Sim, joguei beach tennis em La Paz. Antes de mergulhar na cobertura da estreia do Grêmio na Libertadores, acordei cedo nesta terça (2) e fui a um clube na zona sul da capital boliviana jogar uma partida com Rodrigo Arias, 34 anos, atleta profissional e número 2 da Bolívia no ranking mundial da modalidade. O meu objetivo: sentir na pele os efeitos da altitude de 3,6 mil metros, condição que o Tricolor vai enfrentar na partida contra o The Strongest, às 21h (horário de Brasília).
Desde que pousei em La Paz, na noite desta terça, senti poucos sintomas. Apenas uma leve tontura e muita sede. Mas nada além disso. Para praticar esportes, entretanto, a situação é totalmente diferente. Afinal, em virtude da baixa pressão atmosférica, a concentração de oxigênio em altitudes elevadas é muito menor, o que exige muito do nosso organismo, sobretudo em atividades de esforço físico intenso, como é o caso do beach tennis, esporte que pratico desde 2019.
Confesso que estava um pouco temeroso quando cheguei ao Club de Tênis de La Paz, na zona sul da cidade, a convite de Arias e acompanhado do meu amigo, narrador da Rádio Gaúcha e parceiro de cobertura, Marcelo De Bona. Será que eu aguentaria a altitude? Afinal, para contar aos ouvintes, leitores e internautas como é jogar em La Paz, precisaria estar em plenas condições físicas de fazer o meu trabalho.
Mas decidi que tomaria todos os cuidados. Combinei com Arias que faríamos um treino de 30 minutos, e, como o beach tennis é um esporte que permite pausas, se eu me sentisse mal, suspenderia a atividade — e a pauta — imediatamente.
Nos primeiros minutos aquecimento, contudo, logo vi que aguentaria o treino até o fim, possivelmente por estar acostumado a praticar o esporte. Estava me sentindo muito bem na troca de voleios.
Porém, aguentar o treino é uma coisa. Ter performance é outra. Notei que, após qualquer movimento mais intenso, seja para dar um smash de ataque, para buscar um lob no fundo ou para pegar uma curta junto à rede, eu ficava muito mais ofegante do que o normal. Após 15 minutos de troca de bolas, eu respirava como se já estivesse jogando há mais de uma hora.
Para melhorar a dinâmica da pauta, fizemos um "joguinho" eu contra o Arias. Seria um duelo de "tocayos", como dizem os bolivianos, quando duas pessoa têm o mesmo nome. Partida, aliás, que contou com a narração de Marcelo De Bona, material que pode ser conferido nas redes sociais minhas e de GZH.
Neste confronto, percebi que o fôlego é apenas um dos tantos problemas de se jogar beach tennis, futebol ou qualquer esporte com bola em uma altitude tão elevada. Em função da baixa resistência do ar, a bola corre muito. No caso do beach tennis, é como se todos os atletas estivessem sempre sacando à favor do vento. Para defender, é muito mais difícil. Certamente os jogadores de futebol brasileiros têm essa dificuldade com o tempo da bola jogando aqui em La Paz.
Talvez como consequência disso, tanto eu quanto Arias confirmamos o nosso saque. 1 a 1. Como tínhamos pouco tempo, decidimos desempatar em um tie-break. E foi aí que percebi outro sintoma da prática de esporte na altitude: a dor muscular. Uma hora, quando me agachei para buscar uma bola curta do Arias, senti uma dor no anterior da coxa esquerda. Nada sério, apenas fadiga. A questão é que eu costumo sentir este tipo dor após umas duas horas de jogo, não após 20 minutos de treino. Provavelmente, meu organismo já estava sendo exigido ao máximo.
Logo que terminou o jogo, corri ofegante em direção a uma garrafa de água gelada. Aliás, não lembro de alguma vez ter sentido tanta sede. Passei a sentir também uma dor de cabeça e uma tontura leves. Nada grave. Após muitos litros de água e uma boa alimentação, os sintomas passaram.
Contudo, embora eu não seja um atleta profissional, a experiência foi suficiente para saber que, se um jogador não está esbaforido, atirado no chão ou implorando por um cilindro de oxigênio, não significa que ele não está sentindo os efeitos da altitude.
Ah?! Eu não falei ainda sobre o resultado do jogo, né?!. O tie-break com Arias foi bem disputado, mas terminou com vitória boliviana por 7 a 5. Achei um bom resultado, considerando que ele estava jogando em casa e já está adaptado aos efeitos da altitude de La Paz. Afinal, se os times de futebol dão essa desculpa, eu também posso, né?! Ainda mais depois de saber que ela faz muito sentido.