Em entrevista ao programa Hoje nos Esportes, da Rádio Gaúcha, a diretora do Departamento de Criminalística do Insituto-Geral de Perícias (IGP), Sheila Wendt, explicou porque o laudo de leitura labial, divulgado nesta quarta-feira (8), não conseguiu apresentar uma conclusão sobre a acusação de injúria racial apresentada por Edenilson.
No jogo entre Inter e Corinthians, realizado no dia 14 de maio, pelo Brasileirão, o volante colorado afirmou ter sido chamado de macaco pelo lateral-direito da equipe paulista, Rafael Ramos.
— Para estabelecer algum resultado, a gente usa uma metodologia científica, que precisa ser testada e aprovada. Em várias áreas da perícia, temos metodologias consagradas. Qualquer análise tem que ser possível de ser repetida por outro perito, que chegará ao mesmo resultado. Neste caso, recebemos o pedido de leitura labial e procuramos tanto nacionalmente como internacionalmente se existia alguma metodologia, e não há. Então, se posicionar no sentido de tecer qualquer consideração sobre uma leitura labial, atualmente, é exploratório, é uma opinião. Pode ser baseado em algum conhecimento que a pessoa tenha, como um surdo-mudo, mas não é prova científica — declarou a diretora do IGP, sobre o laudo solicitado pela Polícia Civil, baseado nas imagens da partida.
Diante do resultado divulgado pelo IGP, o Edenilson foi às redes sociais para protestar, classificando a luta contra o racismo como "desleal e inconclusiva". No entanto, segundo Sheila Wendt, sequer é possível afirmar que o laudo tenha sido "inconclusivo".
— Inconclusivo não é a palavra que deva ser usada. É diferente de quando a gente não consegue concluir. Neste caso, a perícia não chegou a ter nenhum resultado porque não há metodologia para chegar a um resultado.
Antes do parecer do Instituto-Geral de Perícias, outros especialistas em leitura labial já haviam se posicionado sobre o tema. Contratados pelo jogador corintiano, dois profissionais do Centro de Perícias Curitiba afirmaram que a palavra macaco não havia sido utilizada durante a discusssão. Porém, em entrevista à Rádio Gaúcha, o perito judicial Roberto Meza Niella disse exatamente o contrário.
Para a diretora do Departamento de Criminalística do IGP, a contradição de versões comprova a dificuldade em apresentar uma conclusão científica do caso.
— Não há essa metodologia em nível estadual ou particular. Estas pessoas (peritos) não estão utilizando metodologias científicas. Tanto que uma disse uma coisa e a outra disse outra. Se tivesse um método científico, as duas chegariam ao mesmo resultado ou em um percentual de credibilidade daquele resultado. Estes resultados podem ser derrubados durante o processo ou no tribunal, se for a júri, justamente por não estarem embasados em um procedimento que seja indiscutível. Eles usaram de algum conhecimento que tenham, mas que não há uma metodologia que seja consagrada ou aceita internacionalmente para este fim. Não é uma questão de o Estado não ter como realizar a perícia. Para o juiz dar a decisão sobre quem está certo neste caso, ele tem que estar com a certeza. Geralmente, quem desempata é a perícia criminal. Então, temos que ter a responsabilidade de dar um resultado que não possa ser contestado. Se não podemos dar o resultado, a gente se abstém — concluiu ela.
Além da investigação da Polícia Civil, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) também abriu um inquérito para apurar o ocorrido. Os dois jogadores já foram chamados para prestar depoimentos.