O Brasil está prestes a repetir o período de seca que enfrentou entre 1970 e 1994, sem títulos de Copa do Mundo. Os 24 anos longe da maior glória do futebol serão completos, mais uma vez, em 2026. A última vez em que a Seleção Brasileira venceu um Mundial foi em 2002, com os três "Rs" — Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho — e sob a batuta de Felipão.
O time de Carlos Alberto Parreira chegou pressionado aos Estados Unidos em 1994. Os fracassos acumulados desde 1974 haviam chegado ao auge na Copa de 1990, na Itália. Comandada por Sebastião Lazaroni, a Seleção caiu logo nas oitavas de final, para a Argentina.
Ao menos 10 jogadores convocados por Lazaroni também foram chamados por Parreira: Taffarel, Jorginho, Branco, Dunga, Müller, Aldair, Ricardo Rocha, Mazinho, Romário e Bebeto.
"Não se ganha com um ou dois. A gente sabia que o Romário e o Bebeto estavam em uma fase espetacular. Tivemos a habilidade de jogar para eles."
BRANCO
Lateral-esquerdo do Brasil na Copa do Mundo de 1994
O jornalista Antônio Carlos Macedo, então repórter da Rádio Gaúcha, acompanhava os jogos do Brasil e lembra o tamanho da cobrança. Ele destaca que o time de Parreira já era vaiado nas Eliminatórias.
— Era uma pressão que vinha de muito tempo. Especialmente, depois do fracasso de 1990. Teve aquela grande campanha de 1982, que acabou não dando em título. Em 1986, o time já era cansado. E em 1990 foi aquele vexame de cair fora logo no primeiro mata. A pressão era muito forte, em especial da imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em São Paulo, no jogo contra o Equador, a seleção foi vaiada. Venceu por 2 a 0 e ainda assim foi vaiada — comenta.
Mesmo classificada para a Copa do Mundo, a pressão continuou, recorda Macedo. Novamente, havia uma expectativa criada em torno do time do chamado "país do futebol".
— Quando se classificou, ficou um clima de expectativa para ver o que o time podia render na Copa. E como não começou jogando um futebol muito deslumbrante, a pressão continuou — explica.
"A pressão que sofríamos era enorme. Parte da imprensa torcia contra. Era quase terrorismo."
GILMAR RINALDI
Goleiro reserva do Brasil na Copa do Mundo de 1994
Redenção
Aquela geração de jogadores brasileiros encontrou a redenção ao vencer a Itália, na decisão por pênaltis, há exatos 30 anos: 17 de julho de 1994, no Rose Bowl, em Pasadena, na Califórnia. Com uma campanha marcada pela eficiência — 11 gols marcados e apenas três sofridos —, venceu o título de forma invicta.
Um dos quatro gaúchos daquele grupo, Branco personificava a luta pela volta por cima. O lateral-esquerdo, nascido em Bagé, também havia sido titular em 1986 e 1990, com resultados negativos. Como se não bastasse, ficou de fora das primeiras partidas da Copa dos Estados Unidos por conta de dores lombares, o que reforçava o coro de quem via nele um atleta ultrapassado, aos 30 anos.
Atualmente coordenador das categorias de base da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Branco afirma acreditar que a atual geração, recentemente eliminada nas quartas de final da Copa América para o Uruguai, pode render alegrias ao país. Para o ex-jogador, com qualidade individual inegável, os atletas brasileiros precisam reforçar o senso de coletividade.
— São jovens que já têm grande experiência, principalmente por jogarem na Europa, em grandes clubes e ligas. Eles estão precocemente acostumados com esse tipo de pressão. Acima de tudo, é se fechar, futebol é coletivo. Não se ganha com um ou dois. A gente sabia que o Romário e o Bebeto estavam em uma fase espetacular. Tivemos a habilidade de jogar para eles. É preciso um dar a mão para o outro. Sei que a geração é talentosa, até porque a maioria trabalhou comigo aqui na base — avalia Branco.
No grupo campeão em 1994, o mais velho era o goleiro reserva, e também gaúcho, Gilmar Rinaldi, então com 35 anos. O ex-atleta observa um cenário diferente do que era vivido há três décadas. Mesmo assim, deixa um recado para o grupo atual da Seleção, de Vini Júnior, Raphinha, Paquetá, Endrick e companhia.
— A pressão que sofríamos era enorme. Parte da imprensa torcia contra. Era quase terrorismo. Não queriam o Parreira, queriam o Telê (Santana), mas deixamos de lado as vaidades para valorizar o grupo e a pressão ajudou a nos unir anda mais. Vamos completar 24 anos sem título novamente, mas em uma situação diferente, sem cobrança e com um certo desinteresse pela Seleção. Minha dica é se preparem, façam o que acreditam ser o correto, independente do que esteja do lado de fora — comenta Rinaldi, que foi coordenador de seleções da CBF de 2014 até 2016.
O Brasil está na sexta posição das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026, que será sediada no Canadá, nos Estados Unidos e no México. O técnico Dorival Júnior, que assumiu em janeiro, tem a missão de recuperar o desempenho da Seleção. Por enquanto, a equipe está na última posição que concede vaga direta para o próximo Mundial. Ainda faltam 12 jogos para que a fase classificatória para a próxima Copa seja concluída.