Por vezes estar no lugar certo na hora certa encurta algumas distâncias e define caminhos. Cogitado para ser o técnico do Inter em 2022, Juan Pablo Vojvoda começou sua trajetória no futebol no momento certo. Suas primeiras influências vieram ainda quando iniciou a carreira como zagueiro no final dos anos 1990. Naquela época, ecoavam pelo Newell's Old Boys as ideias de Marcelo Bielsa, vice-campeão da América com o clube em 1992. Este é o ponto de partida para o trabalho do treinador do Fortaleza.
Depois de cinco temporadas, perambulou por equipes de menor expressão. Sua vida comandando equipes tem um script semelhante até aqui. Bielsista, Vojvoda deu os primeiros passos como técnico no próprio Newell´s. No começo como técnico das categorias de base e depois, como interino do time principal, em 2017.
A ascendência sobre a visão de futebol de Bielsa é admitida por Vojvoda, mas ele garante que seu olhar é mais amplo.
— É verdade que recebi influências de Bielsa e (Tata) Martino, por ter iniciado na mesma instituição na Argentina, o Newell's Old Boys, mas a partir daí comecei o meu caminho e tive influência de vários treinadores, de vários sistemas e de várias atitudes no futebol — explicou durante sua apresentação no Fortaleza, em maio.
Seu trabalho no clube que o lançou para o futebol não teve continuidade. Foram somente três partidas como interino — um empate e duas derrotas. Assim como na época de jogador, deixou Rosário para se aventurar com camisas de menor peso. A primeira foi a do Defensa y Justicia, em 2018, onde deu o pontapé inicial de um processo que culminou no título da Copa Sul-Americana de 2020, já sob a tutela de Hernán Crespo.
A passagem durou 24 partidas, com 14 vitórias, três empates e sete derrotas. Os 63,8% de aproveitamento não foram suficientes para fisgar os gigantes do país, mas garantiram uma oportunidade no Talleres, de maior expressão do que o Defensa y Justicia.
— É um técnico jovem e sério. Teve bom desempenho aqui na Argentina, mas não chamou muita atenção. Seus times jogam pelo chão, cuidam bem da bola como os times de Bielsa — observa Damian Villagra, repórter do canal TyC Sports.
Em Córdoba, seus resultados decaíram. Foram 37 partidas, com 14 vitórias, nove empates e 14 derrotas. Em 2019, foi a vez de tentar a sorte no Huracán. Dessa vez, ele estava no lugar errado, na hora errada. Em meio a uma crise política no clube, Vojvoda durou somente oito jogos, conquistando somente uma vitória.
Nas quatro temporadas no futebol argentino, implementou seu modelo de jogo quando lhe foi dado tempo. Recebeu elogios, mas não o suficiente para dar um salto maior na profissão.
— Na Argentina, o seu melhor trabalho foi no Defensa y Justicia, onde montou um time com jovens emprestados por clubes maiores. Montou um time muito competitivo e firmou a sua filosofia de jogo. Mas aqui se fala pouco dele. Por isso, surpreende o que ele tem feito no Fortaleza — avalia Ignacio Sasson, setorista do Huracán do diário Olé.
Se o desempenho não passou despercebido a todos. De propriedade de donos argentinos, o chileno Unión La Calera se interessou pelo treinador em 2020. Nos Cementeros, Vojvoda comandou uma campanha histórica. O segundo lugar no Campeonato Chileno é o maior resultado da história do clube.
No Fortaleza se repete um fenômeno visto no La Calera. A reta final da temporada teve resultados mais opacos do que no início.
— Fez um grande campeonato. Fez um bom trabalho. Era um time com ideias claras. O problema é que o bom trabalho não se refletiu nas últimas rodadas. O La Calera teve chances de ser líder, mas nunca conseguiu — explica Matis Lorca, jornalista da TNT Sports chilena.
Nas próximas semanas saberemos, vindo ou não para o Beira-Rio, se saberá se o Inter é o lugar certo na hora certa para Vojvoda.