Uma das maiores armas do Inter para enfrentar o Caxias às 18h deste domingo (26) é, de certa forma, metafísica. O gramado do Beira-Rio tem o mesmo tamanho de praticamente todos os demais do Brasil (o Centenário incluído). A grama é parelha, um tapete, como tantos outros. No jogo tem um juiz, 11 adversários e dezenas de câmeras. Mas por alguma razão, o fator local é uma diferença. E no caso colorado, a grande diferença. Já se vão 21 jogos sem perder. E se ampliar esse dado, no mínimo garantirá pênaltis na semifinal do Gauchão. Qualquer vitória leva o time à decisão. Vale o mesmo para a equipe da Serra.
Desde aquela maluca derrota para o Botafogo pelo Brasileirão (o Inter saiu na frente, permitiu o empate, no penúltimo lance fez um gol anulado por impedimento e levou a virada no último), nunca mais saiu derrotado do Beira-Rio. Até mesmo a frustração contra o Melgar, na Copa Sul-Americana, terminou empatada. De junho do ano passado até domingo, foram 21 jogos no Beira-Rio e 16 vitórias coloradas.
O Inter, como um todo, tenta criar o ambiente mais favorável possível. Na quinta-feira, quando foi comemorada a festa de aniversário do clube, Mano Menezes, de cima do palco, pegou o microfone e pediu, entusiasmado:
— Um clube do tamanho do Inter vive ciclos, e está na hora de começar um novo. Estamos assumindo aqui este compromisso. Daremos tudo que estiver ao nosso alcance para buscar o título. No domingo, queremos todos aqui, juntos, para buscar a vaga à final. Vocês nos fazem ficar mais fortes.
Essa situação toda remete a 1997, quando o clube vivia uma situação bem parecida. O último título estadual havia sido em 1994, e o time, em campo, penava para avançar. Na mesma semifinal, teve um revés no jogo de ida: no Antonio David Farina, perdeu para o Veranópolis por 2 a 1. Teria de vencer no tempo normal para levar à prorrogação. A partida seria no domingo, mas a chuva que caiu em Porto Alegre deixou o Beira-Rio inundado. A saída foi transferir o confronto para dali a 24 horas.
A direção abriu os portões, não houve cobrança de ingressos e, em plena tarde de segunda-feira, mais de 50 mil colorados lotaram as arquibancadas. As notícias da época dão conta de uma greve nas escolas, o que pode ter colaborado para ter tanta gente no estádio. Empolgados, os torcedores viram um começo arrasador da equipe e 3 a 0 em 21 minutos. Na prorrogação, mais 2 a 0 e vaga para a decisão, contra o Grêmio.
Na arquibancada daquele Beira-Rio estava Paulo Rogerio Schimitez Welter, hoje com 55 anos. Ele foi um dos entrevistados pela reportagem de Zero Hora que contou histórias daqueles milhares de torcedores. Na época com 29 anos, ele estava desempregado e levou a mulher, Letícia, e os filhos Luís Gustavo e William para torcer pelo Inter. De lá para cá, saiu de Sapucaia, onde morava, e se mudou para o Litoral Norte. A família cresceu: o casal ainda teve uma filha, Natália, e chegaram dois netos.
— Como saí da Região Metropolitana, não consigo mais ir com tanta frequência. Sigo colorado fanático, claro, mas vejo mais pela TV. Espero que este domingo seja como aquela segunda, com uma grande atuação. Estou confiante — disse Welter.
O ex-goleiro André, um dos símbolos daquela geração, recorda:
— O jogo teve sinergia entre time e torcida. Teve apoio o tempo inteiro. E aquele início ajudou muito também. Vejo aquele jogo como um começo do encaixe que tivemos no resto do ano (o Inter foi campeão gaúcho e terminou o Brasileirão em terceiro, em uma bela campanha).
Mais uma vez, o Beira-Rio é o aliado. Como em 1997, a esperança é de que um reencontro com a torcida embale o time para retomar o Estado. Mas, para isso, precisa superar o Caxias. Um dos cinco adversários que estiveram na casa colorada e não saíram derrotados. É um domingo com cara de decisão em Porto Alegre.
Os números da série invicta no Beira-Rio
- 21 jogos
- 16 vitórias
- 5 empates
- 51 gols pró
- 12 gols contra
No Beira-Rio em 2023
- 21/1 - Inter 2x2 Juventude
- 28/1 - Inter 4x0 São Luiz
- 2/2 - Inter 3x0 Ypiranga
- 8/2 - Inter 2x2 Caxias
- 16/2 - Inter 2x0 São José
- 11/3 - Inter 4x1 Esportivo