Caso Juan Pablo Vojvoda esteja no comando do Inter em 2002, o torcedor colorado pode se preparar para esbarrar com ele pelas ruas de Porto Alegre ou pelos shoppings da cidade. Essa humildade de ser gente como a gente é uma das facetas do técnico argentino, cotado pela direção colorada para assumir o time na próxima temporada, caso o trabalho de Diego Aguirre não tenha continuidade.
Responsável por levar o Fortaleza a uma competição internacional no ano que vem – o clube luta para ir à Libertadores, mas está garantido na Sul-Americana –, o treinador terá o seu contrato renovado automaticamente até o final de 2022. Mas nada que impeça os colorados de imaginar como seria o time com Vojvoda. O torcedor pode ter certeza que verá em campo uma equipe intensa, um reflexo de sua dedicação fora de campo. A marcação pressão e um futebol vertical são as principais estruturas de suas equipes.
Desde maio no clube cearense, Vojvoda fez algumas mexidas incomuns para o futebol brasileiro. Adotou um sistema com três zagueiros, deslocando o lateral Tinga para jogar no trio defensivo. Os alas são responsáveis por dar amplitude e os atacantes jogam por dentro. Porém, não se agarra ao 3-5-2. Em suas passagens como técnico no futebol argentino (Defensa y Justicia, Talleres e Huracán) e chileno (Unión La Calera) jogou com quatro defensores.
— Ele vai muito de acordo com as peças que tem. Os times dele são verticais. Mesmo que possa ter mais posse de bola que o adversário, ele busca o ataque muito rápido. É encontrar o espaço e atacar — explica Gabriel Corrêa, analista tático do portal Footure.
A escolha pelo esquema com três zagueiros baseou-se em uma longa observação. Enquanto negociava com a direção do Fortaleza, o argentino solicitava o envio de vídeos e estatísticas sobre os jogadores do elenco. A obsessão pelo trabalho é outra marca da personalidade dele.
Quase sete meses após colocar os pés na capital cearense, Vojvoda mora no Centro de Excelência. Trouxe consigo dois auxiliares e um preparador físico. O trio se alojou em regiões mais nobres da cidade, enquanto ele optou por não se mudar. Para dar mais conforto ao técnico, a diretoria realizou reformas. Caso contrário, o alvo colorado ainda estaria hospedado no alojamento para jogadores.
— Ele está sempre disposto a conhecer mais do Fortaleza. Conversa com os diretores sobre a história do clube. Conversou com ídolos, como o Clodoaldo, para compreender melhor o Fortaleza — relata Alexandre Mota, repórter do Diário do Nordeste.
Morando na sede do clube, Vojvoda não precisa de carro. Faz seus deslocamentos pela cidade a pé, o que provoca situações inusitadas. Certo dia, após ir passear no shopping, ficou preso do lado de fora do CT, já que não havia nenhum porteiro no local naquele momento.
Ideias e objetivos
A relação com a direção se baseia na troca de ideias. Exigências? Nenhuma. Sua postura é o sonho de qualquer diretor. Não pediu a contratação de nenhum jogador desde que chegou. Trabalhou com aquilo que lhe é oferecido. E, assim, fez o Fortaleza alcançar a melhor campanha no Brasileirão de sua história.
Ao assinar contrato, traçou objetivos para desenvolver o seu trabalho:
- Elevar o nível do elenco
- Conseguir uma ideia de jogo com a qual possa identificar o Fortaleza
- Promover maior uso da base
- Comprometer os atletas ao treinamento de maior intensidade
- Inserir a filosofia de que todos devem preferir ganhar jogando bem do que ganhar jogando mal
- Inserir a filosofia de que o êxito no futebol é somente buscar a vitória
Com a temporada a três jogos do fim, tudo indica que cada uma das metas foi atingida. Para não dizer que não fez nenhum pedido, o argentino solicitou que o clube investisse em um software de análise de desempenho. A busca por dados é uma de suas fixações.
Mesmo que desperte interesse de outros clubes, Vojvoda trabalha para a próxima temporada junto com os dirigentes cearenses. O lateral Anthony Landazuri, do Independiente del Valle, está contratado. O meia-atacante Alan Franco, do Atlético-MG, foi indicado para 2023.
Também está acordada uma viagem com integrantes da comissão técnica e do corpo diretivo para Europa depois do término do Brasileirão. Serão visitados clubes da Espanha, Inglaterra e França. Ao conhecer as instalações de Elche, Getafe e Bradford, o Fortaleza quer adquirir conhecimento do que foi feito por equipes de pequeno porte que se destacam nacionalmente em seus país. As passagens por Arsenal e Lyon servirão para ver como os dois clubes estão se reestruturando.
É essa usina de ideias com força de trabalho inesgotável que o Inter pode ter como técnico em 2022.