Não é preciso conviver muito com o ambiente da Seleção Brasileira para ver que a ressaca da Copa do Mundo está demorando para passar e afeta até o mais sólido dos elementos do grupo, o treinador. Tite mantém sua coerência, cobra desempenho antes do resultado, reconhece alguns momentos ruins da equipe, mas parece estar supervalorizando outros que igualmente não são bons.
A diferença no jeito da Seleção jogar em relação a todo o período que antecedeu o Mundial da Rússia é gritante. Não se trata de esquema tático ou estratégia de jogo. O Brasil perdeu qualidade coletiva e individual por uma letargia de espírito. Faltam a alma e a atitude que se tornaram fundamentais para que, a partir do jogo contra o Equador, em 2016, na estreia da atual comissão técnica, o treinador se consolidasse como ídolo nacional, os atletas recuperassem um prestígio abalado e o torcedor voltasse a querer ver seu time, colocando-o novamente como esperança de título mundial. O invicto pós-Copa de 2018 está contrariando a busca de desempenho de Tite. Havia apenas resultados até o empate com o Panamá. Agora nem isso.
O Brasil de Tite, nas Eliminatórias para 2018, era capaz de enfrentar retrancas como a dos panamenhos, conseguia se recuperar e transformar em um espetáculo um jogo em que começava mal, mesmo que fosse contra Uruguai em Montevidéu ou a Argentina no Mineirão. Havia uma intensidade muito maior na recomposição, no avanço dos volantes, e, em alguns casos, a ausência de Neymar acabava nem sendo sentida, como na vitória fora de casa sobre a Venezuela. Ali, nitidamente, estava um bom desempenho como causa do resultado. Criar múltiplas chances de gol contra o Panamá não é desempenho, é obviedade para o Brasil. Não converter é problema para quando se enfrentar equipes acima do número 76 do ranking da Fifa. Tite sabe disso e tem consciência que tem que preparar uma reinvenção de seu time, quem sabe usando o exemplo dele próprio.