Há exatos 30 anos, no agora longínquo 17 de julho de 1994, quatro gaúchos protagonizaram a conquista do tetracampeonato mundial da Seleção Brasileira, nos Estados Unidos. Dunga e Branco converteram dois pênaltis na final, enquanto Taffarel pegou um dos três desperdiçados pela Itália. Gilmar Rinaldi, do banco, observou e aconselhou os companheiros como o mais velho do grupo.
Dunga, o capitão
Coube a Carlos Bledorn Verri, o Dunga, levantar a taça de campeão. Natural de Ijuí, na região noroeste do Rio Grande do Sul, o volante chegou à Copa do Mundo "marcado na paleta" — ditado gauchesco para quando alguém está pré-definido por algum fato ou conceito. Com 30 anos na conquista do Tetra, o atleta formado no Inter era estigmatizado pelo fracasso na Copa de 1990, na Itália, na qual a Seleção não passou das oitavas de final, quando foi eliminada para a Argentina.
Dunga era o "cabeça de área" do técnico Sebastião Lazaroni. O jogador deu nome ao que se costumou chamar de "Era Dunga", isto é, uma equipe que seria mais afeita à marcação do que ao ataque e que, desta forma, não agradou a muita gente.
Quatro anos depois, veio a redenção, desta vez, com a braçadeira de capitão. Na época, atuava pelo Stuttgart, da Alemanha. Além de uma liderança em campo, o volante foi o campeão de desarmes na competição — média de oito por jogo — e teve direito à uma assistência para Romário, no primeiro gol na goleada por 3 a 0 diante de Camarões, na fase de grupos.
Assim como Taffarel, cria das categorias de base do Inter, Dunga viveu na Seleção Brasileira o maior momento como atleta de futebol. No clube gaúcho, surgiu em 1981 e jogou por cerca de três anos, quando se transferiu para o Corinthians. No Brasil, também passou por Santos e Vasco, além de Pisa, Fiorentina e Pescara na Itália e Júbito Iwata, no Japão. No entanto, é com a amarelinha que é lembrando até hoje, em uma trajetória que o credenciou a ser técnico da Seleção duas vezes: entre 2007 e 2010 e entre 2014 e 2016.
Branco, o salvador
Partiu da perna esquerda de Cláudio Ibraim Vaz Leal a bola que colocou o Brasil na semifinal da Copa. Cria da Rainha da Fronteira, como é chamada a cidade de Bagé, na campanha gaúcha, Branco despontou na terra natal pelo Guarany e se estabeleceu como jogador de alto nível no Fluminense, time em que atuava em 1994.
O duelo diante da Holanda, no Cotton Bowl, em Dallas, no Texas, pelas quartas de final, encaminhava-se para o final em 2 a 2. Contudo, aos 36 minutos do segundo tempo, Branco disparou uma bomba em cobrança de falta da intermediária ofensiva. Um "pombo sem asas" que voou baixo e ainda beijou caprichosamente a trave esquerda de De Goej ao adentrar. Lance que a edição de Zero Hora sobre o título, em 18 de junho, classificou como "o gol salvador de Branco".
Na coletiva de imprensa após a partida, Branco afirmou que "este foi o gol cala a bola", conforme registrado pelo repórter Nico Noronha, enviado especial de Zero Hora. O lateral-esquerdo voltava a atuar justamente na partida em que fora decisivo. Nos jogos iniciais, ficou de fora por conta de dores lombares provocadas por uma inflamação no nervo ciático.
A partir daquele jogo, Branco se mostrou livre não só da enfermidade tratada pelo médico Lídio Toledo, mas também do peso que carregava pelas derrotas de 1986, no México, e de 1990, na Itália. Titular nos dois insucessos anteriores do Brasil em Copas do Mundo, o gaúcho chegou ao Mundial de 1994, aos 30 anos, tratado como um atleta "superado". Assim como Dunga, provou que a história é feita por quem a escreve, ou melhor, por quem a joga.
— Acho que Deus preparou aquele jogo para mim. Quem levou aquela bola foi o velhinho lá de cima. Até porque eu tive uma inflamação no nervo ciático, e o Parreira, o Lídio (médico), toda a comissão técnica, o Zagallo (coordenador), confiaram em mim e eu dei o retorno no momento determinante — afirmou Branco em entrevista especial para ZH sobre os 30 anos da conquista do Tetra.
Taffarel, "sai que é sua"
Eternizado para o Brasil na narração de Galvão Bueno, pela TV Globo, Cláudio André Taffarel saiu da meta para entrar na história. Depois de Baresi bater para fora e Albertini e Evani converterem suas cobranças na final, o atacante Massaro parou no gaúcho de Santa Rosa, município do noroeste do Estado. Baggio completou as cobranças, por cima das traves de Taffarel.
O goleiro de 28 anos, na ocasião, já via os cabelos louros começarem a rarear. Taffarel conhecia bem os italianos. Estava no Reggiana e já tinha três temporadas pelo Parma no currículo (ambos na segunda divisão atualmente).
O jovem goleiro surgiu em meados nos anos 1980 no Inter. Apesar de se afirmar como uma referência na posição, Taffarel viveu no Beira-Rio um período em que os grandes títulos passavam longe. É verdade, porém, que beliscou o Campeonato Brasileiro duas vezes consecutivas, em 1987, quando perdeu a final da Copa União para o Flamengo, e em 1988 — na decisão jogada em 1989 — ao deixar a taça escapar para o Bahia. Nas duas oportunidades, Taffarel estava no gol colorado.
Como muitos da chamada "Era Dunga", Taffarel também emergiu do fracasso para a glória. De quebra, o goleiro deixou dois colegas de posição mais experientes para trás. Zetti, do São Paulo, e Gilmar Rinaldi, do Flamengo, aplaudiram, no banco, as atuações do camisa 1.
Gilmar Rinaldi, o experiente
Entre os atletas, a voz da experiência. Gilmar Rinaldi, aos 35 anos, "finalmente" foi levado para uma Copa do Mundo. Nascido em Erechim, no norte do Rio Grande do Sul, o goleiro surgiu no Inter. Com a camisa colorada, chegou a ser campeão brasileiro invicto como reserva do paraguaio Benítez em 1979 e ficou no clube até 1985.
Reserva ao lado de Zetti nos Estados Unidos, Gilmar acumulava ao menos dois títulos que o credenciavam para a Seleção: os campeonatos brasileiros de 1986, pelo São Paulo, e de 1992, pelo Flamengo, time que defendia quando foi convocado em 1994.
— Em 1986, na Copa do México, eu vivia um grande momento. Por política, convocaram quatro goleiros e eu fui cortado. O Leão foi no meu lugar. Já no final da carreira e fora de forma, o destino me colocou de novo no caminho da Seleção. Valeu a espera, realização profissional total — comentou Gilmar Rinaldi em conversa com Zero Hora.
Queixas à parte, lá estava, no gramado do Rose Bowl, Gilmar Rinaldi e o seu bigode. Coube a ele ser um dos jogadores a erguer a faixa em homenagem ao piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, morto há pouco mais de dois meses, com os dizeres: "Senna... aceleramos juntos, o Tetra é nosso!", depois da batalha vencida contra os italianos.