Diego Aguirre é um dos nomes cotados para assumir o Inter para o restante da temporada de 2021. O uruguaio, que comandou o clube em 2015, quando foi campeão gaúcho e chegou às semifinais da Libertadores, está em Montevidéu e não trabalha desde que deixou o Al-Rayyan, do Catar, em dezembro. Recentemente, o profissional foi procurado pelo Corinthians, entretanto, não houve acerto entre as partes e os paulistas anunciaram Sylvinho como novo treinador.
Demitido após 48 jogos oficiais e com um aproveitamento de 60,4% (24 vitórias, 15 empates e 9 derrotas), Aguirre deixou o Inter em agosto de 2015, na 16ª rodada do Campeonato Brasileiro. Uma das alegações para a mudança do trabalho, além do histórico termo "fato novo", dito pelo então presidente Vitório Piffero às vésperas de um Gre-Nal, foi que a equipe tinha problemas de preparação física e não aguentava competir durante os 90 minutos.
O profissional responsável pelo trabalho na ocasião permanece ao lado de Diego Aguirre. O preparador Fernando Piñatares é um dos homens de confiança do uruguaio e fez parte da comissão técnica em todos os trabalhos de Aguirre no futebol brasileiro e no exterior. Em 2016, Diego Aguirre foi contratado pelo Atlético-MG. No clube de Belo Horizonte, trabalhou com Carlinhos Neves, então coordenador de futebol. O experiente preparador físico, com passagens por diversos clubes do futebol nacional e Seleção Brasileira, recordou como foi a experiência de trabalhar ao lado dos uruguaios em Minas Gerais.
— Eu só tenho a elogiar o trabalho do Aguirre e do Piñatares. Eu nunca tive problema nenhum com o trabalho deles. Muito pelo contrário. São atualizados, trabalhadores, com trabalhos dinâmicos e modernos. Os programas de treinamento e cronogramas sempre foram me passados antes e sempre muito efetivos — afirmou o profissional, que continuou:
— Estamos falando de 2016, quando a preparação já era avançada. Atualmente, está mais avançada ainda. Hoje você tem relatórios instantâneos. Na época do Piñatares, o time percorria as distâncias, dava os sprints que eram necessários e atingia as quilometragens projetadas. Foi um ótimo trabalho. Essa análise de queda de rendimento pela preparação física, geralmente é muito baseada no resultado.
Questionado sobre como a preparação física é avaliada no futebol brasileiro, Carlinhos explica que faltam especialistas no assunto. Além disso, são muitos fatores a serem avaliados. Outro fator que dificulta a preparação de uma equipe é o calendário apertado enfrentado pelas equipes do futebol brasileiro.
— A preparação física de uma equipe é avaliada por muita gente que fala sem entender do assunto. Atualmente, o preparador não trabalha sozinho. São trabalhos conjuntos com a nutrição, fisiologia e fisioterapia. Quando o time ganha com gols marcados no último minuto, ninguém lembra da preparação física. A preparação é prevenção de lesão. Mas não tem como prevenir algo com esse calendário ruim que temos. Se não tiver elenco para rodar e preservar, as lesões vão acontecer — explica o preparador, que completa:
— Não se considera o imponderável do futebol. Cansei de ver meus times ganharem com um ou dois jogadores a menos. Fomos campeões da Libertadores em 2013 porque um adversário escorregou cara a cara com o Victor. Isso é preparação física? Ele caiu porque estava cansado? Não.
Carlinhos Neves também disse não se tratar de preconceito por parte dos brasileiros com profissionais do futebol de outros países. Mas admite que o choque de cultura, às vezes, pode significar algum impacto negativo por parte de dirigentes e imprensa no momento da avaliação de uma trabalho.
— Não acredito em preconceito. Não tem só um jeito certo de se fazer. Talvez, as inovações apresentadas por eles na época colidiram culturalmente com o pensamento do clube. Isso possa ter deixado muita gente surpresa e com a ideia de que o trabalho não estava sendo feito da melhor maneira. Eu trabalho com a bola desde o primeiro treinamento de pré-temporada há muito tempo. É preciso trabalhar com os jogadores dessa forma para que eles se preparem para o que vão enfrentar durante uma partida. Trabalhar as tomadas de decisão do jogador. Não é só correr e ter resistência — finalizou.
Atacante do Inter nos anos 80, Diego Aguirre tem o perfil que agrada o departamento de futebol colorado. Futebol propositivo e com pressão alta na saída de bola adversária. Desde que saiu do clube, o treinador passou por duas equipes no futebol brasileiro: Atlético-MG (2016) e São Paulo (2018). Além disso, trabalhou no futebol argentino e dos Emirados Árabes, além do futebol uruguaio, onde foi vice-campeão da América no comando do Peñarol.