O Inter adota cautela na negociação para compra em definitivo dos direitos do zagueiro Vitão, uma das prioridades para a próxima temporada. Para renovar com o defensor, destaque da equipe no Brasileirão, o clube precisará contornar três obstáculos: a dificuldade financeira, a concorrência com o Leste Europeu e a insatisfação do Shakhtar-UCR, detentor do vínculo do atleta. Por isso, nos bastidores, os dirigentes colorados acreditam que a paciência será importante para concretizar a operação.
Em tese, o Inter não precisa ter pressa. Como o jogador está emprestado até junho de 2023, o Colorado tem a garantia de que contará com o defensor pelo menos no primeiro semestre do próximo ano. Contudo, a ideia é chegar a um acordo com os ucranianos o quanto antes.
— O Vitão tem contrato conosco até junho do ano que vem, temos esta garantia. Nesse prazo, trabalhamos para viabilizar a permanência do Vitão por mais tempo. Ele tem uma identidade muito grande com o clube, mas é uma negociação complexa. Ainda precisamos trilhar um caminho para ter sucesso na negociação. Mas é uma aquisição que precisa ser feita — destaca o presidente Alessandro Barcellos.
A principal dificuldade é financeira. Mesmo em uma hipótese otimista, o Inter precisará desembolsar uma quantia significativa, já que Vitão está valorizado no mercado e tem alto potencial de revenda, além da perspectiva de chegar à Seleção Brasileira. Como os cofres colorados estão afetados pela crise, a direção terá de ter criatividade para arrumar o dinheiro necessário.
O segundo obstáculo importante é a concorrência com o futebol europeu. Neste ano, o PAOK, da Grécia, apresentou uma boa proposta ao Shakhtar, e a venda só não ocorreu porque Vitão já estava vinculado ao Inter, amparado em uma normativa da Fifa. Além disso, um clube de Portugal chegou a fazer uma sondagem pelo zagueiro. Como não há opção de compra estipulada em contrato, os ucranianos não terão qualquer obrigação de dar preferência aos colorados a partir de junho de 2023.
Por fim, outro entrave é a insatisfação do Shakhtar com a forma como Vitão transferiu-se para o Inter. Irritado com a normativa da Fifa que autorizou a saída do defensor de graça, em virtude da guerra na Ucrânia, o clube do Leste Europeu notificou o jogador e entrou com uma ação no Tribunal Arbitral do Esporte (TAS, na sigla em francês), na Suíça, exigindo um ressarcimento da entidade máxima do futebol mundial.
Ainda que não seja o alvo das ações do Shakhtar, o Inter pode acabar sofrendo com as consequências da irritação ucraniana. Quando eclodiu a guerra, por exemplo, o clube de Donetsk negou-se a pagar as parcelas devidas aos colorados pela compra de Vinícius Tobias, alegando ter sofrido prejuízos com o conflito. Na ocasião, os gaúchos acabaram utilizando o valor como crédito para a contratação de Alan Patrick. Porém, no caso de Vitão, a dificuldade promete ser maior.
O grande trunfo colorado é o desejo do jogador, algo sempre importante em uma negociação. E o zagueiro não esconde que quer permanecer no Beira-Rio.
— Isso não é segredo para ninguém. A minha vontade é de permanecer. Me identifiquei muito desde que cheguei. Estou muito feliz aqui e a minha família também. Mas não depende só de mim. É complicado. Espero que tudo ocorra da melhor maneira possível. Não é algo tão simples. Se ficar, fico com muito orgulho. Se ocorrer o contrário, saio de cabeça erguida, tendo em mente que deixei o meu melhor — declarou Vitão, em entrevista recente à Rádio Gaúcha, reconhecendo a dificuldade da negociação.
Os colorados contam ainda com outro trunfo. Como não há previsão de término do conflito no Leste Europeu em breve, não está descartado que a Fifa divulgue no ano que vem uma nova normativa, liberando Vitão para atuar por mais seis meses ou até mais um ano no Inter. Nesta hipótese, o Shakhtar correria o risco de perder o jogador de graça. Diante disso, seria razoável para os ucranianos aceitarem uma oferta colorada agora, evitando um prejuízo maior no futuro.
A negociação, porém, está longe de ser fácil.