesta quarta-feira (24), a contagem regressiva chega à marca de um ano para a cerimônia que dará início ao megaevento japonês e colocará frente a frente os melhores atletas do planeta.
Para a nata do esporte brasileiro, o momento é de intensificação da preparação física, técnica e emocional em busca de uma vaga na competição. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) planeja enviar entre 250 e 260 atletas na delegação para o Japão — contingente próximo aos 259 de Londres 2012 e bem abaixo dos 465 no Rio 2016, quando o país recebeu a competição e teve o direito de inscrever representantes em praticamente todos os esportes.
— A gente tem um histórico que envolve essa quantidade de atletas. O grosso das qualificações olímpicas começa no meio do ano. Mas a nossa expectativa é essa e não muda: entre 250 e 260 atletas — revelou Jorge Bichara, diretor de Esportes do COB.
Do projetado, o Brasil já garantiu 41 vagas com um ano de antecedência. Mas, por enquanto, apenas um nome é conhecido pela torcida: Ana Marcela Cunha. A nadadora baiana, que costuma apresentar um novo penteado a cada competição internacional, confirmou presença em sua terceira Olimpíada da carreira no último dia 13, ao encerrar a prova dos 10km da maratona aquática do Mundial de Esportes Aquáticos, na Coreia do Sul, com a quinta colocação — as 10 primeiras garantiam vaga aos Jogos japoneses.
Ana Marcela Cunha, fenômeno mundial
A brasileira de 27 anos é um dos principais nomes da modalidade. Dias depois, foi campeã mundial nos 5km e tetracampeã nos 25km.
— Estou feliz por estar na Olimpíada. É gostoso ter um ano para se preparar para estar lá, meu sonho é uma medalha olímpica — disse logo após a prova, ainda ofegante.
O Mundial quase perfeito, no entanto, ficou aquém das expectativas da própria atleta.
O sorriso no rosto e o orgulho por figurar no lugar mais alto do pódio em duas provas, que não eram exatamente sua prioridade, não esconderam uma pitada de decepção pela falta de medalha nos 10km.
— A gente sempre vem para vencer. Treinamos principalmente para os 10km e os 5km, então estávamos prontos. Faz dois Mundiais que eu saio com três medalhas. Nesse estou saindo só com duas, mesmo que sejam duas de ouro. O aproveitamento foi de 66%. É bom, mas ainda não é o que a gente quer — analisa a exigente atleta.
Mas engana-se quem não vê na supercampeã uma oportunidade de pódio olímpico. Apesar de não ter medalhado em Pequim 2008 e Rio 2016 e ter ficado de fora de Londres 2012, Ana Marcela coleciona recordes. É a mulher com mais pódios em águas abertas na história dos Mundiais: cinco ouros, duas pratas e quatro bronzes.
— Ela ganha muito mais no psicológico, na força, na cadência e na leitura do ambiente. A Ana sabe tudo o que está acontecendo ao lado dela. Ela sabe quem está acelerando, quem não está. A leitura dela é excelente. Ela treina todo o dia e é uma atleta muito dedicada — ressaltou seu técnico Fernando Possenti.
Na Olimpíada de 2020, Ana Marcela entra para a história antes mesmo de competir. Isso porque, entre as 25 mulheres que participaram da estreia olímpica do esporte, em Pequim 2008, a baiana é a única que estará no Japão.
— Fico feliz pela minha história e trajetória. Eu ralo muito e sei do meu potencial, mas me falta essa medalha. É tudo o que mais quero — encerra a atleta, que não terá descanso: no dia 31, embarca rumo a Lima para a disputa dos Jogos Pan-Americanos.
Se chegar a mais um ouro no Peru, a temporada 2019 se tornará inesquecível para Ana Marcela Cunha. Afinal, será a primeira vez que ela voltará para casa com dois ouros mundiais e um Pan-Americano em ano pré-olímpico.
Além de Ana Marcela Cunha na maratona aquática, as outras 40 vagas garantidas até agora pelo Brasil estão distribuídas em quatro modalidades: futebol feminino (18), rúgbi feminino (12), vela (6) e natação (4). No entanto, as identidades dos atletas só serão conhecidas mais tarde, conforme convocações ou critérios de escolha de cada confederação.
O segundo semestre deste ano será decisivo para algumas modalidades. O vôlei, por exemplo, terá seu primeiro torneio classificatório em agosto. Mas a maioria das vagas será definida nos primeiros meses de 2020. O pré-olímpico do futebol masculino está programado para janeiro. A equipe da natação sairá de seletiva em abril.
Já o atletismo brasileiro ainda não confirmou os critérios de qualificação para Tóquio. Embora oito atletas já tenham obtido os índices estipulados pela Associação Internacional das Federações de Atletismo (Iaaf), não há garantia de que essas marcas os levem ao Japão. O triplista da Sogipa Almir dos Santos Júnior, por exemplo, cravou 17m15cm na prova durante um meeting na Suíça, no último dia 30, e superou por um centímetro o índice olímpico.
Cautela do COB
Diferentemente dos preparativos para os Jogos do Rio 2016, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) prefere adotar a cautela em relação a metas de pódios para Tóquio. Segundo Bichara, antes de projetar números de medalhas, o Brasil precisa garantir o maior número possível de atletas na Olimpíada.
— Vamos aguardar o final dos Campeonatos Mundiais deste ano, avaliar o que teve de sucesso e o que não teve, as condições dos atletas e o processo de preparação das equipes coletivas para estabelecer um potencial de resultados para os Jogos Olímpicos. Temos sempre um olhar realista sobre o nosso potencial, entendemos que a Olimpíada é a competição alvo de todos os países e sabemos do nível emocional que envolve. Então, neste momento, não vamos estabelecer um parâmetro de medalhas, como foi feito nos Jogos do Rio — finalizou o dirigente.
Para os Jogos de 2016, o COB estabeleceu duas metas ambiciosas para o Time Brasil: conquistar até 30 medalhas e fechar a participação na Olimpíada do Rio no top 10 no quadro geral. Com 19 medalhas (sete de ouro), o Brasil terminou em 13º lugar.
Veja os critérios de classificação de cada modalidade e os brasileiros já qualificados: