Em frente à Bombonera, existe uma loja que vende todo tipo de artigos relacionados ao Boca Juniors: de camisas oficiais a chaveiros e ímãs de geladeira. Na calçada, na porta de entrada, quatro bonecos em tamanho real de Maradona, Palermo, Riquelme e Tévez fazem a alegria dos turistas. Eles representam a história de conquistas do clube, que é o segundo maior vencedor da Libertadores, com seis taças. Porém, elas fazem parte do passado. Desde 2007, o time não alcança o troféu. Enquanto isso, neste mesmo período, o River Plate conquistou duas vezes. Para encerrar este jejum, começando com uma virada sobre o rival, os boquenses apelam para a mística. Primeiro, do estádio. Segundo, de um dos ídolos transformados em estátua: Carlitos Tévez, principal dúvida para o jogo desta terça-feira (22).
— É um jogador importante, que ganhou coisas importantes e fez muito pelo clube. Uma referência. Mesmo que não jogue os 90 minutos, será importante. Dará experiência para que o time consiga seu objetivo — diz Renato Casalino que, apesar de ser peruano, é torcedor fanático do Boca e, à distância, veste o azul e amarelo para acompanhar as partidas.
No que depender do próprio atleta, ele estará em campo. No final da semana, deu uma entrevista dizendo que já está "pensando em como furar a defesa do River". O problema é que, depois de passar um tempo no futebol chinês, Tévez não consegue ter sequência em seu retorno à Argentina. Nesta temporada, dos 12 jogos que realizou, começou nove vezes como reserva. No jogo de ida da semifinal, por exemplo, entrou no segundo tempo.
— Não está muito claro se ele vai jogar. Tem uma lesão na panturrilha esquerda e não treinou nos últimos dias. Se jogar, vai chegar em inferioridade. Está em um nível muito abaixo do que o conhecemos, mas sempre entrega um plus à equipe, porque se comporta como um torcedor dentro de campo. Às vezes, isso pode fazer a diferença em algumas situações do jogo — analisa Sergio Maffei, editor do Diário Olé.
Nascido em um bairro muito pobre da região metropolitana de Buenos Aires, conhecido como Fuerte Apache, Carlitos chegou ao clube com apenas 14 anos. Subiu para os profissionais em 2001 e, aos poucos, foi virando protagonista. Quem viu seu surgimento de perto foi Iarley, ex-jogador do Inter, que dividiu vestiário com ele entre 2003 e 2004.
— Na época, o Carlos Bianchi (então treinador da equipe) ofereceu a camisa 10 para ele, mas ele preferiu jogar com a 9. Então, ela (a camisa 10) ficou comigo. Mas hoje, ele está mais experiente, então será tranquilo. No Mundial (em 2003, contra o Milan), ele começou no banco e, na prorrogação, entrou no lugar do Schelotto, a gente fez uma tabelinha e quase que ele fez o gol do título — comenta o atacante, que vestiu a famosa camisa de Maradona e que hoje trabalha na base colorada.
Depois de rodar o mundo, passando por Corinthians, Manchester United, Manchester City e Juventus, o atacante resolveu voltar para o clube que o revelou e pelo qual torce. Poderia ter ficado mais tempo na Europa, afinal, acabara de disputar a final da Liga dos Campeões. Por isso, é colocado lado a lado com os grandes do clube. Atualmente, tem sido recuado para jogar atrás do centroavante.
— Acho que é o ideal, com a idade que ele está. O Boca joga com muita ligação direta, então é melhor para ele jogar pelo meio, para colocar a bola no chão e dar mais qualidade. Se o jogador está em decadência, a tendência é não obter resultado. Mas se o jogador ainda está em uma boa condição, conseguindo jogar como eu no Goiás ou o Sobis agora no Inter, você consegue o resultado. Mas o mais importante para ele é saber a hora de parar, para não manchar a passagem dele — analisa Iarley.
Eis o dilema do técnico Gustavo Alfaro: ouvir a arquibancada e escalar Tévez como titular, mas correr o risco de ter no gramado apenas um resquício da época vitoriosa, ou deixá-lo no banco e perder a sua representatividade. A provável formação inicial do Boca tem: Andrada; Buffarini, Lisandro López, Izquierdoz e Más; Marcone, Almendra, Salvio e Mac Allister; Tévez (Mauro Zárate) e Hurtado (Ábila ou Soldano).
