A demissão de Diego Aguirre começou a ser definida na tarde de terça-feira, no Rio, em meio ao sorteio para as oitavas de final da Copa do Brasil. No prédio da CBF, na Barra da Tijuca, o presidente do Inter, Vitorio Piffero, e o vice de futebol, Carlos Pellegrini, debatiam os detalhes da saída do técnico uruguaio, contratado antes do Natal para comandar o Inter na Libertadores. Saiba detalhes das 48 horas que definiram a situação do treinador no Beira-Rio:
Ânimo após a eliminação
No entendimento dos dirigentes, Aguirre já não tinha condições de reanimar o time. A eliminação na semifinal da Libertadores para o Tigres não estava nos planos. E teria deixado o treinador abalado a ponto de a alta cúpula colorada não enxergar mais chances de reação no vestiário e temer por uma derrota no Gre-Nal deste domingo, na Arena - o que atingiria de vez um clube com muitos problemas extracampo. O auxiliar Odair Hellmann comandará o Inter no clássico 407.
Mano Menezes, a ficha 1
Com a negativa de Muricy Ramalho, que não quer assumir um clube por questões de saúde, Mano Menezes passa a ser o nome preferido.
- Nosso grupo poderia dar mais. Vamos tratar de buscar isso. Chegamos até a semifinal de uma Libertadores. No início do ano, eu disse que dificilmente teríamos um resultado importante nessa Libertadores porque não se faz um time de uma hora para outra. Agora resolvemos mudar um pouco o foco - justificou Piffero, em entrevista convocada ao final da manhã desta quinta-feira.
Em seguida, questionado sobre o sucessor de Aguirre, Piffero afirmou:
- Muricy será sempre o meu ficha 1, mas está inabilitado no momento, vamos analisar com calma. O mercado possui, em disponibilidade, alguns nomes importantes, que serão contatados a partir de agora. Não tem prazo para o anúncio.
A surpresa da demissão
Surpreendido com a possibilidade de demissão, Aguirre ainda comandou os trabalhos de quarta, começando a projetar a equipe para o clássico - sem D'Alessandro, que chegou ao CT com dores no quadril. A direção, contudo, tinha outros planos e começou a colocá-los em prática na manhã dessa quinta, inclusive com a liberação de jogadores. Jorge Henrique e Alan Ruschel, dois atletas que receberam diversas chances com o técnico uruguaio, foram para Vasco e Atlético-PR, respectivamente.
Além do desânimo de Aguirre, detectado internamente, o desgaste físico também pesou na decisão. A relação entre ele e Vitorio Piffero já não era das melhores. Sétima opção da direção para técnico, o uruguaio havia sido contratado pelo antigo vice de futebol Luiz Fernando Costa, falecido em janeiro, sob alguma desconfiança da presidência.
Preparo físico e robustez no meio-campo
A falta de condições dos jogadores para reagirem contra o Tigres, mesmo quando estavam a um gol da classificação à Libertadores, foi flagrante. Assim que Lisandro López descontou para 3 a 1, aos 43 minutos do segundo tempo, em vez de o Inter se atirar ao ataque, seguiu tocando bola, como se ainda restasse muito tempo de jogo. Internamente, o entendimento era de que estava na hora de mexer na preparação física. Mas Aguirre sempre defendeu o preparador uruguaio Fernando Pignatares e o revezamento de jogadores e formações, em meio ao Gauchão, à Libertadores e ao Brasileirão.
A formatação de time de Aguirre também pesou. Há o entendimento de que o Inter precisa ter um meio-campo mais marcador. O Tigres, que foi superior ao eliminar o Inter a partir de uma melhor mecânica de jogo no meio, foi presa fácil para o River Plate e acabou goleado na final da Libertadores. No clube, ficou o sentimento de que o tricampeonato da América foi jogado por alguma basculante do Beira-Rio. Segundo o zagueiro Juan, a demissão pegou a todos de surpresa no vestiário do Inter:
- É cultura do futebol brasileiro se trocar o treinador, não é o primeiro técnico a ser demitido no Brasileirão, ao contrário, é o 15º. A gente pensa que momentaneamente seja uma saída, mas em nível de futebol brasileiro é prejudicial. A mentalidade de demitir prejudica o andamento do trabalho. É difícil para um treinador passar a filosofia dele em poucos meses.
