Bastou a Seleção Brasileira empatar com o Panamá que houve uma enxurrada de reclamações e críticas ao trabalho de Tite e dos jogadores. Afinal, como o país pentacampeão do mundo não goleou o fraco time centro-americano? O nome disso é futebol.
Durante o Sala de Domingo deste 24 de março, o Cléber Grabauska e eu recebemos os convidados Leandro Machado (treinador) e Eduardo Pires (jornalista). Ambos reclamaram muito de que a Seleção não joga mais aquele futebol brasileiro de drible, vitória pessoal e malandragem.
Mas será mesmo que é assim? Será que o time de Tite não tem mais drible nem vitória pessoal? Será que essa Seleção está matando o futebol pentacampeão que brilhou com Pelé, Garrincha, Romário e Ronaldinho? Ou será que isso não é apenas uma insatisfação relacionada à nossa cultura de "resultadismo"?
Aqui no Esquemão, tentamos falar das questões de campo e decifrar os processos da forma mais acessível possível. Então, vamos analisar e comparar os seguintes fundamentos da Seleção nos jogos pré-Copa, durante a Copa e nos amistosos pós-Copa: dribles, passes para a área e ataques posicionais que viraram gols.
ESTAMOS DRIBLANDO MENOS?
A resposta é: não. Na média, o Brasil executa a mesma quantidade de dribles agora que nos jogos do período pré-Copa do Mundo. Durante o Mundial da Rússia, a Seleção aumentou consideravelmente a quantidade de dribles. Ou seja, quem acha que o Brasil driblou pouco na Copa está profundamente enganado.
O lado esquerdo do time, por onde geralmente passaram Marcelo e Neymar, é o setor em que a Seleção mais fez dribles. Falta aumentar a quantidade de vitórias pessoais pelo corredor central e, principalmente, dentro da área.
DIMINUIU A OFENSIVIDADE?
Novamente, a resposta é negativa. O Brasil está dando mais passes para dentro da área neste período pós-Copa que nos jogos das Eliminatórias, quando o Brasil vivia uma lua-de-mel com Tite e a Seleção. Durante a Copa, então, o Brasil quase duplicou o volume ofensivo em relação a si mesmo.
Então, antes de sair dizendo que a Seleção não está sendo tão ofensiva quanto antes, pense que talvez isso seja apenas uma impressão originada na insatisfação dos resultados ou na "humilhação" de não superar um time tecnicamente inferior.
JOGO POSICIONAL: EIS A QUESTÃO
Talvez, a questão que incomode muito o público no geral seja o fato de Tite tentar um jogo mais posicional, onde a cultura nacional é de fluidez dos atacantes. Historicamente, no Brasil, pensa-se que "tática" diz respeito apenas à parte defensiva, e que no ataque basta juntar os "craques" que eles resolvem.
Atualmente, o trabalho que Guardiola realiza no Manchester City (só pra citar um treinador adepto ao chamado "Jogo de Posição") é um exemplo de como se encontra fluidez e dinâmicas ofensivas com os atletas tendo posicionamentos mais fixos e disciplinados. E Tite está buscando isso na Seleção, mesmo que ele constantemente diga que "no último terço, o jogo é dos jogadores".
O Brasil tinha exemplos de ataque posicional da Seleção com alguns conceitos do jogo de posição: amplitude, profundidade e entrelinhas. Na vitória contra a Argentina, nas Eliminatórias, já se via pinceladas desse modelo sendo bem executadas pelos atletas.
Na Copa do Mundo, o segundo gol contra a Costa Rica foi outro exemplo de construção ofensiva dentro de um jogo de posição: a amplitude do lateral pela esquerda (Marcelo) com o extremo pela direita (Douglas Costa), o jogador entrelinhas (Paulinho) e a profundidade com Firmino.
No gol contra o Panamá, no sábado, repetiu-se o modelo para superar o mesmo 5-4-1 dos Ticos na Copa. O interno pela esquerda (Paquetá) e o lateral pela direita (Fagner), Arthur fazendo entrelinha, e Firmino novamente dando profundidade. A mudança de direção constante da bola, movendo as linhas do adversário, fez aparecer o espaço para a infiltração de Paquetá nas costas dos zagueiros e marcar seu primeiro gol pela Seleção.
ATAQUES POSICIONAIS EFICIENTES
Nos jogos pré-Copa, foram 20 gols a partir de ataques posicionais, uma média de 0,95 por jogo. Na Copa, foram cinco gols, dando a média de um por jogo. E agora, no pós-Copa, apenas três gols marcados assim, baixando a média para 0,42 por jogo.
E aqui, então, cabe sim uma crítica: Tite tem dificuldades em solidificar o jogo de posição durante essa nova construção da Seleção. No processo pré-Copa, ele se cercou de jogadores de sua confiança e os que estavam no Exterior, mais acostumados com essas ideias de futebol. Agora, o processo começou de novo, e o volume diminuiu consideravelmente.
Então, há uma impressão válida de o time jogar mal, porque aquilo que estava dando certo desde setembro de 2016, mesmo durante a Copa, não está acontecendo na mesma quantidade agora. Mas, certamente, com a seriedade e competência de Tite e sua comissão — e a qualidade dos jogadores brasileiros — a Seleção deve voltar a se encaixar novamente.
Dados e gráficos são da InStat, plataforma de dados de futebol.