Pelo segundo ano consecutivo na elite do futebol feminino nacional, Grêmio e Inter pretendem repetir o bom trabalho de 2020, mas miram as vagas para a Libertadores na edição 2021 da Série A1 do Brasileirão. Os 16 times proporcionam pagamento e estrutura profissionais as atletas e comissões técnicas, mas esbarram na falta de retorno para os investimentos.
— O campeonato ainda não é rentável. Entendo que isso seja lógico pelo pouco tempo que há a estrutura organizada. O custo das atletas e a manutenção não é acompanhado pela receita. Mesmo se o Grêmio for campeão, a premiação em dinheiro não cobre todo o ano do futebol feminino. É uma briga que os clubes têm para tornar a modalidade sustentável — analisa o diretor executivo do futebol feminino do Grêmio, Álvaro Prange.
A própria CBF é quem realiza a transmissão dos jogos do Brasileirão Feminino, pelo site da entidade, além do SporTV, que começou a cobrir uma partida por semana em 2021. O aumento da visibilidade é ponto chave para um futuro aumento de arrecadação para as equipes através da televisão.
— Na medida em que existe uma maior exposição da marca, as possibilidades de negócios aumentam. Temos expectativa de trazer novas receitas a partir deste trabalho — explica o CEO do Inter, Giovane Zanardo.
Os patrocínios de cada clube abrangem as duas modalidades. Além deles, os departamentos de marketing também buscam parcerias pontuais para os times femininos. Em relação à venda e compra de jogadoras, não há receita ou expectativa de lucro com negociações. O que acontece, na grande maioria das equipes brasileiras, é que atletas assinam contratos com duração de um ano para não depender do clube ao final da temporada. Assim, os salários são os únicos custos para o clube contratar uma jogadora, porém este vínculo é instável.
— Algumas meninas que sobem da base têm assinado contratos maiores. Isso é um movimento que ainda se inicia, mas pode trazer melhorias a médio prazo — comemora Prange.
A categoria sub-18 das Gurias Gremistas foi criada este ano. Prange ressalta que a criação de uma categoria inteira demanda ampliação da estrutura física com hospedagem no CT, profissionais de comissão técnica e insumos como alimentação e materiais de treino. Tal investimento fez o orçamento do clube para o futebol feminino subir de R$ 3 milhões para R$ 5 milhões. O objetivo de manter elencos de mulheres jogadoras profissionais de futebol vai além das quatro linhas, de qualquer título ou lucro para o clube, destaca o dirigente:
— A maioria dos clubes já entenderam o que o futebol feminino representa. Muita luta, direitos que foram negados no passado, algo que parece simples mas que só 20 anos atrás ainda não podia. É uma categoria que serve muito pelo aspecto social, tanto quanto o de disputas e títulos
Do outro lado, o Inter precisou reduzir o investimento nas meninas. Assim como nos demais setores do clube, a contenção de gastos é a regra. Em 2020, R$ 4 milhões foram investidos, meio milhão a mais do que os R$ 3,5 milhões para 2021. A categoria de base colorada é mais consolidada que a do Grêmio. As Gurias Coloradas foram campeãs brasileiras sub-16 e finalistas com o sub-18 em 2020.
— Reduziu pois está passando pelo mesmo processo do futebol masculino de adaptação à nova realidade em que o clube se encontra — argumenta o CEO colorado.
Para comparação, os custos mensais em salários do plantel masculino de Grêmio e Inter estão próximos dos R$ 12 e 7 milhões, respectivamente.