Pendências financeiras e vestiário em ebulição
Mas não passa somente pela questão anímica os atuais problemas do Inter. Há dificuldades na relação entre o vestiário e os gabinetes do clube, além de salários atrasados, o que leva alguns jogadores a desejar a saída do Beira-Rio. Nilmar foi o primeiro a deixar o Inter assim que recebeu uma boa oferta. O mundo árabe também pode seduzir D'Alessandro.
O Al Jazira, que anunciou o técnico Abel Braga e os jogadores Thiago Neves e Gervinho, chegou a demonstrar interesse no camisa 10 do Inter. Os endinheirados xeques começam a se voltar para D'Alessandro. EUA e o mercado chinês também seriam realidades para o capitão colorado. A pessoas próximas, o argentino teria dito que sairia do Inter apenas para os Emirados.
Além disso, Aránguiz já anunciou publicamente o desejo de ir embora. Informações dão conta de que o chileno somente atuou no México porque ouviu a promessa de ser liberado para o futebol europeu assim que a Libertadores se encerrasse para o Inter. O atraso nos vencimentos dos jogadores já ultrapassou a casa dos 40 dias. O que vem sendo pago é a parte dos salários que consta na carteira de trabalho, com o contrato de imagem sendo deixado para trás. O problema é que isso significa 50% do rendimento dos atletas. Nilmar e D'Alessandro seriam os maiores credores.
Era o sonho da Libertadores que dava paciência ao vestiário e que evitava cobranças mais contundentes à direção. O empréstimo bancário obtido pelo Inter, na casa dos R$ 50 milhões, também foi buscado para bancar os R$ 9,8 milhões da folha e suas parcelas não quitadas. Se o assunto financeiro era tratado de forma sutil e delicada, o zagueiro Juan tratou publicamente das pendências ao ser questionado ao final da tarde desta quinta:
- Neste momento quem está em aberto ou não é o que menos importa. O Inter nunca atrasou salário. É um momento delicado. A gente sabe que a direção vai quitar os atrasados.
O Inter se repete
Aguirre recebia R$ 295 mil. Os demais integrantes da comissão técnica, Enrique Carrera, Fernando Pignatares e Marcelo Sanchez, um total de R$ 155 mil. Diego Aguirre ainda ganhará pouco mais de R$ 1,5 milhão, entre salários atrasados e rescisão de contrato - que representa a metade do que o treinador teria a receber até o final do ano. Sem técnico, pressionado, e às portas da estreia na Copa do Brasil, a única competição que parece viável de ser conquistada pelo Inter na temporada, além do Gauchão, o clube deverá pagar mais pela nova comissão técnica.
Em 2010, a comissão técnica uruguaia, liderada por Jorge Fossati, foi demitida depois de classificar o Inter à semifinal da Libertadores. Assim como agora, o trabalho do preparador físico Alejandro Valenzuela foi muito contestado. Em 2012, o Inter também demitiu um técnico perto de um Gre-Nal - ainda que não horas antes do clássico, como agora. Com a direção temendo um boicote do vestiário a Fernandão, que não agradava aos líderes, o treinador foi retirado 12 dias antes do último Gre-Nal do Olímpico - que acabou em 0 a 0, com o Inter treinado pelo interino Osmar Loss. Dessa vez, porém, alguns líderes importantes, como D'Alessandro, estavam ao lado de Aguirre.
O Inter volta a se repetir. E busca uma solução para salvar o semestre, voltando a conquistar um grande título, algo ausente no Beira-Rio desde a Recopa Sul-Americana de 2011.
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