A semana começou com a dúvida sobre como o momento do Inter deveria ser tratado. Se por um lado o 1 a 1 com o Atlético-GO, no Beira-Rio, significou o quinto empate seguido no Brasileirão, o clube chegou ao 12º jogo de invencibilidade na temporada.
Todo esse debate, porém, ficou em segundo plano com o protesto dos jogadores na quarta-feira (1º) pelo atraso no pagamento de direitos de imagem que forçou o adiamento do treino marcado para aquela manhã. Em todo esse cenário, a partida contra o Bragantino neste domingo (5), às 19h, em Bragança Paulista, começará a responder o quanto esse imbróglio entre direção e elenco poderá afetar o desempenho colorado no campo.
Logo após a notícia sobre a greve cair com uma bomba no Beira-Rio, o pagamento de duas das três parcelas dos direitos de imagem atrasadas e a definição da realização da atividade no CT Parque Gigante, à tarde, surgiram como as primeiras manobras para tentar mostrar ao ambiente externo que a situação estava controlada. Antes do treino, o presidente Alessandro Barcellos se manifestou. Embora tenha admitido surpresa com a postura dos atletas, ele rechaçou o rótulo de greve e alegou que a decisão de postergar a realização do treinamento foi tomada em comum acordo.
— O que me surpreendeu foi que esse assunto estava sendo resolvido. Neste sentido, expliquei aos jogadores que isso poderia não ocorrer se tivéssemos falado antes. É olhar para frente, virar a página. Felizmente, resolvemos. Não foi a primeira e nem será a última que isso ocorre. Os clubes brasileiros enfrentam essa dificuldade — afirmou.
O capitão Taison negou ter sido o líder do protesto. Os atletas se manifestaram em nota garantindo que as decisões foram tomadas em unanimidade e também tentaram evitar o rótulo de grave.
"Ressaltamos que essa decisão foi tomada em comum acordo entre grupo de atletas e diretoria, não havendo boicote ou greve, mas, sim, acordo entre todos. Importante salientar também que, por parte do grupo de atletas, a atitude foi aceita de forma unânime, não havendo um líder. Pensamos de forma coletiva, assim como sempre fomos", disse trecho da manifestação.
Apesar dos discursos, os fatos causaram desconforto interno com a exposição de ruídos entre elenco e direção. Os dirigentes entenderam que não havia a necessidade de um protesto desse tamanho. Os jogadores ficaram na mira da torcida. Nas redes sociais, foram fortes as manifestações condenando a atitude dos atletas, mesmo com o atraso nos pagamentos.
O cenário coloca à prova o papel do diretor Paulo Autuori. Contratado para ser o elo na relação entre vestiário e diretoria, o profissional de larga experiência ganhou rapidamente respaldo junto ao elenco, mas enfrenta a primeira crise nas relações. O técnico Mano Menezes é outro que não participou diretamente das conversas entre atletas e dirigentes, mas também passa a ter como missão a remobilização do grupo para os objetivos no Brasileirão e na Sul-Americana.
Capitão do Inter com o técnico Muricy Ramalho nas temporadas de 2003 e 2004, o ex-zagueiro Sangaletti ressalta que, além do trabalho de técnico e do coordenador, o momento é dos líderes do elenco chamarem a responsabilidade para remobilizar os companheiros na busca por resultados.
— Deve ser feito um trabalho em conjunto. Primeiro com a direção passando a informação verdadeira daquilo que vai ser cumprido. Todos passam por problemas e precisa ser resolvido. Os líderes do elenco têm seu papel. Em 20 anos de futebol, nunca passei por uma situação de greve. Em momento assim (de salários atrasados) é preciso uma voz ativa dentro do grupo, de controlar com os líderes positivos e alinhar as coisas para a frente. Me parece que faltou comunicação em tudo isso. Os jogadores têm o direito de querer os salários em dia, mas a atitude tomada gera consequências. O Inter não ganha títulos há bastante tempo e a cobrança acaba sendo maior. Agora é preciso buscar as vitórias para acalmar. Tem jogos fora antes de voltar ao Beira-Rio e, somente bons resultados, irão amenizar o ambiente —observou.
Sangaletti chegou ao Inter no começo de 2003, logo após uma temporada onde o clube tinha passado por problemas financeiros e quase foi rebaixado no Brasileirão. Ele ressalta que a transparência entre dirigentes e jogadores é a única forma de evitar novos atritos.
— A situação foi bem conversada. Eu fui a primeira contração daquele projeto com a chegada do Muricy e até reduzi meu salário em relação ao que ganhava no Guarani. Tudo foi conversado antes de vir comigo e com os jogadores que chegaram depois. As coisas foram se cumprindo por parte da direção e tudo andou certo — relembrou.
Depois de uma crise que poderia ter sido evitada, o Inter tentará mostrar diante do Bragantino que os problemas da semana não vão afetar o desempenho do time no campo.
SEQUÊNCIA DE JUNHO E ALEMÃO EM DÚVIDA
A partida contra o Bragantino marca também o início da maratona de junho que terá o Inter após um mês de maio onde venceu apenas dois dos oito jogos disputados. Essas duas vitórias foram pela Sul-Americana e serviram para a classificação para as oitavas de final, mas os empates no Brasileirão deixam dúvida sobre qual será a briga colorada na competição.
O Inter chegou para a nona rodada em 12º lugar na classificação, com 11 pontos, a um do G-6 e apenas três acima da zona de rebaixamento. Ou seja, as seis rodadas de Brasileirão antes do primeiro jogo contra o Colo-Colo serão determinantes para o futuro colorado no certame nacional.
Esses seis jogos serão disputados em um período de 19 dias, o que torna a preparação um desafio e colocará à prova o elenco colorado.
Para este domingo, Mano Menezes tem dúvida no ataque. A ideia de escalar Alemão pode não se concretizar em razão da questão física. O centroavante não participou de forma completa do treinamento da sexta-feira (3), deixando dúvidas sobre sua presença na partida em Bragança Paulista. Se ele não puder atuar, a tendência é de que David entre no comando do ataque.
Adversário colorado, o Bragantino também passa por um momento de contestações. O clube paulista foi eliminado pelo Goiás da Copa do Brasil no meio da semana e vem também de uma queda precoce na Libertadores, competição em que foi lanterna do seu grupo. No Brasileirão, o Massa Bruta, apelido do time, está em 14º lugar, com 10 pontos conquistados.