Há exatos 10 anos, em 24 de agosto de 2011, o Inter conquistava seu último grande título, a Recopa Sul-Americana. Depois de perder por 2 a 1 a partida de ida, na Argentina, para o Independiente, o time colorado precisava de uma vitória por dois gols de diferença para ser campeão no tempo normal. E, no Beira-Rio, com dois gols de Leandro Damião e um de Kleber, a equipe gaúcha fez 3 a 1 no "Rei de Copas" e ficou com a taça.
— Fizemos um grande jogo. A festa que o torcedor colorado fez foi uma coisa impressionante, desde a nossa chegada ao Beira-Rio, a rua de fogo. Tivemos uma partida muito equilibrada, difícil de se jogar, mas atuamos com autoridade, nos impusemos, mostramos desde o início que queríamos o resultado. A determinação dos jogadores foi fundamental para que fizéssemos não só uma boa apresentação, mas acima de tudo um grande resultado, conquistando aquela competição — recorda o técnico Dorival Júnior, que foi contratado em meio aos dois jogos da Recopa para comandar o Inter, após a saída de Paulo Roberto Falcão.
Realmente, a festa da torcida colorada antes do jogo chamou atenção. Quando a delegação chegou ao estádio, centenas de torcedores acenderam sinalizadores vermelhos no caminho do ônibus até o estacionamento. As músicas não cessavam por um minuto e serviram de combustível para o time buscar a virada diante de um adversário que tinha como principal destaque o zagueiro Gabriel Milito, ex-Barcelona, hoje técnico do Argentinos Juniors.
Dentro de campo, apesar de um equilíbrio inicial da partida, começou a aparecer a estrela do centroavante Leandro Damião, à época com 22 anos. Ele deu balãozinho, fez embaixadinhas de cabeça e marcou os dois primeiros gols do jogo, que davam o título ao Inter.
O Independiente, no entanto, não desistiu. No início do segundo tempo, Maxi Velázquez aproveitou uma bobeira da defesa colorada e descontou. O 2 a 1 levaria a decisão para a prorrogação. A equipe ainda teve a baixa de D'Alessandro, que sentiu e precisou ser substituído por Andrezinho. E quando o jogo parecia mesmo que iria para o tempo extra, apareceu a qualidade dos reservas e a categoria de um dos melhores laterais-esquerdo que já passaram pelo Beira-Rio.
Aos 36 minutos, Andrezinho lançou Jô, que também havia entrado em campo na vaga de Dellatorre, na cara do gol. O centroavante deu um toque para a esquerda e levou a trombada do goleiro Navarro. O árbitro uruguaio Jorge Larrionda marcou o pênalti. Na cobrança, Kleber bateu rasteiro, no canto direito. Foi o gol que deu o último grande título ao Inter.
— Lembro que estava todo mundo esperando por esse jogo, eles tinham o Milito, um cara muito conhecido. Mas estávamos em um momento muito bom. O jogo lá foi muito difícil, mas o Damião vivia uma fase maravilhosa, tanto que ele arrebentou nos dois jogos. Foram jogos muito importantes para a minha carreira e um título importante para o clube também — destaca o ex-lateral Nei, que fez a jogada de um dos gols do centroavante.
O que ninguém imaginava é que seria o fim de uma Era vitoriosa no Inter, que teve ao menos uma taça internacional por ano entre 2006 e 2011. Foram duas Libertadores (2006 e 2010), um Mundial (2006), uma Copa Sul-Americana (2008), duas Recopas (2007 e 2011) e uma Copa Suruga (2009).
Apesar da sequência de seis títulos estaduais consecutivos, entre 2011 e 2016, faltavam as conquistas de expressão. Pior do que isso foi o rebaixamento à segunda divisão em 2016. Na avaliação de Leonardo Oliveira, colunista de GZH e comentarista da Rádio Gaúcha, dois fatores pesaram para a derrocada do Inter após os diversos títulos: a dificuldade do clube em encerrar o ciclo de alguns jogadores e o racha político que desestabilizou os bastidores colorados.
— O Inter tem dificuldade de encerrar ciclo de jogadores. Aqueles caras que ganharam, e ganharam muito, o clube teve dificuldade de se desligar deles na hora certa. Mas o principal fator foi que a harmonia política acabou se rompendo em 2010, em Abu Dhabi. Para mim, passa muito pela dissolução política do clube, porque se criaram rivalidades internas. É preciso que as relações políticas estejam harmonizadas. Historicamente, clubes brasileiros só ganham quando o ambiente interno está estabilizado — destaca.
Para que o clube volte a levantar uma taça, algo que não ocorre desde 2017, com a conquista da modesta Recopa Gaúcha, o ídolo colorado e capitão do time naquela conquista da Recopa Sul-Americana, em 2011, Bolívar entende que é importante o Inter pensar nas lideranças do grupo. Segundo ele, é fundamental ter no time atletas capazes de assumirem a responsabilidade dentro e fora de campo nos momentos de adversidade.
— Acho que uma das coisas que é difícil hoje, não só no Inter, mas em outro clubes também, é ter tantas lideranças como nós tínhamos no grupo, com jogadores experientes, consagrados, acostumados aos títulos. Eu era o capitão, mas tínhamos outros grandes jogadores que resolviam situações dentro e fora de campo. Acho que o Inter, com essa reformulação que fez nos últimos anos, precisa ter uma continuidade de equipe para voltar a ter esse protagonismo — avalia o ex-defensor colorado e hoje treinador de futebol.
Quem sabe assim, olhando para as glórias do passado, seja possível tirar lições para que o Inter volte à senda de vitórias. Os exemplos, entre eles o título da Recopa Sul-Americana de 2011, que completa 10 anos nesta terça-feira, estão aí. Olha com atenção para eles, quem quer.