
Pela terceira vez na história, há esperança de um clássico continental. Pela terceira vez em 12 anos, Grêmio e Inter estão classificados para a mesma edição da Libertadores. Nas duas edições anteriores, em 2007 e em 2011, aquele que seria o "Gre-Nal do Milênio" foi adiado.
Em 2007, o Inter campeão do mundo recebeu uma dura lição ao acreditar que conseguiria se impor em campo somente exibindo o escudo de dono do planeta. Caiu na primeira fase em uma chave com Vélez Sarsfield, Nacional-URU e Emelec. O Inter cancelou o Gre-Nal cedo demais. Um time desmobilizado perderia em seguida o técnico Abel Braga e o atacante Alexandre Pato. Naquela temporada, o Inter parecia ter cumprido o dever para o resto da vida. Tanto é assim que a solitária conquista foi a Recopa Sul-Americana, diante dos mexicanos do Pachuca. Se o Inter tivesse avançado na Libertadores, cairia no chaveamento com o Boca Juniors, o que geraria um Gre-Nal somente na final do torneio.
— Na época, não chegamos a projetar Gre-Nal porque ainda estávamos anestesiados pelo Mundial — conta o lateral-esquerdo do Inter no Mundial e na Libertadores de 2007, Rubens Cardoso. —A torcida também ainda estava vivendo a ressaca do Mundial. Foi algo inconsciente, mas perdemos o foco. Fizemos um Gauchão e uma Libertadores abaixo da média porque simplesmente não conseguíamos reagir em campo. Tentamos o tempo todo, mas o time não decolou —acrescenta.
Em 2007, o Grêmio de Mano Menezes viveu uma situação semelhante à atual do Inter. Ao final de 2005, havia se livrado da Série B — mas como campeão. No ano seguinte, ficou em terceiro no Campeonato Brasileiro — atrás do campeão São Paulo e do vice, Inter. Com um time brigador, foi surpreendendo e avançando no torneio, até chegar à final, onde encontrou um intransponível Boca Juniors, de Riquelme, Palácio e Palermo, e que goleou na Bombonera, por 3 a 0, e fez outros 2 a 0 no Olímpico.
— Quando a Libertadores daquele ano começou, todos nós, do Grêmio, pensávamos em um Gre-Nal —confessa o ex-lateral-direito Patrício, atual auxiliar técnico do Novo Hamburgo, explicando que o clássico criaria a possibilidade de confirmar um feito obtido no ano anterior. —Fomos campeões gaúchos (em 2006) dentro do Beira-Rio contra o time que viria a ser campeão mundial.
Já em 2011, a dupla deixou o torneio de mãos dadas, com menos de duas horas diferença. O toque dramático, a crueldade do destino é que, se Inter e Grêmio passassem por Peñarol e por Universidad Católica, o mata-mata das quartas de final seria o "Gre-Nal do Milênio".
O Inter de Paulo Roberto Falcão — que já havia substituído a Celso Roth, em meio à primeira fase — caiu antes, em casa, para o Peñarol de Diego Aguirre. No jogo de ida, um promissor 1 a 1, em Montevidéu. No Beira-Rio, Oscar colocou o Inter na frente logo a um minuto de jogo. Ou seja: a vaga estava garantida. Mas os uruguaios viraram e eliminaram o Inter. A queda pesou. Quarenta dias depois da eliminação na Libertadores, mais alguns tropeços no Brasileirão, Falcão foi demitido.
O Grêmio de Renato Portaluppi foi eliminado do torneio naquele mesmo 4 de maio. Em San Carlos de Apoquindo — onde retornará agora —, perdeu por 1 a 0 para a Universidad Católica. Já havia perdido no Olímpico por 2 a 1, com dois gols do carrasco Lucas Pratto. Renato não teve vida longa após a eliminação. O treinador, que já havia perdido o Gauchão para o Inter, nas cobranças de pênaltis, no Olímpico, pediu demissão em 30 de junho, após um 2 a 2 com o Avaí, pelo Brasileirão.
Nas quartas de final, o Peñarol venceu a primeira partida contra La Católica em casa por 2 a 1. No jogo de San Carlos de Apoquindo, os chilenos ganharam por somente 2 a 1. Insuficiente para passar. O Peñarol de Aguirre foi a grande zebra do torneio, chegando à final contra o Santos de Neymar e de Muricy Ramalho, e perdendo por 2 a 1, no Pacaembu, depois de um 0 0 no Estádio Centenário.
Ex-dupla Gre-Nal, Rubens Cardoso vê um possível "clássico do Milênio" agora bem mais viável:
— O Gre-Nal já é um campeonato à parte. Todos sabem disto, do vestiário à arquibancada. Mas, em uma fase decisiva da Libertadores, que já é um campeonato diferente, com arbitragem diferente, clima diferente, seria um jogo de Copa do Mundo. Consigo imaginar Porto Alegre parada por duas semanas, com as pessoas só falando deste jogo. É uma partida para entrar para a história e para mudar a história de todo um elenco. Quem ganhar estará eternizado. Se acontecer o clássico, ele mexerá com todo o Brasil.
A turma de 2011 esteve bem mais perto do clássico. Bastava que a Dupla avançasse às quartas para que o Gre-Nal ganhasse as Américas.
— Era inevitável não se comentar sobre a possibilidade do clássico. Aquele seria o Gre-Nal do Século da minha geração, seria o Gre-Nal mais aguardado de todos os tempos. Seria algo histórico, infelizmente, não ocorreu. A chance do Gre-Nal não tirou a nossa concentração, não nos atrapalhou contra o Peñarol —recorda Bolívar, capitão do Inter naquela Libertadores.
Misto de lateral-esquerdo e armador, Lúcio era, em 2011, um dos jogadores de maior confiança do técnico do Grêmio, Renato Portaluppi. Lesionado, ele ficou fora da primeira partida das oitavas, contra a Universidad Católica. Optou por ver o jogo sentado nas arquibancadas do Olímpico.
—A torcida só pensava no Gre-Nal da próxima fase. Tinha certeza de que iríamos ganhar. E aquele clima tomou conta do time dentro de campo. Foi nossa grande falha na competição. Foi um desmerecimento ao adversário — conclui Lúcio, que, aos 39 anos, mantém o mesmo biotipo e disputará a segunda divisão paranaense pelo Batel. — Na cidade toda, só se falava em Gre-Nal. Foi nosso grande erro. Pensamos lá na frente sem ter feito a principal tarefa, que era derrotar os chilenos.
Em 2019, porém, tudo pode ser diferente. O Grêmio surge favorito no Grupo H, com Rosario Central, Libertad e, de novo, a Universidad Católica, enquanto que o Inter está não Grupo A, com o atual campeão da Libertadores, o River Plate, além do Alianza Lima e do surpreendente Palestino. Caso um dos dois vença a sua chave e o outro entre na segunda colocação, os dois irão para o sorteio das oitavas de final na Conmebol em potes diferentes — ao contrário de anos anteriores, que o chaveamento já era conhecido após a fase de grupos. E aí, há 12,5% de chances de ocorrer um Gre-Nal já nessa fase da torneio.
Dois sonhos de Gre-Nais em Libertadores já foram cancelados. O destino da Libertadores 2019 pode, enfim, torná-lo real.