Em um sábado de calor intenso, abafado, daqueles que vez e outra castigam os gaúchos entre dezembro e março, o Rio Grande do Sul foi dormir para acordar diferente. Naquele 16 de dezembro, a metade vermelha colou a cabeça no travesseiro longe da certeza de que mais uma taça - a mais importante delas - poderia parar na sala de troféus do Beira-Rio. Muitos nem dormiram. Tantos passaram a noite em claro. Outros, de fato, mal conseguiram dormir. A palavra da hora era "ansiedade". Era a véspera da decisão do Mundial de Clubes de 2006, que mudaria para sempre a história do Inter e colocaria o clube na lista dos donos do planeta bola.
No domingo que seguiu abafado, o Rio Grande do Sul acordou para não mais dormir. Às 8h20min do dia 17 de dezembro, há cinco anos, Inter e Barcelona davam o toque inicial que terminaria em uma comemoração com contagem apenas progressiva, com um sonho realizado, com uma oportunidade não desperdiçada, concretizada em uma jogada de Iarley, que, em um contra-ataque preciso, assistiu Adriano Gabiru. Reserva, contestado, isolado, perto da marca do pênalti, Gabiru sentenciou a derrocada de Víctor Valdés com um chute quase despretensioso, singelo, simples, franco. Objetivo. E a bola morreu no fundo da rede, praticamente no meio do gol, aniquilando um rico, poderoso e milionário Barcelona.
Eram 36 minutos do segundo tempo quando Índio buscou uma bola quase na linha de fundo, lado direito da defesa. Sem alternativa, puxou para o meio e bateu, de perna esquerda. Pesada e sem direção, a esfera encontrou a cabeça justamente de Gabiru, que desviou. Luís Adriano raspou. Iarley dominou e arrancou. Entortou Puyol com uma janelinha capaz de desnortear qualquer marcador e partiu. Com Luís Adriano à direita, passou para Gabiru, à esquerda. Era o gol do título.
Durante toda a decisão, o Barcelona de Ronaldinho, Xavi, Iniesta, Zambrotta, Thiago Motta, Deco e Giuly tentou de todas as formas furar o bloqueio proposto pelo então técnico Abel Braga. Sem sucesso. A marcação colorada e as defesas de Clemer garantiam pelo menos o zero a zero. Com astúcia, o Inter também atacou, sem tanta força. Parecia guardar energia exclusivamente para anular as tentativas adversárias.
E o rumo da história mudou a partir dos 30 minutos da etapa final. Com cãibras, Fernandão, o capitão do time, desabou. O motivo era óbvio: o esforço para conter os avanços de Motta no meio de campo. No lado oposto do gramado, Índio havia se chocado com Edinho e também recuperava-se no chão, com o nariz ensanguentado, sendo atendido emergencialmente fora de campo. O Inter ficou com nove. E resistiu. Índio voltou. E Fernandão deu lugar a Gabiru.
Yokohama, Japão, 22h de 17 de dezembro de 2006, e o fim de um dia com um novo campeão. Rio Grande do Sul, Brasil, 10h: um despertar sem hora para adormecer.
Glória máxima
Há cinco anos, Inter vencia o Barcelona e se tornava campeão Mundial de Clubes
Em 17 de dezembro de 2006, vitória por 1 a 0 consolidou o maior título da história colorada
GZH faz parte do The Trust Project